Prolongamento
"Disseram que me iam matar. Levei uma bofetada. Seguiram-se murros e pontapés"
2019-12-17 16:05:00
Argentino em declarações como testemunha no âmbito do julgamento do ataque a Alcochete

O futebolista Marcos Acuña relatou hoje as agressões que sofreu durante o ataque à academia de Alcochete, revelando que os agressores o amaçaram de morte e disseram que sabiam onde morava e onde era a escola dos filhos.

O jogador argentino, de 28 anos, que atua a médio e defesa-esquerdo no Sporting, foi ouvido na 14.ª sessão do julgamento da invasão à academia ‘leonina’, em 15 de maio de 2018, com 44 arguidos, incluindo o antigo presidente do clube Bruno de Carvalho, que decorre no Tribunal de Monsanto, em Lisboa.

“O William [Carvalho] tentou fechar a porta [do balneário], mas eles entraram. Perguntaram por mim e pelo Battaglia, dirigiram-se a nós e começaram a atacar-nos. Dirigiram-se a mim quatro a cinco pessoas. Primeiro, deram-me uma bofetada e depois murros e pontapés, enquanto diziam ‘não mereces essa camisola’. Tentaram tirar-me o equipamento, não conseguiram, e ameaçaram-me. Disseram que me iam matar, que sabiam onde é que eu vivia e onde é que os meus filhos iam à escola”, relatou Acuña.

Após o ataque, o internacional argentino, que tem dois filhos, telefonou para a família.

“A minha mulher estava com a minha enteada. A minha primeira reação foi ligar para a minha família, para fechar a porta e ligar o alarme”, descreveu.

O futebolista assumiu sentir “medo, mais pela mulher e pelos filhos”, revelando que, durante algum tempo, andava sempre a “olhar para trás, para ver se estava a ser seguido”.

“Em cada jogo que jogamos e não vencemos, penso que isto pode acontecer de novo”, declarou o internacional argentino.

Acuña contou que não reagiu às agressões, apenas que se tentou defender, acrescentado que, no momento em que “entraram 30 a 40 pessoas, com cara tapada”, estava todo o plantel no interior do vestiário, exceto o holandês Bas Dost, e fisioterapeutas do clube.

O jogador, que chegou ao Sporting em 2017, declarou ao coletivo de juízes, presidido por Sílvia Pires, que outros elementos abordaram o compatriota Battaglia, atingido com um garrafão de água, não visualizando mais agressões, pois “também estava a ser alvo do ataque”.

Os invasores mencionaram ainda os nomes de Rui Patrício e de William Carvalho.

“Só vi o William sofrer agressões. Mais do que um indivíduo a dar socos e bofetadas na cabeça”, afirmou Acuña, relatando que alguns dos invasores “estavam a cobrir [tapar] a porta para que ninguém saísse” do balneário.

Acuña disse não se recordar de muitas palavras proferidas pelos elementos, mas lembra-se de ouvir: “se não ganhássemos o próximo jogo no domingo [final da Taça de Portugal contra o Desportivo das Aves], não sabíamos o que é que nos ia acontecer.”

Após estas frases, disse que “largaram o fumo e saíram” todos ao mesmo tempo do balneário.

Após o ataque, o internacional argentino referiu ter visto feridos Bas Dost e o preparador físico Mário Monteiro, não tendo, durante a investigação, reconhecido algum dos agressores.

Depois do jogo com o Marítimo, já no Aeroporto do Funchal, a testemunha disse que se apercebeu de “um indivíduo que andava” à sua procura, mas que ele foi levado para o embarque.

Foi nesse contexto que ouviu a frase: “na academia, logo falamos”, proferida por Fernando Mendes, antigo líder da claque Juventude Leonina, que Acuña hoje chamou de Jorge Mendes.

Disse que viu depois Fernando Mendes à conversa no aeroporto com William Carvalho, Battaglia e Jorge Jesus.

O atleta esteve na reunião de 14 de maio de 2018, véspera do ataque, entre o plantel e o então presidente do clube Bruno de Carvalho, na qual estiveram presentes outros elementos do conselho de administração.

Nessa reunião “falou-se do que se tinha passado no jogo” com o Marítimo, no dia anterior, no qual o Sporting perdeu por 2-1 e ficou afastado da Liga dos Campeões.

No final da partida, relatou Marcus Acuña, o plantel dirigiu-se à zona onde estavam os adeptos do Sporting para os cumprimentar, mas só receberam “insultos”, razão pela qual o plantel virou costas e dirigiu-se para o balneário.

“Pedi-lhes apoio e ajuda e só ouviamos insultos. Não os insultei”, explicou.

Nessa reunião de 14 de maio, Bruno de Carvalho partilhou com Acuña que os adeptos lhe disseram que “sabiam” onde é que o internacional argentino vivia e que “iam à sua procura”.

“Respondi que queria falar com eles [adeptos] para esclarecer o que se tinha passado na Madeira”, explicou.

Na resposta, Bruno de Carvalho informou de que iria ele falar primeiro com os adeptos.