Prolongamento
Daniel Ramos e a humildade que conquistou o coração dos maritimistas
2017-09-18 20:45:00
Os resultados falam por si mas os sócios do Marítimo estão encantados com o lado humano de Daniel Ramos

Os sócios do Marítimo não têm qualquer dúvida quando questionados sobre quem é o grande responsável pelo melhor arranque de campeonato da história do clube insular. Depois de apenas um ano de trabalho à frente do clube madeirense, Daniel Ramos já conquistou o coração dos maritimistas, não só pelos resultados que têm sido brilhantes (qualificação europeia, recorde de invencibilidade em casa e melhor arranque de campeonato de sempre), como também pela humildade que apresenta e que tem servido de força unificadora entre os adeptos e a equipa de futebol.

Rita Nobre é sócia do Marítimo há 35 anos e aprendeu a amar o clube quando desde muito nova começou a ir ao antigo Estádio dos Barreiros pela mão do seu pai para ver os jogos do “maior das ilhas”. Já lá vão mais de 40 anos desde a primeira experiência e Rita, uma apaixonada pelos verde-rubros, não tem a mínima dúvida de que Daniel Ramos surgiu como a força agregadora que faltava ao Marítimo como explicou ao Bancada.

“Vou à bola há 40 anos, desde miúda, pela mão do meu pai que graças a Deus sempre me levou com ele, e não me lembro de ver nos fins dos jogos o que se tem visto nos últimos aqui no Estádio do Marítimo. A equipa toda – jogadores e treinadores – a dar a volta ao campo para agradecer aos adeptos. Nunca vi isto aqui. É ótimo ver esta união. E é um grande feito do Daniel Ramos”, explicou.

                                                       

Dinarte Andrade, mais conhecido como Kalma, é o fundador da claque Fanatics 13 nascida em 2013 e revelou ao Bancada o tipo de atitudes com que o treinador Daniel Ramos tem vindo a conquistar os corações dos adeptos maritimistas e não tem qualquer pejo em garantir que foi o ex-treinador do Santa Clara que veio mudar a forma como os adeptos se relacionavam com os jogadores. Para Kalma Andrade não há dúvidas de quem é o grande responsável pelo momento que atravessa o Marítimo.

“O nosso segredo é só um e chama-se mister Daniel Ramos. Um senhor que entrou na vida deste clube quando estávamos no fundo da tabela classificativa e nos levou ao acesso da Liga Europa. Um treinador que conseguiu conquistar os corações dos adeptos maritimistas com o seu trabalho e humildade. Hoje em dia é respeitado por todos. Agora até os jogadores mudaram a atitude em relação à empatia – que não existia - com os adeptos. O mister incutiu isso na equipa e a cada final dos jogos agradece o apoio dos adeptos com uma volta ao estádio em pleno relvado. Isso para um adepto é muito gratificante”, desabafou.

Quem também atesta essa humildade, presente na postura do atual treinador do Marítimo, é Fábio Cro, líder do núcleo lisboeta da claque Fanatics 13, que acompanha, junto com mais cerca de 20 sócios do Marítimo a viverem em Lisboa, a equipa nas deslocações ao continente e por mais do que uma ocasião teve a oportunidade de privar com Daniel Ramos. Situação só possível pela forma humilde a agradecida como o treinador vê o esforço destes adeptos em apoiar a equipa.

“O Daniel Ramos é um dos melhores treinadores que passaram pelo Marítimo. E não digo isto apenas pelos resultados. É também pela sua humildade e maneira de ser. Em muitos jogos cá no continente costuma vir ter connosco e ficar uns bons minutos a falar com os adeptos e a responder a todas as perguntas. Até parece um simples adepto do Marítimo. Excelente pessoa”, revelou o instrutor de condução radicado em Lisboa há seis anos.

Para estes sócios é difícil acompanhar o clube como gostariam dada as barreiras geográficas. Torna-se insuportável financeiramente acompanhar a equipa nos jogos fora, como tal, a presença de um núcleo como o do Fanatics 13 – Retângulo no continente, liderado pelo Fábio Cro, sócio número 6859, ganha uma importância acrescida na representação daquilo que é o apoio necessário a uma equipa de Primeira Liga.

                                      

A verdade é que não há treinador algum que consiga o que Daniel Ramos conseguiu desde que chegou ao Marítimo com base na humildade apenas. O treinador natural de Vila do Conde chegou à Madeira em setembro de 2016 depois de um desastroso início de campeonato para os insulares sob o comando técnico do brasileiro PC Gusmão e desde então nunca mais o Marítimo perdeu em casa para o campeonato. Acabou a Liga em sexto lugar com a consequente qualificação europeia garantida e começou a época 2017/18 como nunca antes um treinador maritimista havia conseguido. 15 pontos nas primeiras seis jornadas é um novo recorde para os madeirenses.

Para Stanik Pereira, sócio e antigo jogador do clube, ele que fez grande parte da formação no Marítimo chegando mesmo à equipa B, as capacidades de Daniel Ramos vão muito para lá da personalidade humilde e agregadora, o técnico é também muito perspicaz na forma como consegue tirar o maior proveito dos jogadores de que dispõe.

“O facto de o Marítimo estar em terceiro lugar deve-se muito à maneira como o Daniel Ramos tem a equipa a jogar. Defender bem e atacar nos momentos certos. Ele está a conseguir incutir essa mentalidade a todos os jogadores que chegam: defender bem primeiro e depois atacar. E a verdade é que as coisas têm corrido bem e quando as coisas correm bem tudo é mais fácil”, explicou o agente comercial de 32 anos.

Um dos grandes problemas estruturais do futebol português é o pouco engajamento entre os adeptos e os clubes de menor expressão o que leva ao triste cenário várias vezes visto por esse país fora onde os estádios estão despidos de público e desertos de interesse das comunidades nos clubes locais. Este foi um dos principais motivos que levou Kalma Andrade a criar a claque Fanatics 13 –  que revelou Kalma ao Bancada em primeira mão será legalizada em breve -, o apoio ao clube local.

                                                

“A palavra guerra não existe nas nossas vidas porque levamos isto tudo com uma atitude desportiva, temos é uma regra nos Fanatics que é simplesmente apoiar o clube da nossa terra. Queremos acabar com a mentalidade biclubística porque a maior parte das pessoas que viram as costas às suas raízes é porque querem apenas poder festejar títulos, torna-se difícil conseguir que a malta tenha essa mentalidade, mas com o tempo este nosso trabalho tem dado frutos”, assegurou.

Tem-se debatido com alguma regularidade ultimamente a recusa dos sócios das equipas da casa em aceitar adeptos com adornos das equipas adversárias em bancadas destinadas aos sócios. Algo que se havia tornado uma realidade nos últimos anos do futebol português, especialmente em jogos onde os três grandes estavam envolvidos. Para evitar situações deste tipo a direção liderada por Carlos Pereira decidiu suspender a aceitação de novos sócias até à data do jogo com o Benfica. Como explicam os sócios do Marítimo, não se trata de uma questão de ódio, mas sim de respeito.

Stanik Pereira é uma presença regular dos jogos no Estádio do Marítimo e concorda que algo tem de ser feito com o fim de evitar situações de conflito: “Tentamos canalizar os adeptos dos três grandes para o setor visitante. Nos últimos seis/sete anos abandalhou um pouco. Ficam onde querem dizem o que querem e depois surgem aqueles conflitos normais. Nós queremos um pouco de respeito e cada um no seu lugar. Nada mais.”

Para Rita Nobre “é uma dor de alma” entrar no estádio do “seu” Marítimo e ver as bancadas repletas de adeptos de outras equipas. Por vezes custa-lhe a entender “como é que sócios do Marítimo conseguem apoiar outra equipa que não o Marítimo, dentro da sua própria casa”. Rita recorda o que sucedeu na temporada passada no jogo em que os insulares recebiam o Benfica e grande parte da massa adepta maritimista se tinha virado contra o seu próprio clube: “Doí muito assistir a uma situação destas. A mim faz-me confusão. Ou se gosta ou não se gosta”, atirou.

O líder dos Fanatics, Kalma Andrade faz questão de deixar bem claro que no Estádio do Marítimo nenhum adepto será proibido de entrar, até porque “no final de contas o futebol só tem lógica com os estádios cheios”, o que os adeptos maritimistas reclamam é “mais respeito”. Segundo Kalma, os sócios do Marítimo “não têm nada contra o clube A, B ou C”, apenas defendem que “nas bancadas destinadas aos adeptos maritimistas não se assistam a situações onde por vezes os adeptos invasores revelam falta de respeito com as suas atitudes. Até por uma questão de segurança. Em todos os estádios há a bancada destinada a adeptos visitantes”, explicou.

Ao Bancada impunha-se uma última questão a estes fervorosos sócios do Marítimo: como acompanharam a descida de divisão dos grandes rivais da ilha, o Nacional?

Se para Rita Nobre a felicidade foi difícil de conter explicando que “nunca deseja que o Nacional perca, apenas que os adversários do Nacional ganhem” já para Stanik Pereira e Fábio Cro a questão foi tratada de formas distintas: o primeiro garantiu que “o Nacional tem de andar sempre atrás do Marítimo mas a descida era escusada”. Já Fábio não olha para o Nacional como um rival do Marítimo, para ele “os rivais são o SC Braga e o Vitória de Guimarães”, talvez porque deixou a Madeira há cerca de seis anos.