Prolongamento
Campeonato de Portugal arranca com mais descidas e menos séries
2017-08-16 20:35:00
O quadro competitivo dos campeonatos nacionais foi alterado e as opiniões divergem

É este fim-de-semana o pontapé de saída para o Campeonato de Portugal 2017/18. São 80 clubes divididos em cinco grupos de 16. A equipa melhor classificada em cada uma das séries, bem como os três clubes melhor classificados no segundo lugar de todas as séries qualificam-se para disputar um play-off, de forma a determinar os dois clubes que sobem à competição profissional. No lado oposto da tabela, descem os seis últimos classificados de cada série. É com estas directrizes no pensamento que jogadores e treinadores de norte a sul do país alimentam o sonho de abrir as portas do futebol profissional, que parece estar ali tão perto.

A grande alteração, relativamente à edição 2016/17, nos regulamentos da competição está na forma como são decididas as equipas que descem às divisões distritais e é nesta alteração que se encontram opiniões distintas. O Bancada falou com João Manuel Pinto, a cumprir a segunda época à frente do Moncarapachense, que desabafou não estar nada satisfeito com as alterações que, segundo o antigo campeão nacional pelo FC Porto “só prejudicam as equipas com menor capacidade orçamental” e recém-promovidas dos escalões distritais.

 

Em anos anteriores o sistema funcionava com base num play-off de permanência no qual as equipas viam reduzidos os pontos conquistados na primeira fase de grupos e partiam para uma nova fase composta por uma liguilha com os clubes em perigo de descida onde acabariam por descer 22 clubes. Na presente edição não existe segunda fase e os clubes que se encontrarem abaixo do décimo lugar serão automaticamente relegados, o que irá perfazer um total de 30 clubes. Ora bem, acontece que nem todos discordam desta medida da Federação Portuguesa de Futebol.

Para um dos treinadores de maior cartaz nos escalões secundários do futebol luso, António Pereira, atualmente no Oriental e com uma vasta experiência – o mister lamentou em jeito de brincadeira que colada à experiência vem a velhice –, a medida é bem-vinda para bem da competitividade dos campeonatos. O treinador, que já conseguiu sete subidas de divisões nos campeonatos nacionais, explicou com um exemplo, passado o ano anterior, com um clube que lhe é muito querido por sinal.

“Olhe. Eu acho que é bom sinceramente. Para haver mais competitividade. Havia equipas o ano passado que não tinham condições, que perdiam por sete e perdiam por oito, percebe? Essas equipas têm que estar na Distrital. Apoio esta decisão. Quem não tem condições não pode andar nos campeonatos nacionais. Senão depois há clubes a fazer estas figuras tristes.

“Não é nada benéfico para os jogadores andarem a perder por sete e por oito…como havia um clube no ano passado a fazer estas figuras. Era o Atlético. Estive lá sete anos, foi eu que os trouxe lá de baixo até à Segunda Liga. É um clube que faz parte da minha história de vida. Mas foi vergonhoso o que fizeram o ano passado. Ao ponto que aquele clube chegou”, lamentou o treinador que orientou o Atlético na Segunda Liga em 2012/13.

Quem também corrobora desta opinião é Ludgero Castro, treinador do Marítimo B, que vê um campeonato mais competitivo nos moldes atuais. E não só. Segundo o técnico dos insulares, o novo sistema acaba com uma prática pouco saudável à vista de Ludgero Castro. O treinador lembra que viu algumas equipas trocarem de jogadores a meio das épocas sem cumprirem o que estava inicialmente contratualizado:

“Quanto a mim o campeonato, este ano, está muito melhor do que nos dois anos anteriores. Quando andávamos a passar a 50 por cento dos pontos e 75 por cento. Se é para nivelar por cima acho que este é o caminho. Enquanto, em outros anos, havia clubes que até dezembro tinham uma equipa e em dezembro mandavam metade da equipa embora, muitas vezes sem pagar aos jogadores, e iam buscar outros para fazer a segunda volta com metade dos pontos. Com este sistema fica a ganhar a verdade desportiva”, sugeriu.

Colocadas as questões regulamentares de parte tentámos perceber um pouco do que será a edição 2017/18 do Campeonato de Portugal.

Na Série A os grandes candidatos os lugares cimeiros terão de ser o Merilinense e a AD Oliveirense. Não só porque ambas as equipas lutaram pela promoção na época transata mas também porque mantêm grande parte dos jogadores da temporada passada e parecem partir novamente em vantagem em relação às demais equipas.

Relativamente à Série B, os destaques vão para o Salgueiros e para o Amarante– disputaram o play-off de subida na época passada - , e ainda o Felgueiras e o Pedras Rubras, que segundo o treinador do Marítimo B, “possuem belíssimos jogadores”, lembrando as edições anteriores onde a equipa insular esteve integrada nas séries A e B.

Depois de um ano a lutar pelos lugares no topo da tabela, Ludgero Castro não quer falar noutra situação que não seja repetir a boa época realizada em 2016/17, como o próprio admitiu: “O ano passado andámos sempre em primeiro e segundo lugar, como tal, tenho que lhe dizer que vou jogar sempre para os primeiros lugares este ano novamente”, e nem o facto de ter visto alguns jogadores transitarem para a equipa principal abala a confiança do treinador: “Aqui no Marítimo nunca perdemos jogadores, ganhamos sempre. Ganha a equipa principal e ganhamos nós”, explicou peremptoriamente.

Sobre os concorrentes aos lugares de subida na Série C, Ludgero realçou as qualidades de equipas como o Gafanha, que conseguiu um lugar na liguilha de subida na última edição dos campeonatos nacionais, o Benfica de Castelo Branco e o União de Leiria.

Na Série D, existem três fortíssimos candidatos. O GD Mafra liderado por um jovem treinador, Luís Freire, que apresentou excelentes resultados ao serviço da equipa de Pêro Pinheiro, promovendo o clube da Divisão de Honra da AF Lisboa até aos campeonatos nacionais. Foram três escalões em outras tantas épocas. O Torreense, que na temporada passada conseguiu chegar aos lugares de acesso à fase de subida e como não poderia deixar de ser o CD Fátima que também disputou a liguilha de subida na temporada passada.

Resta a Série E para apadrinhar a estreia do Moncarapachense nos campeonatos nacionais. Uma equipa totalmente amadora mas que promete, na pessoa do treinador, “encarar cada jogo como se fosse o mais importante da vida de cada jogador”. João Manuel Pinto já esqueceu os dias de profissional de topo e explica que neste momento vive uma realidade diferente:

“A nossa equipa é feita de gente que trabalha e que muitas vezes nem podem vir treinar ou jogar, ou porque têm que trabalhar ou porque têm que tomar conta dos filhos porque as esposas têm que ir trabalhar, portanto será um grande desafio. Mas ao menos sabemos que é um clube cumpridor. Para mim o mais importante é que quando chega ao final do mês a direcção não deixe faltar nada aos jogadores.

“Depois de jogar muitos anos ao mais alto nível, chegando a ser campeão nacional pelo FC Porto, trabalhar neste patamar é muito difícil, mas não tem a ver com os jogadores, esses têm sido fantásticos. O mais difícil é tentar perceber as necessidades de cada um. Vêm do trabalho diário, cada um com o seu problema e nós temos que nos adaptar aos jogadores. No futebol profissional é o contrário. São os jogadores que se têm que adaptar ao que quer o treinador.

“Tenho jogadores que trabalham nas obras, outros nos supermercados, alguns trabalham no aeroporto a carregar objectos pesados e depois ainda têm que vir treinar. E depois tentar moralizar os jogadores que vêm aos treinos e não são convocados?! Tentar motivá-los para que não faltem aos treinos”, explicou como é difícil gerir todas estas necessidades o antigo jogador de FC Porto e Benfica.

Sobre os favoritos à subida na Série E, todas as apostas vão para Olhanense e Farense por serem de um patamar orçamental bem superior às restantes. Quanto aos valores individuais o mister António Pereira deixou um aviso:

“Eu tenho aqui um jogador que, como deve calcular, não lhe vou dizer o nome. Mas um dia mais tarde eu falo consigo quando este jogador estiver na Primeira Liga e digo-lhe quem era. E não há-de faltar muito. Tem 20 anos. Não tenho dúvidas nenhumas daquilo que lhe estou a dizer. Ainda por cima é um jogador que me apareceu lá à experiência. Não veio de clube nenhum. Nunca o tinha visto. Conheci-o quando ele me apareceu lá para treinar. Vai ser um caso muito sério.”

Aguardamos mister.