Prolongamento
Cafú, o "miúdo" que aos 40 anos ainda faz "hat-tricks"
2018-03-28 21:30:00
Golos do antigo avançado de Belenenses e Boavista tornaram-se virais. "As pessoas gostam das coisas boas do futebol."

Fazer três golos num jogo não é propriamente comum, mas fazê-lo aos 40 anos ainda será menos. Cafú, antigo avançado de Belenenses, Boavista, Friburgo, Anorthosis e AEL Limassol, entre outros, vive um momento muito especial na carreira. Por razões profissionais, em virtude de ter aberto um centro de treinos de alto rendimento na área da saúde e nutrição, deixou o futebol ao mais alto nível e aceitou o convite do Maia Lidador para jogar nos distritais do Porto. Assim, exerce a atividade profissional durante o dia e treina à noite, mantendo bem vivo o bichinho do futebol. Que o digam os adeptos do clube nortenho que foram ao rubro com o "hat-trick" apontado pelo ponta-de-lança no triunfo de 3-1 sobre o CD Candal.

"Foi um jogo inesquecível. A proporção que ganhou nas redes sociais foi muito grande e sinceramente não estava à espera. É sinal de que as pessoas gostam das coisas boas do futebol", afirma o veterano jogador ao Bancada, radiante, não só pelo "hat-trick" mas pela qualidade de dois dos golos: um pontapé de bicicleta que não deu hipóteses de defesa ao guarda-redes da equipa adversária e um remate tenso a mais de trinta metros da baliza com o mesmo sucesso (ver vídeo em baixo). "O terceiro golo foi o mais espectacular. No vídeo não se tem bem a noção. Não foi bem um chapéu, pois a bola foi sempre tensa. Vi o guarda-redes no outro poste e arrisquei. É daqueles golos que em 10 só se faz um. Se fosse mais novo, não o teria marcado, mas aos 40 anos tive a calma necessária, olhei para a baliza e rematei com sucesso. Não sou muito de rematar de fora da área, sou um jogador mais de área, mas deu certo", diz, com um sorriso pleno de humildade.

"Atenção, não tentem fazer isto em casa", avisava Cafú, em jeito de brincadeira, nas redes sociais, referindo-se ao pontapé de bicicleta que efetuou, com a irreverência de um miúdo. "Nunca é fácil marcar um golo desses, mas como fiz dois ou três ao longo da minha carreira, gostei mais do remate de longa distância."

A opção pelo Maia Lidador, que ocupa um tranquilo nono lugar na Divisão de Elite da Associação de Futebol do Porto, derivou de motivos profissionais, como conta Cafú. "Em virtude de ter aberto um centro de treinos de electro estimulação na área da saúde e nutrição, estava disposto a pôr termo à minha carreira por não ter tempo para treinar, mas depois de ter recebido convites de clubes do Campeonato de Portugal e algumas propostas de clubes do distrital, decidi aceitar o convite do Maia Lidador, por ser perto de casa, e pelo facto de os treinos decorrerem à noite. Colocaram-me à vontade e disseram-me 'quando puderes vir, vens, quando não puderes, não vens'. Quando não posso, treino-me sozinho. Deixei o futebol profissional, mas continuo, assim, a fazer o que mais gosto nos distritais."

E para quando o final da carreira? Cafú confessa que tenciona deixar o futebol no final desta época. "O bichinho do futebol tem-me feito sempre continuar, mas esta será a minha última época. Espero bem não mudar de ideias, pois ainda tenho vontade e motivação, mas é preciso parar. Algum dia terá de ser." Já não vamos, então, ter mais golos como os do último fim de semana? "É para acabar com chave de ouro." Pois, parece mesmo que não...

Cafú teve uma carreira repleta. Começou no Amora FC e estreou-se no escalão maior do futebol português ao serviço do Belenenses, onde esteve durante três temporadas. O Boavista foi a etapa seguinte, uma etapa que durou três temporadas e meia. Surgiu, então, a primeira aventura no estrangeiro, em concreto, na Alemanha, onde representou o SF Siegen e SC Friburgo. Da Alemanha ao Chipre foi um pulinho. Durante seis temporadas, o avançado natural de Almada jogou consecutivamente no Omonia, Anorthosis, AEL Limassol e Alki Larnaca, após o que voltou a Portugal. Académico de Viseu, Feirense, Freamunde e Salgueiros foram as camisolas que vestiu nos últimos anos, antes de chegar ao Maia Lidador, onde contabiliza 11 golos em 23 jogos.

Numa carreira tão vasta, não será fácil de eleger os momentos mais significativos. Cafú não teve problemas em destacar três. "Lembro-me de ter marcado no Dragão ao Vítor Baía já nos minutos de compensação, naquela que foi a primeira derrota do FC Porto no Estádio do Dragão. Lembro-me muito bem desse jogo e desse golo. São momentos que ficam para sempre na memória. Tinha feito anos poucos dias antes e os meus pais estavam cá nessa semana. Foi uma grande alegria. Marcar ao FC Porto é sempre gratificante e, por outro lado, fiquei também na história. Lembro-me que nesse jogo, antes do golo que marquei, tive duas ou três lances em que podia ter ido para o golo mas foi sempre assinalado fora-de-jogo... e acho que não estava. Graças a esse golo e a essa vitória tive uma semana fabulosa, sempre a dar entrevistas e a ser destaque nos jornais. Enfim, foi um daqueles jogos de que nunca mais nos esquecemos."

Outro dos momentos recordado com satisfação e saudade por Cafú passa por um "hat-trick" ao serviço do Anorthosis. "Foi um jogo da Liga Europa. Tínhamos perdido fora frente ao Cercle Brugge por 1-0. Na segunda mão, fiz dois golos, mas eles reduziram para 2-1 e ficaram em vantagem na eliminatória. Fiz depois o terceiro golo e foi a loucura." O terceiro momento eleito pelo avançado, que foi internacional por 15 vezes, tendo apontado quatro golos, teve por base o remate certeiro que efetuou ao serviço do Omonia frente ao AEK Atenas, onde na altura alinhava Rivaldo. "Fiz o golo da vitória e passámos à fase seguinte", lembra.

Na memória de Cafú, admirador dos dois Ronaldos, do brasileiro, outrora, e do português, agora, ficou também o primeiro golo apontado como profissional. "Foi um golo de cabeça que fiz ao serviço do Belenenses na vitória de 1-0 sobre o Marítimo."

Aos 40 anos, o ponta de lança vê agora o futebol com outros olhos. Admira a evolução registada, mas alerta para um pormenor. "A nível tático, está cada vez melhor. Os treinadores melhoraram muito. Quem me dera estar a começar a carreira." "Está-se, no entanto, a descurar um pouco o treino físico em favor da tática e o futebol tem vindo a perder velocidade."