Prolongamento
Beto voa nas asas do vento na Turquia
2018-02-23 21:30:00
Guarda-redes do Goztepe persegue o sonho de estar no Mundial da Rússia

Aos 35 anos, com quatro Ligas Europa no currículo, Beto vem encantando na Turquia. O guarda-redes internacional português, que a 31 de julho deixou o Sporting rumo ao Goztepe, é destaque recorrente nas televisões, jornais e redes sociais, pelas defesas que faz, pelos penáltis que defende, como sucedeu frente ao Kayserispor em que susteve dois castigos máximos. A recente defesa que efetuou no nulo obtido fora de portas diante do Trabzonspor ficou na retina de meio mundo e trouxe-o de novo à ribalta. "Sinto-me num grande momento e o que posso dizer é que ainda não penso em terminar a carreira", afirmou o jogador à imprensa turca, lembrando em particular o momento, a defesa que o levou a figurar na equipa da semana da Superliga. "Senti que tinha sido uma bela defesa. Quando me levantei e olhei para o Rodallega, que fez o remate, percebi isso mesmo. Foi uma defesa aparatosa e as pessoas até podem pensar que foi para a fotografia, mas não. Só assim é que teria possibilidades de defender aquele remate."

A imagem do guarda-redes em pleno voo, bem como dos dois penáltis defendidos, teve um tremendo eco nas redes sociais e Beto não ficou indiferente ao facto. "Tive noção do grande impacto que teve. Toda a gente falou disso. Agradeço à comunicação social e aos adeptos o destaque que me têm dado."

A elasticidade que evidencia é uma das principais características do guarda-redes que contabiliza 12 internacionalizações pela Seleção Nacional, num total de 30 tendo em conta os escalões mais jovens. "É algo que tenho desde que nasci. A elasticidade pode trabalhar-se mas é inata", refere, não deixando de mostrar o desejo de figurar nas escolhas de Fernando Santos tendo em vista o Campeonato do Mundo deste ano na Rússia. "O Mundial é um objetivo e trabalho todos os dias para isso. A vida é feita de objetivos e vou tentar concretizar essa meta." O guarda-redes já havia assumido, aliás, que só deixou o Sporting rumo à Turquia para jogar com regularidade e marcar presença na mais importante prova a nível de seleções. "A léguas de Portugal com mais essa conquista em mente. Desengane-se quem descura o campeonato da Turquia do top mundial. Aqui vou crescer e vou ser desafiado contra grandes estrelas em ambientes inacreditáveis", sublinhou o guardião.

Vinculado ao clube turco até junho de 2018, Beto tem a opção de estender o contrato até 2019 e as conversações nesse sentido já começaram. "Já estamos a falar da renovação, vamos ver o que vai acontecer."

O percurso de Beto na Turquia começou com uma estreia em grande culminada com um empate a dois golos frente ao histórico Fernerbahçe. Mas antes, o guarda-redes que conquistou quatro Ligas Europa ao serviço de FC Porto e Sevilha FC, já havia dado nas vistas pelos... quilómetros que fez no primeiro jogo pelo Goztepe, um particular frente ao Altinordu, que até terminou com uma derrota de 3-1. O guardião congratulou-se com o facto de ter efetuado "seis quilómetros e 235 metros", algo que assumiu como um "recorde", tendo em conta que o registo normal para um guarda-redes anda entre os três e os quatro quilómetros.

O próximo passo e motivo de destaque passou pelos dois penáltis que susteve na derrota do Goztepe frente ao Kayserispor (1-0), primeiro, detendo o remate de Deniz Türüç e, depois, perante nova tentativa do mesmo adversário. Motivo suficiente para figurar na equipa da jornada, facto que tem sido, aliás, recorrente nos sete meses que leva com a camisola do Goztepe, atual oitavo classificado da Liga turca com 33 pontos, apenas a dois do quinto classificado, o Kayserispor.

AS DEFESAS QUE ESTÃO A ENCANTAR MEIO MUNDO

 

Beto foi descoberto para o futebol no Ponte de Frielas por Aurélio Pereira mas foi Virgílio Lopes quem o convenceu a ser guarda-redes. E o jogador não demorou a apaixonar-se pela função. “Na altura em que Virgílio Lopes me disse que devia ser guarda-redes, pensei logo que era muito pequeno para uma baliza tão grande. Mas, a partir do momento em que calcei umas luvas num dia em que estava a chover torrencialmente, num pelado, apaixonei-me”, recordou, em declarações à Sporting TV, ele que foi recrutado pelos leões em 1995 e que depois de ter deixado o clube em 2004 voltou no defeso de 2016.

"Não pensei duas vezes em aceitar o convite para voltar. Quando saí pela primeira vez do Sporting, com 18 ou 19 anos, prometi ao meu pai que ia voltar por ele e por mim. Prometi e, graças a Deus, cumpri. No mês de agosto olhei para o céu e disse: ‘Eu disse que chegava aqui. Não disse foi quando, mas cheguei’", afirmava, na altura, emocionado.

Ao longo da carreira, Beto passou por momentos bastante dificeis como quando teve, durante praticamente dois anos seguidos, ordenados em atraso no GD Chaves e no Marco, na altura na segunda liga. O guarda-redes chegou a ponderar deixar o futebol. "Pensei em optar por outro caminho, por outra vida, para ser independente. Pensei em voltar a estudar. Foi na altura que o meu pai me disse que enquanto estivesse aqui ia ajudar-me a continuar a lutar pelo meu sonho. Não me deixou desistir", referiu, deixando um agradecimento a Vítor Oliveira, treinador que apostou nele no Leixões, clube onde se projetou até chegar ao FC Porto.

Quatro Ligas Europa

Foi no Sevilha FC que Beto viveu os principais momentos da vasta carreira e se tornou, a 19 de maio de 2016, no guarda-redes com mais títulos na Liga Europa, ultrapassando nomes como Ray Clemence e Andrés Palop. Vencedor da Liga Europa pela primeira vez ao serviço do FC Porto, em 2010/2011, o internacional português arrecadou esta competição pelo Sevilha FC durante três épocas consecutivas, feito coletivo único, ultrapassando as três conquistas de Andrés Palop (que venceu a Taça UEFA, em 2003/2004, pelo Valencia CF e, em 2005/2006 e 2006/2007, pelo clube Andaluz) e de Ray Clemence (vencedor, em 1972/1973 e 1975/1976, pelo Liverpool FC, e, em 1983/1984, pelo Tottenham). Numa das Ligas Europa arrecadadas, Beto teve como adversário o Benfica. Após o empate a zero no final do prolongamento, o guarda-redes foi determinante ao deter os penáltis apontados por Cardozo e Rodrigo, revelando-se dessa forma decisivo para a conquista do troféu consumada a 14 de maio de 2014. "O desfecho de um desempate por penáltis é sempre imprevisível, independentemente de tudo o que se possa conhecer sobre os marcadores, e o que eles possam conhecer de mim. Reage-se no último instante de acordo com uma sensação que temos, o nosso instinto. E é preciso força nos pés para a impulsão", afirmava na altura depois de ter sido aclamado como "herói" da final. 

O antigo guarda-redes de Sporting e FC Porto atingiu igualmente o número de troféus de Stefano Tacconi, que arrecadou uma Liga dos Campeões, uma Supertaça Europeia, uma Taça das Taças e uma Taça UEFA pela Juventus, tornando-se o guarda-redes português com mais títulos internacionais, a par de Vítor Baía. 

Pelos dragões, Vítor Baía venceu uma Liga dos Campeões e uma Taça UEFA e, pelo FC Barcelona, uma Supertaça Europeia e uma Taça das Taças.