Prolongamento
Análise: Assistentes portugueses não seguem recomendações
2017-06-16 20:00:00
Contabilizados todos os erros, conclui-se que os assistentes, em Portugal, tendem a beneficiar a defesa

Aos árbitros é recomendado que, em caso de dúvida, deixem o jogo prosseguir, o que implica que os árbitros assistentes só deveriam assinalar foras-de-jogo quando tivessem a certeza de um jogador se encontra em posição irregular. Tal recomendação deveria levar a que houvesse mais erros a beneficiar o ataque do que a beneficiar a defesa, mas não é isso que acontece em Portugal.

Os assistentes portugueses erram muito mais vezes a favor de quem defende do que de quem ataca. É o que se conclui da análise de todos os erros cometidos pelos assistentes nos 245 jogos em que entraram Benfica, Porto ou Sporting, nas competições portuguesas, nos últimos dois anos.

Desde março de 2015, as decisões de arbitragem mais complicadas nos jogos dos grandes portugueses são avaliadas por antigos árbitros internacionais em Casos.pt, com recurso a imagens televisivas. António Marçal, Pinto Correia e Veiga Trigo são os ex-árbitros internacionais que colaboram com o projeto atualmente, estando sempre dois deles destacados para cada jogo. Foi através das suas opiniões, lance a lance, que identificámos esta tendência dos assistentes portugueses.

Sempre que um jogador passa a bola a um colega, o assistente tem de decidir se deve assinalar fora-de-jogo ou não. Nessa decisão, há duas formas de errar: i) deixando seguir uma jogada quando um jogador está, de facto, em posição irregular; ou ii) assinalando indevidamente fora-de-jogo quando não há qualquer infração. Em Portugal, este segundo tipo de erros acontece com mais do dobro da frequência do que o primeiro. Dos 100 lances em que os árbitros do Casos.pt concordaram que houve erro, 71 foram em benefício da defesa e apenas 29 favoreceram o ataque. Este enviesamento nos erros sugere, claramente, que os assistentes portugueses, em caso de dúvida, preferem interromper a jogada, contrariando as recomendações que lhes são feitas.

Mas será este um problema exclusivo dos árbitros portugueses? Para esclarecer a dúvida, contabilizámos os erros cometidos pelos assistentes em jogos das competições europeias em que participaram Benfica, FC Porto e Sporting, nos últimos dois anos, e também nos jogos da Seleção nacional, no Euro 2016. Neste caso, o número de partidas é menor, o que faz com que as conclusões não sejam tão fiáveis, mas, ainda assim, o Casos.pt acompanhou 96 jogos com árbitros estrangeiros. Nesses encontros, foram identificados apenas doze erros dos árbitros assistentes, seis deles a beneficiar o ataque e seis a beneficiar a defesa, não se registando, por isso, qualquer enviesamento.

Conclui-se assim que, nos jogos internacionais, os árbitros assistentes não parecem ter a tendência que é clara em Portugal de beneficiar a defesa. Falta saber se os próprios árbitros portugueses têm consciência deste enviesamento. Corrigindo-o, poderiam reduzir o número de erros e aumentar o número de golos nas competições nacionais.

Aliás, à luz das conclusões aqui apresentadas, é de esperar que a introdução do vídeoárbitro na Liga Portuguesa a partir da próxima temporada traga um duplo benefício: ao reduzir os erros dos assistentes, o vídeoárbitro estará a contribuir para que haja mais golos por jogo.