Prolongamento
A empresa de portugueses que dá força aos clubes 'pequenos'
2018-09-30 21:20:00
A história do MyCujoo e o investimento feito no mercado português

Se acompanha os escalões inferiores do futebol português é bem provável que conheça e que até já tenha utilizado o MyCujoo, uma plataforma de streaming de jogos de futebol. O que o leitor pode não saber é que o MyCujoo é uma empresa fundada por portugueses e que um dos objetivos foi sempre ajudar os clubes mais pequenos a ganharem mais expressão. "O nosso lema desde o início, desde que a empresa nasceu, foi sempre dar força aos clubes pequenos, que são 80% dos quatro milhões de clubes e 400 milhões de jogadores no mundo inteiro. Sempre apostámos nisso", explicou Ricardo Rodrigues, líder da equipa do MyCujoo em Portugal, ao Bancada.

Ricardo Rodrigues é irmão de João Presa e Pedro Presa, os dois fundadores do MyCujoo. A empresa foi criada oficialmente em julho de 2014 em Zurique, onde Pedro estava a residir. E uma das motivações para avançar com esta ideia foi causada pelo... Boavista. "Sou adepto do Boavista e o clube atravessava uma fase terrível. Não conseguia ver os jogos, cheguei a pedir à minha mãe para me trazer um satélite para tentar apanhar o 'Porto Canal', na altura, mas não conseguia ver o Boavista. Foi o incentivo final e que comecei a apresentar o projeto aos meus irmãos. Eu e o João criámos um business plan e fomos para o mercado levantar dinheiro", disse Pedro Presa, CEO do MyCujoo, ao Bancada.

Pedro Presa e João Presa, os dois fundadores do MyCujoo

A ligação de Pedro ao futebol não começou, contudo, com o Mycujoo. Depois de estudar Comunicação e Marketing em Portugal, fez um estágio na Liga Francesa quando o organismo estava a negociar um contrato coletivo de direitos televisivos, tendo acompanhado esse processo de perto. Depois, fez um mestrado na FIFA e trabalhou na European Professional Football Leagues. Esse conhecimento ajudou no momento da criação do Mycujoo, cuja sede ainda é em Zurique mas com Pedro e João Presa a trabalharem em Amesterdão, onde estão vários dos funcionários. "A nossa ideia sempre foi criar a maior rede de futebol do mundo através da transmissão de conteúdos", garantiu-nos Pedro, revelando depois qual foi o momento em que tudo mudou e o Mycujoo começou a brilhar.

"O início foi muito difícil. A grande reviravolta da empresa aconteceu em 2016, quando fomos convidados pela Confederação Asiática de Futebol a apresentarmos uma proposta para sermos a plataforma de streaming oficial de todas as federações da Ásia. Quando nos ligaram a empresa estava quase a fechar, havia muito pouco interesse de investidores. Fomos para Kuala Lumpur com os últimos euros que tínhamos na conta, fizemos a proposta e conseguimos ganhar. A partir daí, tudo mudou. Pensávamos que íamos ser o YouTube do futebol, mas a partir daí mudámos a nossa visão", explicou.

Desde aí, só se assistiu a crescimento. De cerca de 90 jogos em 2015, o MyCujoo passou a transmitir mais de 1000 em 2016, mais de 4000 em 2017 e espera terminar 2018 com 16000 partidas transmitidas em direto. Com forte presença na Ásia, por exemplo, o MyCujoo continua a crescer exponencialmente com as receitas a surgirem graças à publicidade. Para já, o MyCujoo trabalha apenas com as modalidades FIFA (futebol, futsal e futebol de praia) e até o nome deriva do Cuju, o desporto parecido com o futebol atual que se praticava na China. No entanto, quando confrontados com essa possibilidade pelo Bancada, os responsáveis da empresa não negaram que, no futuro, é possível que outras modalidades tenham espaço na plataforma.

Mas, afinal, como funciona o MyCujoo? É simples. Os clubes entram em contacto com a plataforma, criam um canal e podem transmitir os jogos (ou outro tipo de eventos) em direto. Com um simples telemóvel ou uma câmara e uma ligação à internet, todo e qualquer clube passa a ter uma transmissão dos jogos em direto e diferido, com o MyCujoo a fornecer o grafismo e a dar a formação necessária. Tudo fácil e grátis, quer para os clubes que transmitem como para os adeptos que querem acompanhar os jogos em direto ou diferido.

A entrada no mercado português

O MyCujoo passou a ter uma presença bem mais forte em Portugal a partir de abril de 2018, quando a empresa decidiu abrir um escritório em Lisboa. Ricardo Rodrigues, o irmão de Pedro e João Presa, dirige o MyCujoo em Portugal e explicou que tudo tem corrido da melhor forma. Tanto que a empresa está a levantar uma ronda de investimento “muito grande” para contratar cerca de 20 pessoas só em Portugal nos próximos meses. Atualmente, o escritório do MyCujoo em Lisboa tem 14 funcionários.

Ricardo Rodrigues, irmão de Pedro e João, é o diretor do MyCujoo em Portugal

A presença do MyCujoo é especialmente notada nos campeonatos distritais, onde a plataforma tem grande peso e importância na transmissão de jogos de clubes que, de outra forma, nunca teriam essa hipótese. O maior projeto do MyCujoo em Portugal acaba por ser o do SC Braga, que transmite os jogos das camadas jovens e futebol feminino no MyCujoo com uma produção mais avançada do que apenas um telemóvel num tripé. As parcerias que o MyCujoo tem vindo a estabelecer com Associações de Futebol também facilitam a relação com os clubes, que já são mais de 200 com um canal online em Portugal.

"Temos vindo a aumentar bastante o número de clubes também graças às parcerias que estamos a conseguir com as Associações de Futebol. Somos capazes de ter mais de 200 canais em Portugal, desde clubes do Campeonato de Portugal, que temos bastantes, clubes da Primeira Divisão feminina, clubes como o SC Braga ou o Nacional, que transmitem tudo o que é camadas jovens connosco. Começámos agora com o Belenenses e vamos começar com outros clubes do género em breve. E depois o futebol distrital, que é a massa do futebol em Portugal. Fechámos recentemente dois contratos grandes com Associações de Futebol", contou Ricardo Rodrigues em conversa com o Bancada.

Apesar de dar força e voz aos clubes pequenos, o MyCujoo não rejeita trabalhar com os três grandes. Pelo contrário: a empresa considera que pode ser muito útil a FC Porto, Benfica e Sporting ao transmitir os jogos que as televisões oficiais dos clubes não conseguem transmitir. "Podemos ser duas coisas para os clubes grandes. Podemos ser uma extensão da televisão para o digital. Temos tudo o que é solução tecnológica para sermos essa extensão. E podemos também ser uma alternativa à TV. Vamos imaginar que o Sporting, Benfica ou FC Porto têm uma transmissão de um jogo dos miúdos ou da equipa feminina que coincide com uma transmissão de uma modalidade. Se a televisão deles der a modalidade, nós podemos dar o outro jogo. (...) Está nos nossos planos trabalhar com toda a gente", referiu Ricardo Rodrigues.

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