Prolongamento
1º de Agosto, o bi-campeão que tem o privilégio de viajar de avião
2017-11-01 21:00:00
Colosso de Angola é campeão a uma jornada do final do Girabola e tenta o triplete no final de temporada

A uma jornada do final do campeonato, já há campeão em Angola. O 1º de Agosto, mesmo sem Gelson Dala e Ary Papel, venceu o ombro a ombro com o rival de sempre, o Petro de Luanda, e sagrou-se bi campeão nacional, conquistando o 11º título da história numa altura em que comemora 40 anos de existência. Estamos a falar do primeiro clube criado no periodo pós independência, a dia 1 de Agosto 1977, cerca de um ano e 9 meses depois da independência nacional. 

O 1º de Agosto tem profundas raízes militares e a respetiva fundação teve por base uma estratégia de fomento e desenvolvimento do desporto definida pelas então Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (F.A.P.L.A.). É, assim, o clube central das Forças Armadas Angolanas, que por conseguinte surge como principal impulsionador. Esta conjuntura confere-lhe um estatuto que lhe permite usufruir de condições diferentes da generalidade dos clubes angolanos, expressas em "pormenores" decorrentes, por exemplo, das constantes e longas viagens que têm de efetuar ao longo da temporada, mesmo a nível nacional como consequência do milhão e 247 mil  quilómetros quadrados. O 1º de Agosto viaja com recurso a um avião militar em vez do tradicional autocarro. Há equipas que chegam a fazer dez horas neste meio de transporte só para jogarem.

Costuma dizer o povo que em cada canto do mundo há um português e o 1º de Agosto não foge à regra. Chama-se Diogo Rosado, foi formado no Sporting e tal como muitos jovens da sua geração era tido como uma grande promessa. No primeiro ano de júnior, foi mesmo determinante na conquista do título para os leões, ao marcar, em pleno Estádio José Alvalade, o golo do empate diante do FC Porto (2-2), que permitiu ao Sporting sagrar-se campeão na última jornada. Todavia, a carreira acabou por tomar outro caminho. O médio natural de Peniche, agora com 30 anos, alinhou por sete equipas em Portugal, entre as quais o Benfica B (onde se juntou a um plantel que contava com João Cancelo, Miguel Vítor, Roderick, Hélder Costa, Miguel Rosa, Ivan Cavaleiro, Deyverson, Rui Fonte e Alan Kardec), procurou a sorte em Inglaterra, chegou a jogar na II liga francesa, passou pelo Chipre e agora está em Angola. 

"O 1º de Agosto é uma nação", refere o centro-campista, internacional por Portugal, dos sub-17 aos sub-21, reforçando: "É o clube com mais adeptos, que vivem os nosso feitos com grande fervor clubístico, à semelhança do que acontece com os três grandes em Portugal."

Diogo Rosado conta que a adaptação não foi fácil, tendo em conta as vicissitudes de quem deixa a Europa rumo a África. "O primeiro obstáculo quando se chega da Europa a Angola é o calor. Foi muito complicado. Cheguei aqui tinha temperaturas de 40 graus e treinava num sintético. Os pés queimavam. Tínhamos de treinar aos saltos porque aquilo queimava mesmo os pés. Temos altas temperaturas em todo o lado, a maior parte dos campos não têm iluminação e os jogos têm de se realizar às três da tarde, debaixo de um sol muito forte."

A falta de condições de muitos relvados é outro dos problemas. "Dificultam a tarefa dos jogadores mais tecnicistas. Nas províncias os relvados estão cheios de buracos. O futebol aqui não é tão profissional como em Portugal, ainda está a crescer. A parte da crise também não ajuda nada em termos de condições para os mais pequenos, mas no 1º Agosto, tenho as condições todas. São muito mais organizados e têm mais condições do que a maioria dos clubes pequenos e médios em Portugal."

O convite de Angola veio por parte de Paulo Figueiredo, antigo internacional angolano, que o desafiou a representar o Progresso Lunda Sul. Daí ao 1.º de Agosto foi um pequeno passo. "O Progresso fez a melhor época de sempre, ficámos em quarto lugar. Para um clube que tinha vindo da segunda divisão, ficar em quarto foi como ganhar o campeonato. Depois surgiu a hipótese de representar o 1º de Agosto e foi o que sucedeu."

Além de Diogo Rosado, o clube de Luanda tem nas suas fileiras alguns jogadores que já alinharam em Portugal, como Rambé, cabo-verdiano que já jogou no Belenenses, na equipa B do Braga, no Feirense e no Vitória de Setúbal, e Ibukun, nigeriano que passou pelo Farense. Ao leme do clube está um bósnio, de nome Dragan Jovic (em braços na foto).

Aos 50 anos, Jovic aventurou-se por terras de África. Está há quatro épocas ao serviço do 1º de Agosto e tem vindo a efetuar um profunda remodelação no clube. O colosso de Luanda é bi-campeão, mas esteve 10 anos sem o conseguir, acabando agora por afirmar-se como rei do futebol em Angola. Mesmo sem Gelson Dala e Ary Papel, que eram tidos como as principais referências do clube.

Os dois jogadores transferiram-se para o Sporting, no âmbito de uma parceria estabelecida entre os dois clubes, ficando ligados aos leões até 30 de Junho de 2019, com uma cláusula de rescisão de 60 milhões de euros. Os verde e brancos têm ainda opção de renovação até 2022 a ser exercida até 10 de Maio de 2019.

Neste contexto, Bruno de Carvalho esteve em Angola no mês de abril no sentido de reforçar a ligação entre Sporting e 1º de Agosto. "Tenho a certeza de que o Gelson e o Ary são o princípio de muitos e bons jogadores que vamos aproveitar, para além de outros que vamos também ajudar a desenvolver. O talento está cá todo", afirmou Bruno de Carvalho, na altura, em declarações aos media locais.

O líder dos leões falou não só dos acordos com o 1º de Agosto, mas também com o Recreativo Caála, vincando a sua importância naquilo que diz ser a expansão da marca Sporting em Angola. "São estratégicos e vão continuar", prometeu, acrescentando: "Vamos dar mais passos com o 1º de Agosto. É sempre bom reforçar os lanços entre os dois clubes."

Em busca do triplete

 

Com o campeonato no bolso, o 1º de Agosto apurou-se esta quarta-feira, para a final da Taça de Angola, a segunda maior prova nacional, pese embora o empate a zero registado diante do Progresso do Sambizanga, em partida da segunda mão da prova, disputada no Estádio dos Coqueiros, em Luanda. A equipa dos militares beneficiou, desta forma, da vitória por 3-2, obtida na primeira mão.

Depois de vencer a Supertaça e de conquistar o Girabola, o 1º de Agosto vai, desta forma, procurar fazer o "triplete", quando defrontar na final o rival Petro de Luanda, em jogo agendado para o dia 11 de Novembro, data comemorativa ao dia da Independência de Angola.

Para domingo está marcada a festa de celebração da conquista do título. O Estádio Nacional 11 de novembro recebe o último jogo do Girabola, que colocará frente a frente o 1º de Agosto e o Kabuscorp, quinto classificado. A uma jornada do final, o 1º de Agosto soma 65 pontos, mais três do que o Petro de Luanda, mas tem vantagem no confronto com o grande rival. Dezanove vitórias, oito empates e duas derrotas é o saldo do líder, que tem 43 golos marcados e 12 sofridos.

Angola tem vindo a evoluir, de forma lenta, mas progressiva, e ascendeu três posições no Ranking FIFA de seleções, de acordo com a última atualização do organismo que gere o futebol mundial, ocupando agora o 139º lugar. No topo da lista surge a Alemanha, seguida por Brasil e Portugal. No continente africano, a Tunísia é o primeiro classificado, surgindo no 28º lugar a nível mundial.

TÍTULOS DO 1º DE AGOSTO

Campeão Girabola ZAP 2017
 
Campeão Girabola ZAP 2016
 
Campeão Girabola 2006
 
Campeão Girabola 1999
 
Campeão Girabola 1998
 
Campeão Girabola 1996
 
Campeão Girabola 1992
 
Campeão Girabola 1991
 
Campeão Girabola 1981
 
Campeão Girabola 1980
 
Campeão Girabola 1979
 
Vencedor Supertaça de Angola 2017
 
Vencedor Supertaça de Angola 2010
 
Vencedor Taça de Angola 2009
 
Vencedor Taça de Angola 2006
 
Vencedor Supertaça de Angola 2000
 
Vencedor Supertaça de Angola 1999
 
Vencedor Supertaça de Angola 1998
 
Vencedor Supertaça de Angola 1997
 
Vencedor Supertaça de Angola 1992
 
Vencedor Supertaça de Angola 1991
 
Vencedor Taça de Angola 1991
 
Vencedor Taça de Angola 1990
 
Vencedor Taça de Angola 1984