Portugal
Volta, Fabrício, estás perdoado!
2018-08-25 18:30:00
Foi muita parra e uva a menos.

Que belo jogo! Esta é a melhor forma de começar esta crónica, porque, de facto, o Portimonense-Santa Clara foi um belo espetáculo, com inúmeras oportunidades de golo. O Portimonense jogou, tentou, rematou e ameaçou, mas o Santa Clara, em dois lances de bola parada, tratou de fazer, de forma simples, o que os algarvios não fizeram com criatividade e engenho. Resultado: com duas formas diferentes de abordar o jogo, o duelo, em Portimão, deu empate a dois golos, num resultado tremendamente injusto para a equipa de Folha. Com um finalizador como Fabrício - que foi para o Japão, onde tem feito golos a granel - ou Pires - que hoje marcou pelo Penafiel -, o Portimonense poderia estar a festejar com uma sardinhada junto à praia da Rocha.

Este foi um jogo no qual vimos uma equipa açoriana completamente obcecada pelo portador da bola e incapaz de fazer uma pressão coletiva, coordenada e mais consciente. Com isso, poderia ter-se dado bastante mal, fruto dos espaços que deu quando era batida no um contra um e enganada no engodo do apoio frontal de Wellington. Já lá vamos.

“Arrasta-o para ali, que eu furo por lá”

A primeira parte deste jogo, caro leitor, foi das coisas mais bizarras que já vimos nos últimos tempos. Tudo bem que a Liga parou durante uns meses, mas não se agarre a isso. A verdade é que vimos 25/30 minutos a roçar o bizarro. O Portimonense bateu, bateu, bateu e… não furou. Depois de começar o jogo a perder, com um golo de Fábio Cardoso, aos cinco minutos, após um lançamento longo, os algarvios souberam crescer e dominar. E há uma explicação para isso.

Foi visível que Dener começou a jogar uns metros mais à frente, trocando com Ewerton. Isto permitiu mais qualidade na zona de criação e, sobretudo, fazer chegar a bola a Nakajima. E, como se sabe de 2017/18, é com Nakajima que o Portimonensezinho passa a ser Portimonense e, às vezes, Portimonensezão. O japonês começou a desequilibrar a partir da esquerda, combinando com os apoios frontais de Wellington. E foi aqui que eles descobriram o ouro. Quando Wellington arrastava um dos centrais, Dener e/ou Tabata rompiam nas costas. O Santa Clara, sempre muito anárquico na pressão, não soube entender como contrariar o espaço deixado pelo engodo dos arrastamentos de Wellington e pareceu sempre muito preocupado com o homem da bola e pouco coordenado na pressão coletiva. Pressão anárquica na zona central é mel para motas que gostam de explorar a profundidade.

Tudo isto parece bonito e sinal de qualidade algarvia, sim, mas faltou uma coisa: acerto na finalização. Os algarvios remataram quase sempre fraco ou à figura, mesmo quando estavam em boas condições para finalizar melhor. Falta um Fabrício ou um Pires.

Ah bom, assim está bem!

Ainda uns adeptos estavam no bar a matar a cervejinha (sem álcool) e outros no WC a “matar” as cambiantes da fisiologia humana e já o Portimonense tinha conseguido, em quatro minutos, o que não tinha conseguido em 45. O tiraço de Ewerton, de fora da área, bateu na trave – parecia que o desacerto algarvio continuava –, mas Tabata colocou a cabeça para fazer a recarga, de baliza vazia. Aí, sim, o futebol fez sentido.

E sabe que mais? O futebol ainda fez mais sentido, pouco depois. Mais uma vez, porque o Santa Clara voltou a preocupar-se demasiado com o homem da bola e descoordenou a pressão. Isto permitiu que os açorianos fossem batidos no 1 para 1 e que deixassem espaço para Manafá explorar nas costas. Finalização de qualidade.

Logo a seguir, num canto a favor do Santa Clara, Manafá tratou de dizer a toda a gente que estava a gostar mais de quando o jogo estava empatado. De cabeça, fez autogolo. Não fez sentido.

O resto do jogo manteve-se numa toda semelhante ao que já tinha sido: o Portimonense perigoso e a conseguir, fruto de arrastamentos dos centrais, criar situações de desequilíbrio na profundidade e de superioridade numérica nas alas. Vieram mais algumas oportunidades, mas, se não marcaram muitos golos quando tiveram muitas ocasiões, não poderiam marcar quando tiveram apenas algumas. Os últimos minutos, com o Santa Clara metido “na caixinha”, já trouxeram menos ocasiões e menos emoção, porque os algarvios não foram capazes de furar em ataque organizado, ao contrário do que faziam em transição.

A terminar, três notas individuais. Para Dener, que parece mais jogador quando pisa terrenos mais ofensivos (em 2017/18 jogou sempre algo recuado, junto a Pedro Sá), para Nakajima, que é jogador a mais para este contexto (que craque!) e que desequilibrou com uma facilidade impressionante, e para o árbitro João Pinheiro. É salutar ver que continua a ser, provavelmente, o árbitro com critério mais largo da primeira categoria, permitindo um jogo mais fluido, com menos faltas e menos paragens. Boa arbitragem de um bom árbitro.