Pelo Rio Grande do Norte uma temporada bastou para que Vanailson Alves, Vaná no Mundo do futebol, se estabelecesse desde logo como um herói local. Filho de Planaltina, no Distrito Federal e a mais de um dia de viagem rodoviária de Natal no Rio Grande do Norte, foi no ABC que Vaná encontrou a redenção futebolística. 35 presenças pelo clube de Natal em 2016, na Serie C do campeonato brasileiro, catapultaram Vaná para o sucesso e para o futebol europeu, mas, mais importante que isso, recolocaram a carreira do guardião no rumo certo. Hoje, depois de uma temporada de alto nível ao serviço do Feirense em que foi considerado uma das figuras do campeonato, Vaná é associado a alguns dos principais clubes portugueses como reforço durante o próximo mercado de Verão. Na despedida do ABC, não faltaram lágrimas e Vaná prometeu regressar.
Por esta altura, e quando grande parte dos atletas goza um merecido e recompensador período de férias, Vaná já treina. A forma não pode ser perdida e chegar à nova época em condições físicas invejáveis aproximam-no da titularidade. Seja em Santa Maria da Feira, no Feirense, seja em qualquer outro clube português. Afinal, Vaná surge na imprensa como alvo dos principais clubes portugueses para o reforço das suas balizas durante este Verão. Ciente das negociações mas sem saber em que patamar se encontram, certo é que Vaná não dispensa o treino enquanto outros não querem sequer sonhar com isso. É um profissional competitivo e, principalmente, um profissional exemplar. O futebol é o seu oxigénio. Não quer saber de mais nada.
"A especulação de que vai sendo alvo não é novidade nenhuma para mim". Wlamir Machado é treinador de guarda-redes do ABC e não queria acreditar quando o Coritiba enviou Vaná para Natal em Janeiro de 2016. Uma prenda fora de época. Diz-nos que Vaná, talvez por ser um guarda redes de perfil oposto ao habitual do que os técnicos brasileiros estão acostumados, não convenceu os sucessivos técnicos que passaram pelo Coritiba entre 2012 e 2016. Gilson Kleina, por exemplo, admite ao Bancada que quando chegou ao clube do Paraná já Vaná tinha sido emprestado ao ABC. Curioso é o facto de Vaná ser oficializado como reforço do ABC mais de duas semanas após a chegada de Gilson Kleina a Curitiba.
"Vaná foi muito mal aproveitado no Coritiba", avalia Wlamir Machado que, em tempos, trabalhou com Adriano Facchini e com Douglas, guardiões que brilharam nos relvados portugueses e cujas carreiras segue atentamente ainda hoje. Afinal, o nível em que deixa os seus ex atletas é o seu principal cartão de visita, defendendo que aos treinadores de guarda redes nem sempre é dado o devido crédito - Adriano, recorde-se, irá representar o Desportivo das Aves na próxima temporada. Wlamir Machado, com passagens pela Tunísia (Esperance Tunis) e Nicarágua, é por isso o modelador de alguns dos bons talentos brasileiros que guardaram as balizas de alguns clubes portugueses nas últimas temporadas. Na Nicarágua, conta-nos, colocou jovens de 17 anos na equipa de Sub-19 e em cinco meses de trabalho fez regressar um guardião à seleção que não era convocado há três anos. Sobre Vaná, confessa nunca ter tido dúvidas que o atual guarda-redes do Feirense sempre mostrou capacidade para jogar a um nível bem superior ao do da Série C brasileira.
A Vaná, Wlamir Machado disse um dia: "Vá e mostre todo o seu futebol. Vai durar pouco tempo nesse clube". Vaná preparava-se para deixar o ABC e ingressar no futebol europeu via Portugal, enquanto o Coritiba negociava o seu passe com o Feirense. Em Santa Maria da Feira, Vaná mostrou o que melhor sabe fazer e o que Wlamir Machado sempre dele conheceu. Orgulhoso, reitera o profissionalismo de um amigo com quem não fala há duas semanas mas cujo contacto é frequente. Um guarda redes arrojado. De técnica apurada. Forte na distribuição e com um jogo de pés ao nível do exigido por um grande clube. Algo que Wlamir Machado destaca particularmente. Na Europa, diz-nos, o jogo de pés de um guarda-redes é muito mais requisitado que no Brasil.
Lágrimas próprias e alheias no jogo de despedida
Vaná saiu do ABC de forma bem diferente daquela que saiu de Curitiba. Fazendo chorar adeptos e chorando ele próprio. Em poucas semanas, o atual guarda-redes do Feirense tornou-se um ídolo em Natal. Vaná deixou o ABC após conquistar o título estadual do Rio Grande do Norte - tendo sido considerado o guardião do torneio e ganhado a alcunha de "Paredão" - e com uma vitória perante o grande rival do ABC, o América-RN. O guarda redes brasileiro foi um dos destaques da equipa no semestre que passou em Rio Grande do Norte e perante o carinho que recebeu das bancadas não conteve as lágrimas. Era noite de redenção, depois de em 2015 ter sido fortemente criticado pela torcida do Coritiba após a perda do título paranaense para o Operário. Na final do Campeonato Paranaense de Futebol de 2015, o Coritiba é convictamente derrotado pelo Operário num agregado final de 5-0.
Essa poderá ter sido a razão pela qual Vaná perdeu espaço no clube que o formou. Wlamir Machado situa-nos no tempo, contextualiza-nos a situação, e explica-nos que quando Vaná chega ao ABC, era considerado o quarto guarda redes do plantel do Coritiba. Curiosamente, numa altura em que Vaná acabara de ser titular durante todo o estadual do Paraná. Wlamir ainda hoje não entende como o Coritiba não aproveitou Vaná de outra forma. A situação, porém, tornou Vaná mais forte e em poucos meses o guarda redes brasileiro deixou as divisões secundárias do Brasil para ser figura numa das principais ligas da Europa.
A situação atual de Vaná encontra paralelo naquilo que sucedeu durante o final do estadual de 2016 que o ABC venceu e é ilustrativa do profissionalismo que Wlamir Machado reitera. Vaná, mesmo sabendo que a sua transferência para a Europa estava a ser negociada e finalizada, manteve o foco e ajudou o ABC a vencer o clássico frente ao América. O profissionalismo que, hoje, leva a que Vaná não esteja de férias na sua cidade natal mas, sim, a manter a forma que lhe permita impressionar, quem sabe, um dos grandes clubes portugueses.
A despedida de Vaná do ABC foi emocional e o guardião prometeu voltar. Ao seu maior fã, João Gabriel, de cinco anos, com quem entrava sempre em campo e que padece de uma grave doença na coluna, deixou as luvas do último jogo ao serviço do ABC. O futebol ainda é mais que um jogo e a humanidade de Vaná, inata como o seu profissionalismo, entrega e superação, conquistou a torcida do clube de Natal tal qual havia feito com as suas exibições.