Portugal
Uma defesa de infantis que apagou momentos de brilhantismo no ataque
2018-08-02 22:40:00
José Gomes terá pensado no futebol americano onde os processos defensivo e ofensivo são momentos sem ponto de encontro

Um dia Jorge Jesus disse que se as regras lhe permitissem, ele substituía um determinado jogador sempre que a equipa estivesse a defender e voltava a colocá-lo em processo ofensivo, tipo andebol. Hoje, José Gomes terá pensado no que se faz no futebol americano, por exemplo, onde há dois conjuntos, a equipa ofensiva e a defensiva. É que lá na frente, o Rio Ave pareceu uma equipa de topo, daquelas que poderia ombrear com qualquer outro conjunto, mas lá atrás… enfim, foi mau de mais.

No final da partida que terminou com um empate a quatro golos e com o Rio Ave fora da Liga Europa, José Gomes tentou lembrar que não foi a defesa que sofreu quatro golos, mas sim a equipa que sofreu quatro golos. É verdade que o que diz o técnico tem razão de o ser. Quer dizer, afinal de contas, o primeiro defesa é o ponta-de-lança, certo? Tudo bem. A equipa é um bloco e se as bolas chegaram à defesa vila-condense tiveram de passar pelo ataque e pelo meio-campo. Ok. Isso já percebemos.

Mas o que vimos esta noite foi uma equipa do Rio Ave com duas caras. Os primeiros minutos revelaram um completo desacerto no quarteto defensivo da equipa portuguesa: o golo de Sheridan, logo aos seis minutos, é sintomático dos problemas de coordenação defensiva que vão afetando o setor mais recuado do Rio Ave. José Gomes poderá querer proteger os seus homens e fazer valer o espírito de equipa, mas o que se viu hoje foi um desastre e não se pode culpar os avançados.

E não se pode culpar os avançados por uma simples razão: é que o Jagiellonia não teve muitas oportunidades de golo e poucas vezes pisou o último terço do terreno, mas sempre que lá ia marcava. E marcava por falhas óbvias dos defesas. Já falámos do primeiro golo polaco, erro de crianças. O segundo então não lembra a ninguém: uma bola bombeada que cai na área, logo nos pés do jogador do Jagiellonia, depois de Buatu se ter esquecido de subir, como havia feito o resto da linha defensiva do Rio Ave.

A descoordenação defensiva da equipa de José Gomes ficou novamente a nu no lance do terceiro golo polaco. A equipa do Rio Ave nunca percebeu como evitar que o espaço entre a linha mais recuada e o guarda-redes fosse aproveitado pelas movimentações dos adversários que mais uma vez marcaram a gosto. O quarto golo foi marcado de cabeça. Dentro da pequena área. Na marcação de um pontapé de canto. Ou seja, outra falha clamorosa dos homens encarregues daquele espaço, normalmente os centrais e o guarda-redes.

É com muita pena nossa que estamos aqui a lamentar a eliminação do Rio Ave das competições europeias devido ao processo defensivo - para não dizermos que a culpa é da defesa - quando lá na frente, a equipa de José Gomes fez quase tudo bem. É de lamentar não estarmos a dar mais destaque à exibição de Galeno, que marcou dois golos - um deles de belíssimo efeito, na marcação e um livre direto à entrada da área - e encheu o campo, sobretudo na primeira parte. É de lamentar não estarmos a falar de como é que o Sporting volta a não aproveitar o talento de Dala, que mostrou ser um avançado na verdadeira aceção da palavra.

Lá fora, no futebol americano, parece que o processo defensivo é separado do ofensivo, o que não se passa com o futebol que nós tantos gostamos, é certo, mas se pudesse, José Gomes trocava toda a equipa no processo defensivo. É que foi um desastre e fez esquecer tudo o que de bom foi feito pelos homens do ataque.