Portugal
Um homem com caparro e um Benfica com arcaboiço
2018-07-21 19:15:00
Castillo dá ao Benfica o que Jiménez nem sempre soube dar.

Esqueçam o golo. Disso já falaremos mais à frente. Nicolas Castillo, para além do belo golo que marcou, mostrou que tem coisas que outros não têm. Mais: mostrou ter coisas que poucos têm. É um autêntico “animal” e sabe fazer uso disso. O Benfica venceu o Sevilha FC, por 1-0, e Castillo marcou pontos. Dificilmente os pontos suficientes para vir a ser titular no início da temporada, mas marcou alguns. E foi uma característica de Castillo, da qual já falaremos, que permitiu ao Benfica mostrar, hoje, mais arcaboiço tático no controlo do jogo e estar menos dependentes de fogachos individuais. Foi uma equipa crescidinha, capaz de ter superioridade na zona central e de ter bola no meio campo adversário.

A pré-temporada do Benfica já trouxe, no Bancada, destaque a Odysseias – que hoje voltou a estar seguro, apesar de ter tido pouco trabalho – e aos jovens Félix e Gedson. O médio-centro, apesar de não ter dado tanto nas vistas como nos dois primeiros jogos, voltou a mostrar-se, sobretudo na agressividade e intensidade defensivas (recuperou algumas bolas em zonas adiantadas) e, a espaços, na capacidade de sair em condução e "comer metros". Num 4x4x2, poderá ser o segundo médio mais agressivo do que Pizzi e com mais capacidade de ser um verdadeiro 8, saindo em transição. Em 4x3x3, como foi hoje, terá ainda mais liberdade para mostrar a capacidade técnica, de transporte e de chegada à área (por vezes surgiu até mais à frente do que Pizzi, naquele duo de interiores). Está fechado o capítulo Gedson.

Hoje, o destaque é outro. Castillo.

Esqueçam o golo. A parte de Castillo ser uma “bestinha”, do ponto de vista físico, é visível a olho nu. O homem não é particularmente alto, mas tem um “caparro” de respeito. O que faltava ver é se este arcaboiço era, ou não, usado em proveito da equipa. E foi.

Como ponta-de-lança do 4x3x3 trazido por Rui Vitória, Castillo fez o que um avançado tem de fazer: abrir espaços para as diagonais de Rafa, arrastar o central e pedir bola em apoio frontal. Fê-lo várias vezes – nem todas correspondidas por um meio-campo por vezes longe dele – e, quando pôde receber, mostrou que sabe usar o corpo. Segura e distribui bem, fazendo-o, algumas vezes, antes de o central o “abafar”. E é mesmo este o segredo. A um ou dois toques, Castillo dá ao Benfica o que Jiménez nem sempre soube dar: o mexicano é mais um jogador de largura e profundidade, enquanto este chileno consegue receber, abrir espaços, esperar pelos apoios e distribuir num dos alas ou devolver a um dos médios.

Esta capacidade de Castillo foi o ponto-chave para que o Benfica estivesse, ao contrário do que é habitual, menos agarrado aos fogachos individuais dos alas. A equipa teve bola e circulou-a bastante, apoiando-se no trabalho e linhas de passe de Castillo e, consequentemente, nas diagonais de Rafa e Cervi, por um lado, e as triangulações seguras de Pizzi e Gedson, por outro. Por falar em Rafa: o homem tem mesmo de pensar no que quer fazer da vida e evoluir na definição das jogadas. É um verdadeiro desperdício que aquela qualidade toda acabe por resultar em… desperdício de jogadas.

Mas vamos lá ao golo. Já falámos de que Castillo é uma autêntica besta e que sabe usar o corpo. Foi ele a marcar o golo do Benfica e fê-lo num lance no qual até estava a ser agarrado. Como se viu, não é fácil impedir um “touro” destes de fazer o que pretende. Muito forte fisicamente.

Em termos técnicos, o golo - que pode ver aqui - merece destaque. Apesar de estar marcado, o chileno – que nem é muito alto – conseguiu ganhar no ar e fazer um belo cabeceamento. Muito bom golo, caro chileno.

Por fim, nota para as boas exibições de Fejsa - limpou o que apareceu -, Conti - muito seguro e sem medo de verticalizar os passes - e Grimaldo - mais solto e desequilibrador do que no final da última temporada. Por outro lado, Salvio definiu quase sempre mal e Rafa desperdiçou o que outros criaram para ele.

Benfica-Sevilha FC, 1-0 - Castillo (57’)

Onze inicial do Benfica: Odysseas; André Almeida, Conti, Jardel, Grimaldo; Fejsa, Gedson, Pizzi; Salvio, Rafa e Castillo.
Jogaram ainda: Rúben Dias, Cervi, Zivkovic, Jonas, Yuri Ribeiro, Alfa Semedo, Luisão, João Félix, Samaris, Ebuehi.

Onze inicial do Sevilha FC: Vaclík; Nico Pareja, Amadou, Carriço, Arana; Roque Mesa, Franco Vázquez, Correa, Nolito, Sarabia; Ben Yedder.
Jogaram ainda: Sergio Rico, Sergio Escudero, Marc Gual, Genaro Rodríguez, Corchia, Federico San Emeterio, Lara, Borja Lasso.