Portugal
Um FC Porto louco pelos Guns N’ Roses
2018-04-23 22:35:00
O FC Porto venceu e venceu bem. Venceu e venceu fácil.

Os Guns N’ Roses cantam “Live and let die” [vive e deixa morrer, em tradução literal] e foi isto que o FC Porto fez, nesta segunda-feira, no 5-1 frente ao Vitória de Setúbal: viveu – e viveu à grande – e deixou os sadinos morrer. Logo ali, no início do jogo. Os Guns N' Roses também cantam “It’s so easy” [é tão fácil] e tudo isto foi, de facto, muito fácil. Em parte, porque o Vitória parece nunca ter visto um jogo do FC Porto. Mas já lá vamos.

O FC Porto venceu e venceu bem. Venceu e venceu fácil.

A receita é sempre a mesma

Nas onze pistas para este jogo, dissemos-lhe que o FC Porto é a equipa com mais duelos aéreos ganhos na Liga Portuguesa e que o Vitória é a terceira mais fraca nessa façanha. Perdoe-nos a presunção, mas, hoje, bateu certo. Antes sequer de ter tempo para dizer “boa noite” aos jogadores, os adeptos portistas já estavam a festejar. Aos seis minutos, veio jogo aéreo enviado por Telles – os cruzamentos do brasileiro são inacreditáveis – e Soares cabeceou a bola que permitiu a Marega fazer a recarga (muito má a defesa inicial de Cristiano). Até no faro de golo Marega melhorou muito. Aos 13 minutos, novamente jogo aéreo. Felipe cabeceou uma bola que voltou a permitir uma recarga, desta vez uma acrobacia de Marcano. Belo golo e 2-0. Com uma facilidade tremenda, o FC Porto tinha o jogo na mão.

É aqui que vale a pena falar da tal falta de estudo do Vitória. O FC Porto tem uma jogada-tipo que faz vezes sem conta, em todos os jogos. Todos. E é simples: um dos “panzers” da frente baixa em apoio frontal, arrastando um dos centrais, e segura. Mal o panzer faz o movimento, alguém aproveita o espaço deixado pelo tal central e o ajuste do outro central para romper na profundidade. A bola há de lá chegar. O Vitória deixou-se ir neste engodo vezes sem conta. Pedia-se ou mais dureza no homem que recebia em apoio (com faltas, se fosse caso disso) ou mais esperteza no controlo da profundidade.

Isto aconteceu uma vez e, na segunda, logo aos 17 minutos, foi Marega o responsável por romper na profundidade e foi Brahimi o craque que finalizou. Com muita classe.

Para terminar as analogias já feitas com a banda americana, falemos de Guns [armas] e de Roses [rosas]. O FC Porto entrou em campo com armas poderosas em “dia sim”, mas ainda deu uma rosa ao Vitória. Aos 25 minutos, ficou toda a gente a dormir, num lançamento lateral, e o cruzamento de Patrick, que pôde decidir com calma, foi ter com João Amaral, que pôde finalizar com calma.

Agora adivinhe o que se passou aos 36 minutos. Sim, foi isso. O FC Porto voltou a fazer o tal movimento clássico e o Vitória deixou-se levar. Outra vez. Marega baixou, libertou Ricardo na profundidade e o lateral cruzou atrasado para o remate de Corona, na passada.

Resultou com o Benfica, mas…

Houve outra questão interessante na postura do Vitória. A equipa quis fazer algo semelhante ao que tinha feito ao Benfica, no Bonfim: não pressionar a saída dos centrais portistas, mas bloquear os laterais. Bloquear Grimaldo foi uma boa ideia, no Bonfim, mas, hoje, foi impossível bloquear os laterais portistas, porque Telles e Ricardo subiram muito e, com Brahimi e Corona a baixar, foi impossível a Costinha e Wallyson saberem quem deveriam agarrar. Mais: esta pressão média-alta fez com que a última linha também acompanhasse a linha média (para não partir a equipa), mas, assim, deixou espaço nas costas. Aquilo que, com o FC Porto, é sempre fatal. Houve receita igual para adversários diferentes e isso não resultou, porque este FC Porto não joga com as mesmas ideias daquele Benfica.

Entre o fraco jogo aéreo e a aparente falta de estudo ao FC Porto, o Vitória permitiu que os dragões resolvessem este jogo na primeira parte. Mas também podemos dizer ao contrário: o FC Porto foi demasiado forte e, sobretudo, demasiado agressivo e acutilante na intenção de resolver cedo o jogo. E ter jogadores destes também ajuda.

Foi estranho, Sérgio.

Uma nota: Ainda na primeira parte, Marega estava com problemas físicos. Até chegou a sair, para ser assistido. Ao intervalo, regressou mais cedo do que os colegas para fazer testes ao músculo. A questão é: porquê arriscar manter o maliano em campo? O 4-1 era um jogo mais do que ganho. Mais: Marega vinha de problemas físicos. Mais: o maliano tem muitos jogos nas pernas. Mais: faltam três jogos decisivos. Mais: no banco, havia Gonçalo Paciência a precisar de golos e, sobretudo, a precisar de jogo. Por tudo isto, não havia contexto mais perfeito do que este para tirar Marega ao intervalo, mesmo que o jogador parecesse estar bem. Pareceu-nos estranha a opção de Sérgio Conceição.

Quanto à segunda parte, pouco temos para escrever, porque pouco se passou. José Semedo foi um dos mais “molinhos” naquela zona crítica para onde baixavam os avançados portistas e não se percebeu como é que, segundo as estatísticas, é o jogador com mais interceções de bola na Liga. Saiu ao intervalo. Na segunda parte, o Vitória conseguiu ter mais bola e o FC Porto, tranquilo, também não quis magoar mais os sadinos. Controlou o jogo durante quase toda a segunda parte e o tempo foi passando.

Vitória justa e nada do que pudesse acontecer nos segundos 45 minutos mudaria o desfecho de um jogo bem resolvido na primeira parte. O FC Porto viveu e deixou morrer.