Já pensou se o FC Porto tivesse de jogar sempre em Lisboa ou se o Benfica fizesse da Invicta o seu 'quartel-general'? Consegue imaginar a 'toca' do leão ser no Porto? É mais ou menos isso que acontece com o Shakhtar de Paulo Fonseca que anda com 'a casa às costas' nos últimos anos e é tricampeão ucraniano. As adversidades são ultrapassadas rumo ao sucesso. E que sucesso.
Casa é o nosso abrigo, o nosso local, o espaço onde estão as nossas raízes. Assim é na vida como no futebol. Apesar de não ser necessariamente certo que uma equipa jogue melhor ou pior em casa, a verdade é que será sempre estranho uma equipa não realizar os seus jogos caseiros no seu palco. Que o digam os adeptos do Belenenses que ao longo da época assistiram a uma divisão do seu clube em dois (a equipa da SAD e a equipa do clube).
Mas isso foi por uma questão interna, não devido a uma guerra entre povos, como se assiste na Ucrânia, onde o feito de Paulo Fonseca e os seus adjuntos ganha ainda maior dimensão.
Chegado a território da ex-União Soviética, Paulo Fonseca já sabia ao que ia - não ia jogar na imponente Donbass Arena, que tem poucos anos de vida mas já muitas marcas de destruição por causa dos bombardeamentos - mas nem isso lhe retirou a ambição e três anos volvidos foi... três vezes campeão.
Um feito. Seu, dos adjuntos, dos jogadores e até dos adeptos (aqueles que fazem milhares de quilómetros para apoiarem o clube do seu coração).
O Shakhtar, clube que nasceu da garra de mineiros, anda com a casa às costas e até comprou um avião dado que são longas as viagens para uma equipa que deixou de jogar Donetsk desde que, em 2014, 'rebentou' a guerra por aquelas bandas.
"No ano passado fizemos à volta de 126 viagens. Não é fácil. Quando cá cheguei jogávamos em Lviv", reconheceu Paulo Fonseca. Essa região., Lviv, fica a cerca de 1 232 km de Donetsk.
Por isso, o Shakhtar treina em Kiev, a capital do país, e joga em Kharkiv, perto da fronteira com a Rússia.
Na capital ucraniana, cidade do rival, até já compraram um centro de treinos que foi construído no tempo da União Soviética, tão marcadamente ainda presente por aquelas bandas com estruturas e recordações.
"Está cá muita gente a trabalhar que está deslocada de Donetsk. Ganhar nestas circunstâncias é especial para as pessoas. Eu sinto isso", confessa Paulo Fonseca, em declarações ao canal 11 da FPF, que quis conhecer melhor esta realidade pouco comum de um clube que até para jogar em casa faz viagens de avião.
O ginásio em Kiev era um teatro que foi convertido e agora tem todas as máquinas necessárias para os jogadores. O clube tem agora relvados aquecidos para fazer frente ao rigor do frio.
O Shakhtar tem Donetsk mas fabrica as suas conquistas todas na cidade do rival perante tantas dificuldades.
Assista à reportagem do canal 11 da FPF.