Portugal
SC Braga - Vitória de Guimarães, um dérbi que vai além do futebol
2017-09-17 14:40:00
O dérbi do Minho é um dos mais emocionantes do nosso futebol e começa a ser vivido dias antes do dia de jogo

Joga-se este domingo um dos dérbis mais emocionantes do futebol português. SC Braga e Vitória de Guimarães nem são clubes da mesma cidade, como no “Derby” original, mas os pouco mais de 20 quilómetros que separam as duas cidades minhotas talvez até intensifiquem a rivalidade, que vai além do futebol, mas que “o futebol é que exprime ao máximo”, explica José Barroso, natural de Braga e antigo capitão do maior clube da cidade, ao Bancada.

Em Guimarães, “o jogo é domingo, mas começa logo na segunda feira anterior. Fala-se nas escolas, cafés… mexe com a cidade”, conta Laureta, vimaranense que jogou no Vitória e depois passou pelo SC Braga, algo que “anos antes nunca lhe tinha passado pela cabeça”, coisas a que a profissão obriga. Barroso concorda que o dérbi começa a ser vivido ainda antes do dia de jogo. “As massas associativas pensam nisso durante a semana, é normal. Não é por acaso que já há algumas semanas o próprio presidente do Vitória de Guimarães “atiçou” este jogo…”, disse, referindo-se aos comentários de Júlio Mendes sobre as vendas de Jordão e Pedro Neto por parte do SC Braga, clube que depois emitiu um duro comunicado em relação ao rival. Laureta, no entanto, defende que “o presidente do Vitória respondeu a uma pergunta a dizer que não percebia como é que miúdos custavam tantos milhões de euros e o António Salvador aproveitou para incendiar tudo”. Foi apenas o último episódio de uma rivalidade muito antiga.

“Marroquinos” versus “espanhóis”

Durante a semana, de pouco mais se fala à volta da Sé de Braga e do Castelo de Guimarães. A rivalidade entre Braga, desde sempre a cidade-estado religiosa, e Guimarães, o berço da nação, já é antiga. A história diz que a rivalidade sempre se espalhou pela história, economia, educação, domínio territorial ou industrial. No último século, o futebol entrou na equação.

A rivalidade entre SC Braga e Vitória de Guimarães é antiga, mas Laureta considera que a melhoria do SC Braga nos últimos dez anos a acentuou. “Desde que entrou o Salvador, têm estado por cima, também porque têm apoios que nós não temos”, afirmou, enquanto José Barroso considera que “as massas associativas sempre acompanharam as suas equipas. Vai sempre muita gente a Guimarães e vem muita gente de Guimarães a Braga.”

Nos anos 90, cresceram alcunhas mordazes entre os dois rivais. Depois de se sentirem prejudicados por um árbitro, os adeptos do Vitória surgiram, no jogo seguinte, com uma tarja a dizer “para sermos tratados assim, mais vale sermos espanhóis”. E espanhóis ficaram. Como resposta, os adeptos do SC Braga ficaram os “marroquinos”.

Barroso afirma, com orgulho, que “Braga é a capital do Minho e o SC Braga é o clube maior do Minho”, ainda que ressalvando que “são dois grandes clubes”. Laureta defende que Guimarães tem os adeptos “mais fervorosos” e que é “a única cidade do país em que as pessoas são mesmo do clube da terra e a única que não tem nenhuma casa do Benfica, FC Porto nem Sporting.” O antigo jogador lembrou também as épocas em que jogou no SC Braga, dizendo que era estranho quando, “em Braga, às vezes a jogar com o Benfica, havia 90 por cento de adeptos do Benfica”. No entanto, para Barroso, “isso é muita teoria. Os adeptos do Vitória de Guimarães são do Vitória de Guimarães, os do SC Braga são do SC Braga. Uns dizem uma coisa, outros dizem outra. Penso que não dá para ligar muito a isso. Os adeptos do SC Braga sempre foram os melhores. Eu digo que são os melhores, os de Guimarães dizem que são os deles. A massa associativa do SC Braga está sempre com a sua equipa e com o seu clube”, garante.

O lado mau da rivalidade, que não chega aos jogadores

Como em todos os dérbis, infelizmente, a intensa rivalidade pode levar a situações de violência. Depois de ter representado o Vitória de Guimarães e de passar pelo FC Porto, a mudança de Laureta para o SC Braga não foi bem aceite por muitos adeptos do Vitória e isso levo a um episódio negativo, que o ex-jogador contou ao Bancada. “Na época 1987/88, as duas equipas estavam a lutar para não descer, e quando cheguei ao Estádio do Vitória, com a comitiva do SC Braga, pelas 13h30, uma hora e meia antes do jogo, e quando ainda não havia muita gente, um adepto do Vitória tentou agredir-me, eu respondi… e o Vítor Manuel [treinador do SC Braga] ficou muito preocupado”.

Polémicas, como a já referida troca de palavras entre os dois clubes, a propósito das vendas de Jordão e Neto à Lazio, ajudam a aquecer os ânimos, mas é algo que não contagia os jogadores. “Isso é mais para adeptos. Os jogadores no campo fazem o seu trabalho, claro que querem ganhar, a situação também é um pouco diferente porque poucos jogadores são da terra, antes ainda havia mais essa situação. Os jogadores da terra sentiam ainda mais, mas é sempre um dérbi onde as equipas querem ganhar porque tem sempre um impacto muito forte nas massas associativas”, explica Barroso, cuja opinião é corroborada por Laureta, “os jogadores estão preocupados é em ganhar. O pior é que passa para a massa associativa”, diz o vimaranense.

O que parece certo é que “vai ser um dérbi com muita emoção e até ao fim. São sempre jogos muito difíceis, duros, com muita garra. Isso foram sempre quentinhos. E hoje também o será. São sempre jogos muito difíceis tanto lá como aqui”, afirma Barroso.

Este domingo, a partir das 20h15, SC Braga e Vitória de Guimarães entram em campo, no Estádio Municipal de Braga, e embora com poucos jogadores naturais das cidades dos clubes em confronto, é neles que as duas cidades depositam a sua confiança e a esperança de começar melhor a próxima semana. É que se o dérbi começa antes do dia de jogo, é certo que também se prolonga para a semana seguinte.

 

Artigo escrito por Eduardo Botelho, com Diogo Cardoso Oliveira.