Portugal
São Jonas caído do céu
2017-10-27 21:30:00
O Benfica venceu o Feirense, mas, neste momento, poderia muito bem estar "a chorar".

Futebol: mau. Emoção: assim-assim. Avançado: bom. Estas três premissas permitem resumir a vitória do Benfica (1-0) frente ao Feirense, nesta sexta-feira.

Num jogo em que o passar do tempo fez diminuir a qualidade do futebol, este resultado acaba por ter uma explicação simples: quem tem Jonas, tem golo. Quem não tem, arrisca-se a perder. Parece redutor resumir este jogo à influência de Jonas, mas o facto é que ambas as equipas poderiam ter saído da Luz com a vitória. Mandou… a eficácia. De Jonas, como sempre, que já leva 12 golos em dez jornadas.

Uma opção estranha, para começar

No Estádio da Luz, Nuno Manta trouxe o que prometeu: um jogo de 50-50. Ainda assim, nem Benfica nem Feirense parecem ter levado a lição bem estudada, algo que fica claro na forma como nem uma nem outra equipa souberam compreender aquilo em que o adversário é mais forte.

Primeiro, o Feirense. A equipa nortenha, estranhamente, não quis fazer as duas coisas que mais incomodam este Benfica de Rui Vitória: pressionar a primeira fase de construção – algo ainda mais vital quando havia um Filipe Augusto e não um Pizzi – e saber fechar o jogo lateral dos encarnados. O Feirense abdicou de apertar a a saída de bola do Benfica, que ia criando com tranquilidade e, sobretudo, conseguindo ter os alas e os laterais dentro do jogo. Para esses, havia espaço e havia tempo. Muito tempo para decidir e muito espaço para executar. Apesar do ascendente inicial do Benfica, não é injusto dizer que o golo caiu do céu, aos trambolhões. Jonas, sempre ele, recebeu um “docinho” de Caio Secco e não falhou.

A partir daqui, houve outro jogo. Um jogo feio, acrescente-se. O Benfica baixou os níveis de intensidade e o Feirense soube fechar os corredores e, essencialmente, soube obrigar Fejsa e Filipe Augusto a terem mais bola e protagonismo, algo que prejudicou uma equipa encarnada refém da pouca fluidez verticalidade que ambos dão à circulação. Salvio, Jonas e Seferovic estiveram quase sempre fora dela e só os rasgos de Diogo Gonçalves, bem como a grande exibição de Rúben Dias iam dando motivos para sorrir aos adeptos encarnados.

Rezar, adiar, aguentar

Na segunda parte, o crescimento do Feirense acentuou-se. A equipa de Nuno Manta veio do intervalo a todo o gás e poderia mesmo ter marcado mais do que um golo (Svilar foi respondendo bem). Sabe o que faltou? Isso mesmo, um Jonas. O Benfica bem pode agradecer o pouco acerto na finalização de uma equipa em que Briseño cortou o que tinha de cortar, Babanco distribuiu com qualidade e Etebo mostrou por que motivo tem, numa equipa modesta, uma cláusula de rescisão de dez milhões de euros. Ficou, ainda assim, a sensação de que esta equipa e este jogo pediam um avançado mais móvel e agressivo, dado que João Silva foi presa fácil, sobretudo quando tentava, ingloriamente, jogar em apoio frontal.

Com o avançar do tempo, o jogo foi ficando cada vez mais feio e a equipa do Benfica cada vez mais larga e dependente de fogachos individuais. Ainda assim, com mais espaço para jogar – também fruto do cansaço do Feirense –, o Benfica poderia ter conseguido matar o jogo, mas faltou qualidade na definição das jogadas.

Um elogio às duas equipas, sobretudo à visitante e teoricamente mais fraca: ambas procuraram vencer e isso, nos tempos que correm, é salutar.

Quanto ao árbitro, Luís Godinho, a análise é complicada. É agradável a tentativa de deixar jogar e alargar o critério, mas há que saber ajustar as punições disciplinares. Alguns amarelos por mostrar e algumas faltas para lá do que se aceita, mesmo com critério largo.