Portugal
“As ocorrências dos últimos dias devem motivar uma reflexão”, diz Salvador
2020-03-05 13:15:00
Presidente do SC Braga critica ofensiva do Sporting para contratar Rúben Amorim e aponta dedo aos regulamentos

O presidente do SC Braga foi extremamente duro nas críticas à forma como o Sporting avançou para a contratação de Rúben Amorim, criticando os regulamentos e sugerindo uma “reflexão” no futebol português.

“As ocorrências dos últimos dias devem motivar uma reflexão desportiva e ética”, começou por dizer, na conferência de imprensa de apresentação de Custódio, nesta quinta-feira.

António Salvador referia-se à ‘ofensiva’ leonina, na tentativa de contratar Rúben Amorim.

“O Sporting de Braga foi surpreendido com um movimento de um clube seu concorrente, curiosamente o que nos persegue na tabela, e que, à luz dos regulamentos e dos contratos, conseguiu assegurar o nosso treinador. Situações destas podem desvirtuar competições. Na liga espanhola, tal situação não ocorreria. Proponho um debate no futebol português”, apontou o dirigente arsenalista.

Salvador, que explicou detalhes das reuniões mantidas com dirigentes do Sporting, garantiu também que o SC Braga fez tudo para segurar o técnico, que foi oficializado no Sporting, nesta quinta-feira.

Como "as notícias" se foram adensando nesse sentido, propôs a Rúben Amorim renovar por mais uma temporada e rever as condições salariais, tendo feito notar ao técnico que, se quisesse sair, o Sporting teria que pagar a cláusula de rescisão.

"Um dia, chamei o Rúben Amorim e fui claro com ele. O SC Braga não vai negociar. Quero dizer-te que o SC Braga quer renovar contrato contigo. Está disponível para melhorar condições contratuais. Mas quero ser claro contigo: só sairás pela cláusula de rescisão. O Rúben Amorim foi muito correto, disse que percebia [a posição do Braga] e que, se não fosse para o Sporting, ficaria com muito gosto em Braga", disse.

O líder arsenalista admitiu o "timing inesperado" da apresentação do novo treinador, "o quarto da época", lembrando que foi Abel Ferreira quem começou a temporada, tendo-lhe seguido Ricardo Sá Pinto e Rúben Amorim, e confessou sentir-se "frustrado" por ver mais uma vez interrompido o trabalho de um treinador que lançou.

"Claro que é uma frustração: todos os anos ter que fazer equipas, suceder treinadores, fazer treinadores, preparar treinadores para a concorrência e para grandes clubes europeus, mas por outro lado também é gratificante para o nosso clube e para quem trabalha aqui no dia a dia. Mas custa, e muito, porque só nós sabemos o que passamos para que tudo isso seja colmatado sem que haja problemas, maus resultados ou desestabilização", acrescentou, emocionado.

António Salvador destacou o "conhecimento profundo" de Custódio do que é o SC Braga e da sua filosofia desde que foi criada a cidade desportiva.

"O Custódio é da família, um dos nossos, este é um dia marcante para ele e para todos nós. É o líder certo para continuar a conduzir este excelente grupo de jogadores, vamos alcançar grandes feitos, maiores dos que temos conquistado", disse.

Custódio, que assinou um contrato por duas épocas e meia, com uma cláusula de rescisão de 15 milhões de euros, tem apenas o nível I de treinador de futebol.

O presidente dos arsenalistas frisou que o técnico será "certamente julgado pelos resultados, mas não pelas suas aptidões e competências", acusando os responsáveis do futebol português de impedirem o treinador de melhorar a sua formação.

"Tentou inscrever-se em junho do ano passado para tirar o nível II e III e não aceitaram porque tinha que ter um ano de estágio. Como é possível? Que resolvam esta embrulhada que ninguém percebe isto. É o momento dos responsáveis colocarem a mão na consciência e refletirem sobre o mal que estão a fazer ao futebol português, porque barrar os melhores e os mais competentes é hipotecar o futuro. Por mais obstáculos que se criem, esta casa orgulha-se de ter formado grandes treinadores”, assinalou.

Custódio, que orientava os juvenis do SC Braga, reconheceu que chegar a treinador da equipa principal era o seu objetivo, mas não imaginava que pudesse ser tão rapidamente.

"Quando o assunto é SC Braga, estou sempre disponível para tudo porque confio nas pessoas com quem trabalhei alguns anos. Sei da exigência que é representar o Braga e estou preparado para ela, temos um grande plantel e uma grande equipa e é com grandes expectativas que abraço este grande desafio", disse.

Custódio disse ainda dar "continuidade a um futebol positivo e alegre" e deixou em aberto a possibilidade de manter o sistema tático implementado por Rúben Amorim (3x4x3).

"Como me defino como treinador? Já estive daquele lado sei que o futebol é jogado por seres humanos e que jogadores felizes interpretam melhor as ideias", disse.