Portugal
Salin, o "líbero" de Mozer que chamava "fou" ao pessoal
2018-08-28 15:15:00
O Bancada falou com quem trabalhou com o guarda-redes do Sporting e ficou a saber que Salin já pensa no Feirense

A vida está cheia de surpresas e Romain Salin é o exemplo perfeito de que o que é verdade hoje, amanhã é mentira. O guarda-redes francês começou a pré-temporada como a quarta opção de José Peseiro para a baliza do Sporting e terminou o mês de agosto como melhor jogador no dérbi frente ao Benfica. Chegou a Portugal para jogar na Naval e assentou que nem uma luva na ideia que Mozer tinha para a equipa, “era muito rápido e jogava quase a líbero”. Quem nos conta é Tiago Rosa, antigo colega de Salin, que se via em palpos de aranha para perceber as frases, meio em português, meio em francês, do atual guardião do Sporting.

A exibição de Salin no empate entre Sporting e Benfica (1-1) do fim-de-semana passado foi merecedora de grandes elogios. O guarda-redes de 34 anos fez uma mão cheia de intervenções que impediram o golo dos encarnados. Para Tiago Rosa, antigo defesa da Naval e “grande amigo” de Salin, aquelas “defesas à gato” não surpreenderam, porque era mesmo assim que ele se exibia na sua primeira época em Portugal, na altura, um jovem de 26 anos que possuía ainda outra característica que saltou à vista dos colegas.

Mozer era o treinador da Naval e gostava de jogar com uma linha defensiva muito subida. Ora, para que esta ideia funcione, é fundamental um guarda-redes com uma boa leitura de jogo, um bom jogo de pés e velocidade acima da média, e foram mesmo essas características que Salin demonstrou poder oferecer à equipa. “No ano em que nos cruzámos na Naval jogávamos com a defesa muito subida”, recordou, ao Bancada, o antigo lateral-direito. “Era o Mozer o treinador. E o Salin, lembro-me bem, era muito forte a ler o jogo”, explicou Tiago Rosa.

“Tu és fou

Na retina dos colegas ficou, também, a facilidade com que Salin cobria os espaços entre a tal linha defensiva subida e a baliza: “Ele é muito rápido mesmo, e, nos tempos da Naval, quando lá estive com ele, ficávamos espantados com a velocidade dele. Era um autêntico líbero”, recordou o antigo jogador que passou ainda por clubes como FC Penafiel, Atlético e CD Fátima, entre outros,  e que revelou, ao Bancada, ter passado momentos muito divertidos com o seu “grande amigo” Salin.

“Eu dava-me muito bem com ele, aliás, ele é uma pessoa super simpática, educada e muito tranquila. É daqueles jogadores que todos os treinadores gostam de ter num balneário”, referiu Tiago Rosa, que se recordou de um episódio particularmente divertido. É que apesar de Salin se conseguir fazer entender na comunicação básica necessária entre guarda-redes e defesas, também protagonizava momentos engraçados com os colegas.

“Um dia estávamos a fazer um meiinho e eu entrei mais forte e o Salin virou-se para mim e disse: ‘Tu és fou’. E eu fiquei a olhar para ele sem saber o que ele me estava a chamar. ‘Tu és fou’, continuava ele a dizer. Só me lembro dos jogadores franceses que tínhamos no plantel, que eram alguns, a rirem e ele dizia que eu era fou. Só mais tarde é que percebi que ele me estava a chamar maluco. A partir daí passou a chamar-me fou sempre que me via”, contou Tiago Rosa.

A influência de Ederson

Depois de uma época na Naval, Romain Salin mudou-se para a Madeira para vestir as cores do Marítimo, onde esteve cinco épocas, com uma passagem de seis meses pelo Rio Ave. Em Vila do Conde trabalhou com Ederson, curiosamente, um guarda-redes conhecido pela boa leitura de jogo, bom jogo de pés (esquedino como Salin), velocidade e capacidade para fazer de líbero. Reconhece-se aqui um padrão portanto. Mas foi no Marítimo que Salin deixou marca, marca essa que fez com  que o Sporting pensasse nele como um bom suplente para o titularíssimo Rui Patrício.

O guardião francês assumiu o papel de segundo guarda-redes na temporada transata, mas com a chegada de Viviano, da Sampdoria e de Renan, do Estoril-Praia e a aposta no jovem da formação Luís Maximiano, Salin passou a ser dispensável para José Peseiro, segundo grande parte da imprensa. A verdade é que a vida dá muitas voltas e depois da grande exibição que fez na Luz, no empate frente ao Benfica, o pensamento de Salin está já no jogo com o Feirense: “O futebol é o momento e claro que deve ter ficado contente com o jogo que fez na Luz mas, se bem o conheço, depois de o jogo acabar já estava a pensar no próximo”, sublinhou Tiago Rosa.

O Sporting vai esgrimir forças com o Feirense no próximo sábado, em Alvalade, e é muito provável que José Peseiro mantenha a aposta em Salin. O guarda-redes tem estado em bom nível com apenas um erro grave a apontar: o lance do golo do Vitória de Setúbal, em Alvalade, que no entanto foi esbatido com uma grande intervenção ainda na primeira parte do encontro com os sadinos.