Portugal
Proença exalta-se na SIC. “Não me intimida”, reage Bento Rodrigues
2020-02-21 14:25:00
Presidente da Liga abordou a problemática do racismo. O modo como se expressou sobrepôs-se às suas ideias

Pedro Proença foi convidado de Bento Rodrigues no Primeiro Jornal, nesta sexta-feira, para abordar a temática do racismo, depois do incidente que teve Marega como vítima.

Numa conversa tensa, o modo como o presidente da Liga se expressou acabou por se sobrepor à mensagem.

“Está a gritar, não me intimida”, reagiu Bento Rodrigues, numa altura em que Proença já tinha sido confrontado com uma questão dura, pelo facto de não ter pronunciado “racismo”, no início da conversa, para escolher precisamente uma palavra para classificar o que aconteceu em Guimarães.

“Está com medo da palavra ‘racismo’? É que não a usou, ainda”, realçou o jornalista da SIC, apontando hesitações de Proença e o conceito aplicado por Pinto da Costa, que falara em “estupidez”.

“Não. Não. Foi um ato de racismo. Qualquer ato de violência, racismo, xenofobia, ou qualquer tipo de intolerância é um ato de estupidez. Existem órgãos próprios que, de forma muito célere, mandaram instaurar um processo disciplinar. Se, eventualmente, aconteceram esses atos de racismo, têm de ser penalizados”, disse.

“Disse eventualmente?”, questionou Bento Rodrigues. “Digo eventualmente porque, nestes processos, os modelos probatórios são absolutamente essenciais”, respondeu.

O facto de não ter havido uma "condenação óbvia" do presidente da Liga, depois dos insultos a Marega, é justificado pelo próprio dirigente.

"O presidente da Liga, sobre factos objetivos, tem de emitir a sua opinião. Falar de um caso que está a ser investigado parece-me prematuro. Há que respeitar a separação de poderes", disse Pedro Proença, antes de se exaltar. 

Veja aqui esse momento.

Concordando que “o futebol tem as suas responsabilidades”, nesta questão tão sensível, Pedro Proença apontou o dedo às autoridades, dando como exemplo as proibições de adeptos de frequentarem estádios e os artefactos pirotécnicos que são lançados pelas claques.

"Os casos da pirotécnia e artefactos. A Alemanha já resolveu o problema e nós pedimos a clara intervenção das forças policiais. É possível ter uma intervenção robusta, clara e objetiva. E é isso que o futebol pede. São mais de cinco milhões de euros que a Liga e o futebol profissional pagam por ano aos serviços de segurança pública. E exige-se muito mais. E a Liga estará na primeira linha", sustentou.  

“A questão do racismo não é desvalorizada. E não defendo que no futebol exista uma linguagem própria. O futebol deve potenciar o respeito pelo adepto pelo adversário”, realçou.

Certo é que há quatro clubes condenados por racismo e um deles pagou uma multa de 536 euros. “O cântico racista está a 536 euros, para a justiça?”, questionou Bento Rodrigues.

“Não é da responsabilidade da Liga, que atua em conformidade com os regulamentos. A Liga tem feito o seu trabalho. Temos normas que foram agravadas e 500 por cento. A norma do racismo poderá ter de ser agravada”, respondeu.

Num diálogo agressivo, com mais perguntas do que respostas, Proença prometeu ser sempre “o embaixador contra o racismo”. E não descarta a demissão, se não forem tomadas medidas para combater o fenómeno.

“Se pudesse resolver este tema, com certeza que o poderia fazer [demitir-se]. Mas o problema é mais profundo”, apontou.

Pedro Proença concorda que os clubes cujos adeptos entoem cânticos racistas sejam responsabilizados. “Claramente que tem de vincular um clube. São essas as boas práticas nacionais e internacionais”, defendeu.

Relativamente ao processo que decorre, no caso de Guimarães, nenhum esclarecimento, até porque é preciso “respeitar o momento processual”.

“Há um momento dos factos e das investigações. Até que haja condenação do Conselho de Disciplina da Federação, temos de ter cuidado com o que dizemos”, salvaguardou Pedro Proença.

O presidente da Liga revelou que falou com os presidentes do Vitória e do FC Porto. “Posso partilhar que a nossa preocupação é poder sanar o que podem ser as consequências do episódio”, disse apenas.

Convidado a colocar-se na pele do árbitro da partida, recusou fazê-lo. E defendeu o juiz, manifestando a convicção de que, se a equipa de arbitragem tivesse identificado um caso de racismo, teria agido em consonância.

O dirigente deixou, a finalizar, uma mensagem a Marega: “Deixo-lhe uma palavra de fair-play, que perceba que o desporto em Portugal não é isto e que eu, como presidente da Liga, irei levar isto até às últimas consequências”.