Portugal
Pela mão de Luís Castro, há um Vitória SC como há muito não se via
2018-12-25 21:00:00
Há vários anos que o Vitória não atravessava um momento como vive atualmente.

Há muito tempo que não se via algo assim por Guimarães. Sim, é certo que nos últimos anos, desde que o Vitória regressou à primeira divisão há precisamente uma década, por esta altura, catorze jornadas volvidas na Liga Portuguesa, o conjunto vimaranense até registou tantos ou mais pontos, porém, nunca embalados numa série como a que o clube liderado por Luís Castro vai estabelecendo nestes dias. É preciso mesmo recuar mais de uma década e aos tempos do Vitória da segunda divisão portuguesa para ver tal série dominante. Com o triunfo em casa, perante o Sporting, o Vitória alcançou o 12º jogo consecutivo sem qualquer derrota, venceu oito deles e não sofreu qualquer golo em sete desses encontros.

“Estar doze jogos sem perder é bom, mas é passado, não dá pontos e não nos remete para uma posição de destaque na tabela. Quando pensamos num jogo, pensamos de forma racional e não emocional. Num ambiente como o D. Afonso Henriques é possível fazer muitos golos. Sabemos do nosso poder, da forma como trabalhamos e da forma como somos apoiados, mas também sabemos a valia do adversário”, adverte Luís Castro.

Com oito vitórias e quatro empates nos últimos doze jogos disputados, o Vitória SC está neste momento embalado numa série como há muito não se via. Só entre fevereiro e setembro de 2007, recentemente, se viu algo parecido, quando entre segunda divisão e primeira, o conjunto de Guimarães, sob a mão de Manuel Cajuda, passou vinte jogos sem somar qualquer derrota. Treze deles venceu-os, sete empatou-os. Sim, é certo que se nos cingirmos somente a jogos do campeonato o Vitória esteve onze jogos consecutivos sem perder entre fevereiro e maio de 2017, numa série que teve mesmo sete vitórias consecutivas, porém, uma derrota em Chaves pelo meio, para a Taça de Portugal, concede à série atual do clube vimaranense estatuto especial e como não se via há uma década.

Mesmo em anos que o Vitória tinha tantos ou mais pontos do que aqueles que regista à 14ª jornada da liga portuguesa esta temporada, e que acabou quase sempre com o clube vimaranense na quinta posição que atualmente ocupa, o conjunto do Dom Afonso Henriques conseguiu uma série de resultados como a atual, algo conseguido não só devido a um futebol atrativo e de grande capacidade goleadora, como até por uma defesa coesa que nem sempre é destacada nas equipas de Luís Castro. Chegados ao Natal em quinto lugar na Liga Portuguesa, são poucas as equipas com mais golos marcados do que o Vitória, e ainda menos aquelas que menos golos sofreram do que o conjunto de Luís Castro. Na verdade, só os três grandes e o Belenenses SAD sofreram menos golos do que o Vitória, na liga, esta temporada.

Geralmente associado a um futebol atacante, atrativo e de grande envolvimento coletivo, também defensivamente o Vitória tem estado em destaque esta temporada e os últimos jogos são disso exemplo. Se o Vitória venceu seis dos seus últimos sete jogos disputados, em cinco desses seis triunfos o conjunto de Luís Castro não sofreu qualquer golo. Tal como frente ao Sporting, jogo presenciado por uns impressionantes 27.435 espetadores, a melhor casa da temporada num dos restantes 15 estádios da Liga Portuguesa que não Alvalade, Dragão ou Luz. E se o Vitória não sofreu qualquer golo nesse jogo, como em vários outros, isso se deve a uma questão que merece ser realçada: a colocação da estratégia ao serviço da filosofia e da identidade de jogo por parte de Luís Castro.

“Sabíamos que se afundássemos muito a nossa linha defensiva iríamos dar muito espaço para o Sporting chegar a cruzamentos para a referência na área e depois a segunda bola podia cair nos pés do Bruno. Tivemos a nossa linha de quatro alta e a de cinco perto. Foi conseguido ao longo da primeira parte, conseguimos sair para os espaços livres e criámos várias situações, numa delas levou-nos ao golo. Na segunda parte sabíamos que íamos ser forçados a baixar a linha, foi o que aconteceu, mas nesse momento foi definido que nunca podíamos deixar de ter a baliza do Sporting longe dos olhos mesmo estando longe, teríamos de percorrer esse caminho. As coisas foram correndo bem para o nosso lado, estamos felizes pelo que fizemos, pelas oportunidades de golo que criámos. Sabíamos que o jogo tinha caraterísticas a ter em conta. Uma das caraterísticas previstas é as várias oportunidades do Sporting. Fruto disso posicionamos a equipa em campo, não caímos na tentação de sair com os médios. O que não é fácil, a energia que vem de fora pode levar a que não sejamos racionais. Prevíamos que o Sporting pudesse forçar, mas não conseguiu por mérito dos meus jogadores”.

Se muitas vezes se limitam os treinadores a apenas dois tipos deles, os estrategas, e os de identidade e filosofia própria, o Vitória mostrou frente ao Sporting que é possível conciliar-se os dois. Que é possível ter uma estratégia adaptada ao adversário sem que isso signifique a perda da identidade futebolística e deixar cair as ideias com que geralmente se tece o futebol vitoriano. Que é possível jogar em função do adversário, sendo-se nós próprios. Não foi por acaso que mesmo tendo impressionado pela forma como anulou os pontos fortes do Sporting e conseguiu passar mais 90 minutos sem qualquer golo sofrido, o Vitória rematou mais, rematou melhor e rematou mais vezes dentro da área adversária do que o Sporting.

Indicadores que são uma constante no futebol do Vitória ao longo da temporada. Afinal, só seis equipas na Liga Portuguesa têm em média mais bola do que o conjunto de Luís Castro, mas só três rematam em média à baliza, e por isso mais eficazes, do que o Vitória. Só sete equipas têm em média mais bola por jogo do que o Vitória, mas só quatro delas registam percentagens de acerto de passe superiores às do conjunto de Luís Castro. Já chave para o sucesso defensivo do Vitória passa pela capacidade de atrair o adversário para zonas de sucesso improvável, já que apesar do Vitória apenas ser batido pelo Santa Clara no que ao total de defesas efetuadas pelos seus guarda redes diz respeito, há pelo menos seis equipas na Liga que permitem em média por jogo mais remates do que o Vitória.

Além de tudo isto, dos golos sofridos pelo Vitória SC esta temporada, só quatro equipas cederam mais golos em situações de bola corrida, sintomático da boa organização defensiva do modelo de Luís Castro, sendo o Vitória uma das poucas equipas que ainda não sofreram qualquer golo em situação de contra ataque, o que também joga a favor da transição defensiva do conjunto de Castro. Além disto, a cedência de apenas uma grande penalidade esta temporada e de quatro golos de bola parada - um dos oitavos melhores registos da competição - são demonstrativos da concentração e organização da equipa vimaranense em fase defensiva.

É certo que nos últimos anos, desde que o Vitória regressou à primeira divisão há precisamente uma década, por esta altura, catorze jornadas volvidas na Liga Portuguesa, o conjunto vimaranense até registou tantos ou mais pontos como vai registando por esta altura, porém, em nenhuma dessas temporadas em que o máximo que alcançou foi o quinto lugar, o Vitória atravessou uma fase de invencibilidade e de solidez defensiva aliadas ao bom futebol como acontece no momento atual. Há, por isso, um Vitória como há muito não se via e o Dom Afonso Henriques é hoje um dos redutos mais especiais da Liga Portuguesa.