Portugal
"Os treinadores e jogadores vão safar-se sempre. Os clubes vão pagar a fatura"
2020-03-26 12:40:00
Rui Quinta analisa paragem dos campeonatos e diz que "isto não é para os mais ricos; é para os que se adaptarem melhor"

Numa tertúlia entre treinadores dos Campeonatos de Portugal, realizada na página ‘Quarentena da Bola – por Rémulo Jónatas’, nesta quarta-feira, esteve em debate a paragem forçada dos campeonatos, determinada pelo combate à pandemia do novo coronavírus.

O treinador do Lusitânia de Lourosa, Rui Quinta, que passou pelo FC Porto, considera que, a serem retomados os campeonatos, fica lançado um desafio para quem se adaptar melhor. O dinheiro e a dimensão dos clubes ficarão para segundo plano.

“Nenhum de nós estava preparado para isto. Nem nos campeonatos profissionais, que têm pessoas que vivem exclusivamente do futebol, os advogados trataram [nos regulamentos] de um único artigo que contemplasse uma situação destas... Agora o que eu sei, e se olharmos para trás, os que se adaptarem melhor são os que se vão safar. Isto não é para os mais ricos, para os mais fortes. É para os que se adaptam melhor”, disse.

Nesta análise que se aplica aos campeonatos distritais, mas também aos nacionais, o treinador considera que os clubes sairão mais prejudicados do que técnicos e jogadores. “O que tenho vindo a dizer é que os treinadores e os jogadores vão safar-se sempre. Agora, os clubes é que vão pagar a fatura”, defende.

“No final da época, apenas dois clubes são contemplados com o prémio. E os outros todos, que investiram nessa expectativa, ficam para trás”, reforça.

Acresce que os contratos prosseguem, apesar da paragem das competições, e o seu termo está próximo.

“Chegaremos ao final do mês de junho e os jogadores terminam as ligações aos clubes. De que forma, em termos legais, isso poderá ser ultrapassado? Há questões colaterais que têm de ser tomadas em linha de conta. Nós, treinadores e jogadores, queremos jogar. Se vai haver condições... Não vou especular. Em função do que for decidido, os treinadores apenas podem preparar as equipas”, salienta Rui Quinta.

O técnico revela que “a Federação anda a fazer um levantamento", no sentido de "perceber a sensibilidade” das pessoas do futebol. E elogia o órgão liderado por Fernando Gomes.

“A Federação apetrechou-se muito bem com antigos jogadores nos seus quadros técnicos, que têm a sensibilidade de perceber que este campeonato é uma falácia. Já não é um campeonato...”, aponta.

Num olhar aos campeonatos distritais, Rui Quinta lembra que vão subir 20 clubes. O que provoca um desafio ao organizador das competições.

"Como se vão processar as descidas? Quem desce? Quem não desce? Temos de arranjar uma forma de minimizar o impacto que isto pode trazer. E para mim, a solução é premiar quem se manteve, durante este período, nas cristas das suas séries. Nós apenas queremos jogar. Queremos jogar. Queremos ganhar pelo nosso desempenho. Isto não tem nada que ver connosco. Nós qiueremos jogar e isso é que é marcante", salienta.

Ora, o Lusitânia de Lourosa está em posição de subida, se o campeonato acabasse hoje. O técnico não se esconde, mas lembra o regulamento. E insiste que quer decisões apenas no relvado, e não fora dele. 

"Não sou hipócrita. O que estava previsto no início do campeonato é que os dois primeiros estivessem apurados para uma poule. E nós estamos lá. Agora, o que queremos é que há condições para que as restantes jornadas se disputem em segurança. Mesmo que se jogue na quarta e no domingo, vai ser premiado o desempenho, que é o que se pretende", afirma.

Qualquer que seja a decisão, no entanto, ficará longe de ser perfeita. Pelo contrário. “Tudo dependerá das datas que ficarem disponíveis. De que forma se vai resolver? Aquilo que sei, sem a menor dúvida, é que vai sempre prejudicar alguém. Alguém vai ficar a perder”, aponta, sem deixar de dirigir um elogio aos portugueses, pela forma como têm lidado com esta pandemia.