Portugal
"Os pequenos pedem, os grandes exigem. Se fossem lá os pequenos iam só pedir"
2020-05-21 11:40:00
Cajuda em entrevista ao Bancada sobre os recentes desenvolvimentos do futebol nacional

Ainda a bola não começou a rolar e já se fazem sentir as críticas e os desentendimentos. Entre palavras e atos de protagonistas do futebol, reina a incerteza mas sucedem-se as trocas de argumentos. Manuel Cajuda, do alto da experiência colecionada com décadas de futebol português, deixa um apelo à calma e à tranquilidade numa entrevista ao Bancada.

"As críticas já começaram antes de se reiniciar o campeonato. As críticas voltaram mais cedo do que o próprio campeonato. Aquilo que vi, nestes últimos meses, é incompreensível e não me parece aceitável", revela o histórico treinador que brilhou, entre outras paragens, na cidade dos Arcebispos e do Rei Fundador.

Com mais de 500 jogos na Liga portuguesa e passagens por diversas partes no mundo da bola, com sucessos na bagagem, Cajuda refere que o futebol tem "uma oportunidade única" para se tornar "melhor" e foi com agrado que viu a reunião dos três presidentes de Benfica, FC Porto e Sporting juntamente com Fernando Gomes e Pedro Proença na residência oficial do primeiro-ministro.

"Aos meus olhos, vi aquilo como um fator positivo e explico-lhe. Os pequenos pedem, os grandes exigem. Espero bem que os três grandes, a Liga e a FPF tenham exigido o melhor para o futebol e o melhor para todos. Se fossem lá os pequenos iam só pedir. Penso que os três grandes tiveram uma oportunidade única de exigir o melhor futebol".

Apesar de terem sido conhecidas algumas críticas pelo facto de terem ido apenas os presidentes de Benfica, FC Porto e Sporting a esse encontro com António Costa, Cajuda reforça a ideia de que estes três líderes têm força no contexto do desporto nacional.

"Ainda bem que foram os três grandes. Porque a força das exigências deles é maior do que os pedidos de um grande número de pequenos. Faz parte da vida. Deveriam ser os grandes a proteger os pequenos. Se aconteceu ou não, o tempo, esse grande mestre na vida, o dirá", destacou em entrevista ao Bancada.

Aos 68 anos de uma vida passada na sua grande maioria em balneários e estádios de futebol pelo país e mundo fora, Cajuda olha com tristeza para a forma como mesmo em tempo de pandemia não se procura elevar o futebol a um patamar superior.

"Vi discussões e afirmações disparatadas em relação à continuidade e sobrevivência do futebol. Vi muita gente a olhar para o seu umbigo, vi muita gente defender individualmente os seus interesse. E vi pouca gente a defender os interesses de todos. Parece que ninguém se entende", realça, detalhando aquilo que, em seu entender, tem dividido opiniões.

"Primeiro foi se começa ou não começa, depois os estádios, agora há quem não queira jogar em certos campos. Não me parece que tenha sido uma atitude inteligente em função desta realidade (pandémica) que ninguém sabe o que vai dar e esperamos que seja um bom caminho."

Questionado que atitude tomaria se estivesse na posição de Fernando Gomes (presidente da Federação Portuguesa de Futebol) ou Pedro Proença (Liga), Manuel Cajuda não se alonga e diz que prefere acreditar que as pessoas estão a "fazer aquilo que podem e sabem para que o futebol português seja mais rentável, mais bonito e com menos casos".