Portugal
"Os jogadores do Sporting têm de ser protegidos", diz Jorge Silvério
2019-10-21 17:30:00
Jorge Silvério é um dos mais reputados psicólogos do desporto a nível mundial e conversou com o Bancada

O Sporting atravessa uma crise de resultados e o ambiente entre adeptos e a direção tem originado vários episódios de tensão e um clima atribulado.

Da questão financeira ao que se passa nas assembleias-gerais do clube (onde Frederico Varandas tem sido muito contestado), dos resultados em campo que não aparecem às exibições que, na ótica dos adeptos, não convencem, a verdade é que o balneário vai tentando abstrair-se do 'ruído' externo. Mas é sabido que nem sempre é fácil.

Os jogadores não são máquinas e a sua cabeça não funciona como tal. As emoções, os comportamentos, a ansiedade e a confiança, sem esquecer a motivação fazem parte da vida das equipas. E foi partindo deste enquadramento que o Bancada foi tentar compreender como poderá o Sporting sair desta atual situação.

Com a ajuda de Jorge Silvério, que é um dos mais reputados psicólogos do desporto a nível mundial, tendo sido, de resto, o primeiro mestre português em Psicologia do Desporto, além de trabalhar de bem perto com a seleção nacional de futsal, ficou claro que "não é fácil contornar fatores externos a um grupo de trabalho" mas deve existir um trabalho nesse sentido".

"Vivemos uma altura em que não se consegue nem se podem isolar os jogadores da realidade exterior", referiu Jorge Silvério, em declarações ao Bancada, certo de que, no atual quadro da situação, "o ideal é ajudar os atletas desse ponto de vista".

"Não é fácil na realidade do futebol atual mas os jogadores do Sporting têm de ser protegidos", precisou este especialista em Psicologia do Desporto, que considera que o grupo deve ser "apoiado" para que os jogadores "possam lidar melhor com as diferentes situações com as quais são confrontados. "E que sabemos que podem ter influência no rendimento desportivo", avisou.

Mas será possível 'blindar' o balneário ao 'ruído' externo numa altura em que, por exemplo, as redes sociais acabaram por aproximar muito os protagonistas do desporto dos seus adeptos? Jorge Silvério concorda que "há uma linha/fronteira que muitas vezes acaba por se reduzir" mas diz ser necessário fazer um trabalho também nesse sentido.

"É fundamental haver regras e os clubes têm feito por isso, indicando aos seus jogadores o que devem ou não fazer e como se devem comportar", salientou, notando, porém, que, não raras vezes, quando não são os jogadores a ter determinado comportanmento acaba por ser "alguém do seu círculo próximo".

Outro fator que não se pode dissociar, no entendimento de Jorge Silvério, é a pressão dos resultados que uma equipa como a do Sporting está sujeita. E é aqui que nos destaca como as memórias passadas e o prazer em jogar à bola podem ajudar até porque, revela-nos este especialista, "essa dimensão [do prazer] existe sempre".

"Vamos tendo conhecimento de jogadores que vão dizendo 'no dia em que não sentir prazer vou-me embora'. Também esta dimensão acaba por ser um elemento potenciador das capacidades dos jogadores", destacou, em entrevista ao Bancada, não acreditando que o facto de o balneário ter todos os anos muitas caras novas, e os jogadores não permanecerem muito tempo no clube, acabe por ter impacto.

"Acredito que tem uma influência mínima", referiu Jorge Silvério, prosseguindo: "É uma realidade do futebol moderno, não é apenas um problema do Sporting. Infelizmente, nos nossos clubes portugueses, os jogadores ficam menos tempo. E há sempre a tentação de dizer que antigamente é que era. Mas convém deixar claro que no passado havia vantagens mas também desvantagens. O importante é que se saiba perceber que estas são as regras do futebol atual e todos devemos saber conviver com elas da melhor maneira".