Portugal
Os dez minutos loucos de Alvalade que tudo mudaram
2018-09-16 22:35:00
O Sporting venceu o Marítimo num jogo tranquilo à exceção de dez minutos loucos.

Em Alvalade, dez minutos loucos mudaram a face e o rumo de um jogo que nem foi tão interessante até então, como o seria ainda menos a partir de então. Perante um Marítimo que nunca conseguiu estar ao seu nível e que o próprio Cláudio Braga admitiu não ter cumprido o plano de jogo a que se havia proposto, fica uma exibição tranquila e controlada do Sporting ferida de um par de desconcentrações que acabaram por valer um golo ao Marítimo, primeiro, e um cartão amarelo a Battaglia, depois. No final, sorriu o Sporting que entrou a vencer na fase de grupos da Taça da Liga.

Sem surpresa, o Sporting assumiu o controlo do jogo desde início, tendo imprimindo uma variabilidade interessante ao seu momento ofensivo, bem uma reação agressiva à perda de bola que, porém, acabaram por se diluir um pouco à medida que o jogo avançou. O Marítimo, espreitando as transições e maioritariamente o corredor direito por incursões ofensivas de Bebeto em associação a Correa, impôs algum respeito ao Sporting com isso nas poucas vezes que conseguiu sair do seu último terço como também destacou Cláudio Braga. 

Os problemas do Marítimo já tinham sido vistos anteriormente, como nas Aves, na última jornada do campeonato antes da paragem para jogos de seleções. Uma equipa que procura ter um jogo associativo, mas cuja falta de capacidade dos intervenientes para o fazer, em particular na zona central da defesa, guarda redes incluído, além de Fabrício Baiano no miolo, impede a equipa do Marítimo de construir o seu momento ofensivo de forma pensada, controlada, pausada fazendo chegar o mesmo a fases adiantadas do terreno e aos seus jogadores criativos com maior qualidade. Ainda para mais, quando como hoje, frente ao Sporting, o Marítimo tem pela frente uma equipa agressiva na reação à perda de bola e forte na pressão em zonas altas do terreno.

Só muito pontualmente, ora através de transições rápidas ou de lances de bola parada o Marítimo conseguiu ir sendo perigoso, ou quando era o Sporting que potenciava esses mesmos lances através de erros individuais tal qual aconteceu no golo do Marítimo. Acabou por ser sem grande surpresa que o Sporting chegou à vantagem no marcador, aos 26 minutos por aquele que ia sendo o principal desequilibrador da equipa de José Peseiro: Raphinha. Sim, Bebeto e Correa, aos 11 minutos, Danny aos 16 minutos ou Bebeto também aos 18 criaram algum perigo junto da baliza do Sporting, mas o ascendente sobre o relvado de Alvalade era claramente leonino, mesmo que o golo até tenha chegado num momento de menor clarividência do Sporting que foi perdendo a dinâmica e fulgor com que entrou em campo.

O golo de Raphinha, porém, teve o condão de retirar o Marítimo do que restou da primeira parte. Jovane e Acuña, de forma sucessiva, aos 35 e 36 minutos, foram os autores das jogadas de perigo que sucederam o golo do Sporting até ao período de compensação da primeira metade, altura em que Coates, isolado de marcação na pequena área após canto de Jefferson, cabeceou a centímetros do poste esquerdo da baliza de Charles. Sem estar a ser brilhante, o Sporting saiu para intervalo a vencer e com o jogo controlado.

Mais controlado ficou com o segundo golo, apesar da grande penalidade cometida por Zainadine sobre Jovane ter levado igualmente o conjunto de José Peseiro a uma complacência desnecessária e que não fosse a reação praticamente perfeita, podia ter deixado o conjunto leonino em maus lençóis. Curiosamente, um golo que até chegou depois de um regresso atrevido do Marítimo para a segunda parte com Jean Cléber de calcanhar - num lance que nasce de um pontapé falhado de Salin - e Lucas Áfrico, de cabeça, a obrigarem Salin a defesas apertadas. Bruno Fernandes colocou o Sporting a vencer por 2-0, mas a reação do Marítimo não se fez esperar.

Depois de Correa ter disparado um míssil do meio da rua e obrigado Salin à defesa da noite, o mesmo Correa aproveitou nova desconcentração da equipa do Sporting, agora de Acuña a perder a bola a meio do meio campo defensivo do Sporting, para relançar o Marítimo no encontro. Danny isolou o argentino que na cara de Salin não perdoou. O que se previa poder ser um problema, prontamente foi resolvido por Bruno Fernandes. O médio do Sporting tirou um par de adversários do caminho já bem dentro da área antes de disparar de pé direito, forte e longe do alcance de Charles aos 63 minutos para devolver a vantagem de dois golos ao Sporting, um golo que coroou dez minutos loucos em Alvalade e que deram um colorido pouco merecido ao jogo.

Podia não ter ficado por ali, porém. Aos 65 minutos, logo após o golo do Sporting, também o Marítimo podia ter reentrado no jogo não tivesse o remate de Danny - que regressou hoje a Alvalade vários anos depois e como capitão do Marítimo -, isolado à entrada da área após cruzamento atrasado vindo do corredor esquerdo, saído a centímetros do poste. As falhas de concentração momentâneas e de parte a parte não voltaram a suceder até final e o jogo acabou por ter nas substituições e num cartão vermelho mostrado a Áfrico por entrada inqualificável sobre Wendel, já em tempo de compensação, os pontos de interesse finais.

Peseiro, que havia lançado Wendel no decorrer do encontro - e dado a titularidade a Jovane, André Pinto e Bruno Gaspar de forma mais ou menos surpreendente -, ainda foi a tempo de estrear Gudelj e Diaby no jogo e se o maliano pouco tempo teve para se mostrar, Gudelj recolheu fortes aplausos por pormenores que o podem atirar direto para o onze no próximo encontro do Sporting. O mesmo Gudelj que podia ter saído de Alvalade com uma assistência não tivesse Montero, aos 73 minutos, com espaço e tempo, atirado por cima. No final, 3-1, e um resultado que agrada mais aos sportinguistas do que a exibição.