Portugal
OPA “da vergonha” serve “para dar uns milhões largos a um punhado de amigos"
2019-11-25 12:55:00
Rui Gomes da Silva critica Vieira no caso da OPA da Benfica SGPS sobre as ações que ainda não controla na SAD

Num texto publicado no blogue Geração Benfica, Rui Gomes da Silva reagiu à oferta pública de aquisição (OPA) lançada pelo Benfica.

A operação parcial lançada pela Sport Lisboa e Benfica SGPS sobre a sociedade anónima desportiva (SAD) das 'águias', recorde-se, deve estar concluída até janeiro de 2020.

Insere-se num objetivo assumido em várias ocasiões pelo presidente Luís Filipe Vieira, de aproveitar a melhor posição financeira atualmente existente para "devolver o Benfica aos benfiquistas", um movimento que foi iniciado com a venda pela SAD da Benfica Estádio e Benfica TV à Benfica SGPS, que foi aprovada em meados de março.

Acontece que o valor oferecido, de cinco euros por ação, está claramente acima da cotação das ações antes do anúncio da OPA. Por que razão? “Uma incógnita”, reage Rui Gomes da Silva, num artigo divulgado hoje naquele blogue.

“À primeira vista, para dar a ganhar uns milhões largos de euros a um punhado de amigos, novos amigos, ex-amigos, ou ex-amigos que voltaram a ser amigos do – ainda – presidente do Benfica!”, prossegue o ex-vice-presidente encarnado.

“Para dar a ganhar uns milhões, ao pagar o que não precisava de ser gasto, por garantir um prémio de 81 por cento face à cotação de mercado das ações em causa, no dia em que foi anunciada essa intenção. Uns milhões que poderão ter um valor bem mais significativo, se forem pagos ainda este ano, não vá o Governo mexer na tributação das mais-valias das ações, com o englobamento desses valores nos impostos a pagar pelos respetivos titulares”, aponta.

Rui Gomes da Silva fala num “ambiente opaco”, num ambiente que exigia “transparência”. E critica “a cartilha”, que apresenta “novos argumentos”, numa crítica implícita a alguns comentadores afetos ao clube da Luz.

“Penoso é ver as tristes figuras que fazem os que vão por aí repetindo os argumentos da cartilha que recebem, sem saberem o que estão a dizer”, aponta.

Rui Gomes da Silva lamenta ainda a “bajulação”. E faz uma pergunta:

“Como poderão – debitando o que lhes mandam dizer – repetir, vezes sem conta, que a operação servirá para pagar a quem investiu ao princípio na SAD quando, entre os beneficiários da medida estão (para além do – ainda – presidente do Benfica, embora a dois tempos), um ex-magnata da comunicação desportiva que sempre nos prejudicou, um empresário que só começou a comprar ações desde há dois anos a esta parte, ou um empresário que continua a sua vida em Angola?”

Segundo o ex-vice-presidente, há “falta de transparência de tudo o que hoje se passa no Benfica”. E Gomes da Silva dá como exemplo a antecipação de receitas televisivas, numa altura em que as finanças apresentam um superavit.

“O Benfica está com muito dinheiro... mas antecipa receitas dos direitos televisivos (com uma perda – a acreditar nos media – de 21 por cento para quem intermedeia a operação”, escreve.

Defende que a OPA deveria ser discutida em Assembleia Geral, “para que os sócios – os donos do clube, por muito que isso custe a este novo DDT – possam dizer o que querem”.

“O que me leva a perguntar: mas concordam todos com esta proposta? Se não – como estou certo em relação a muitos deles – porque se calam perante este ‘novo’ Benfica, cada vez mais gerido de fora para dentro?”, questiona.

Rui Gomes da Silva espera que Vieira recue: “Acordaremos um dia e o ainda presidente do Benfica irá surpreender-nos com um recuo e dizer que, afinal, não faz sentido investir mais de 32 milhões para pagar aos amigos”.

E a terminar, mais uma declaração dura, com Vieira como alvo. "Corre o risco de substituir, de facto, Vale Azevedo, pela rejeição e pelo desprezo de (quase) todos nós", conclui.