Portugal
O Sporting tem um medo palpável de vantagens tranquilas e hoje foi por pouco
2017-09-08 22:15:00
A intranquilidade que os leões demonstram quando em vantagem não é de agora, é patológico

O pior do Sporting é o melhor do Sporting. Passo a explicar. Previa-se um jogo complicado para os leões contra uma equipa do Feirense que ainda não tinha perdido na presente edição da Liga e tem feito da organização defensiva a sua melhor qualidade. Confirmou-se. A primeira parte, também devido às forçadas alterações táticas, viu zero remates do Sporting e uma incapacidade gritante dos leões em ferirem a defensiva contrária. E quando, na segunda parte, o Sporting conseguiu, por mérito, quebrar a resistência fogaceira chegando mesmo ao 2-0 viu-se o pior da equipa. Os jogadores do Sporting tremem perante uma vantagem mais ou menos tranquila. Já aconteceu este ano diante do Estoril-Praia em Alvalade e aconteceu em algumas ocasiões a temporada transata, lembro-me de Guimarães assim de impulso.

Como disse Battaglia no final da partida aos microfones da Sporttv, e explicando as dificuldades do Sporting em conseguir a vitória, os leões “não jogaram sozinhos”. Do outro lado estava uma equipa que tinha sofrido apenas dois golos e se tem mostrado muito organizada e compacta, daí não ter tido, até ao dia de hoje, averbado qualquer derrota para a Liga. E depois dos 10 minutos iniciais, em que o Sporting conseguiu por um par de ocasiões chegar a zonas de cruzamento, os rapazes de Nuno Manta encaixaram nas marcações aos jogadores do Sporting e verdade seja dita, beneficiaram de alguma desorientação leonina face às alterações táticas impostas pela lesão de Piccini. Foi, inclusivamente, o Feirense a abeirar-se da baliza de Rui Patrício com mais perigo (grande erro de Mathieu).

Jorge Jesus viu-se obrigado a mexer na organização da equipa a meio da primeira parte quando Piccini, até esse momento totalista, se lesionou. Entrou Alan Ruiz para apoiar Bas Dost, desceu Bruno Fernandes para a posição “oito” (aquela que Adrien deixou vaga) e recuou Battaglia para lateral-direito. E até ao intervalo o Sporting não se encontrou, nem mesmo quando a bola chegava a Gelson, o habitual agitador dos leões. O descanso fez bem ao Sporting, Jesus retocou posicionamentos e ocupações de espaços, sobretudo aqueles por onde Bruno Fernandes andou, ou teria de andar. E foi essa a diferença na segunda parte. Bruno Fernandes surgiu mais efetivo no momento do passe e com isso beneficiaram Acuña e Gelson que tiveram mais bola e maior capacidade para aproveitar os espaços nas costas dos laterias do Feirense.

Não foi, por isso, surpresa a vantagem ganha pelo Sporting à passagem do minuto 62, Coates na sequência de um pontapé de canto fez o golo. Aproveitando a desorientação da equipa de Nuno Manta e numa jogada de contra-ataque, o Sporting marcou o segundo golo numa execução de classe (mais uma) de Bruno Fernandes, estavam jogados 64 minutos e em outras situações, dir-se-ia, estava colocada uma pedra no jogo. Mas é do Sporting que estamos a falar. E como escrevi mais acima, foi no melhor que o Sporting fez que surgiu o pior Sporting. É palpável a instabilidade emocional por que passa a equipa quando se coloca em vantagem e os minutos vão galopando. A equipa de Jorge Jesus já tinha experimentado esta tremedeira na partida frente ao Estoril que terminou com uma vitória para os leões, mas só depois de muito sofrimento. E foi assim uma série de vezes na época transata, com a grande bandeira desta instabilidade a ser cravada em Guimarães, quando a 15 minutos do fim o Sporting vencia por 3-0 e acabou empatado a 3-3.

Os adversários sentem esta condição patológica dos leões e exploram-na. O Feirense cresceu nas costas de Edson Farias e Etebo e atacaram o leão na sua vulnerabilidade. Reduziram para 2-1 cinco minutos do golo de Bruno Fernandes, por intermédio de João Silva e igualaram a contenda a dez minutos do fim graças a um bom golo de Peter Etebo, o nigeriano que continua a demonstrar muita qualidade na Liga Portuguesa e que, nesta ocasião, aproveitou, fruto da tal instabilidade, um passe errado de Jonathan Silvam que por pouco não resultou em perda de pontos para a turma de Alvalade. E foi mesmo por pouco, já se faziam contas aos primeiros pontos perdidos por parte do Sporting na presente edição da Liga, quando o recém-entrado Luís Rocha cometeu, imprudentemente, uma falta dentro da área permitindo a Bas Dost marcar o quarto golo na liga oferecendo ao Sporting a quinta vitória no campeonato em outros tantos jogos.

De Artur Soares Dias pode-se afirmar que efetuou uma boa arbitragem. Esteve bem na generalidade dos lances e decidiu-se bem pela marcação da grande penalidade já nos segundos finais da partida.