Portugal
O inevitável Soares pôs fim a ciclo de empates
2018-02-07 23:30:00
Já tinha sido o brasileiro a decidir o último clássico que não dera empate em Portugal. Aí está a razão para ter ficado.

Um golo do inevitável Soares, após cruzamento teleguiado de um Sérgio Oliveira a justificar mais continuidade na equipa, garantiu ao FC Porto uma justa vitória por 1-0 na primeira mão da meia-final da Taça de Portugal. Alguns lampejos ofensivos de Gelson e Bruno Fernandes, os dois melhores de um Sporting que começou por apostar no impasse com a estrutura tática inicial, permitiram aos leões discutir sempre o resultado até final e manter a esperança na segunda mão, que jogarão em casa, daqui por dois meses, num ambiente mais favorável e possivelmente num contexto mais desanuviado em termos de cadência de jogos.

A justiça da vitória portista neste primeiro ato das meias-finais assenta, primeiro que tudo, na força dos números, mas é preciso perceber que se o FC Porto fez mais remates, teve mais bola e mais ocasiões de golo isso deveu-se sobretudo ao facto de ter entrado mais fixado na ideia de interromper a série de empates que os clássicos levavam em 2017/18, enquanto que, por ter a segunda mão em casa, o Sporting certamente não desprezaria essa hipótese. Mesmo sem ter Aboubakar, Sérgio Conceição apresentou o 4x4x2 habitual, com Marega perto de Soares no ataque, ainda que sempre à procura da largura à direita, mas com Corona e Brahimi nas alas e Herrera a ter de aguentar o meio-campo só com Sérgio Oliveira por perto. Por sua vez, privado de William, Jesus recuperava o 3x4x2x1 de Barcelona, com Piccini a fechar como terceiro central à direita, Ristovski e Coentrão nas alas e, depois, à frente de um meio-campo com Battaglia e Bruno Fernandes, encostava Acuña à esquerda mas dava liberdade a Gelson para percorrer todo o campo de modo a encontrar os melhores caminhos para chegar a Doumbia.

Mesmo com estas alterações todas, o jogo decorreu com tinham decorrido os jogos entre FC Porto e Sporting esta época: mais iniciativa portista, mais remates, mais duelos ganhos, mais bolas nas imediações da área adversária, mas sem golos e com o Sporting a mostrar capacidade para também ser ameaçador, sobretudo em contra-ataque. De início, sobretudo porque tinha a qualidade de Bruno Fernandes a pegar no jogo mais cedo, o Sporting mostrou combinações interessantes no corredor central, mas Soares foi o primeiro a rematar, cabeceando por cima um centro de Herrera, logo aos 7’. O jogo estava repartido, pois o Sporting também chegava à baliza adversária. Gelson testou Casillas aos 19’, com um remate feito da entrada da área, que o espanhol defendeu; Brahimi, lançado por Corona nas costas da defesa leonina, obrigou Rui Patrício a uma excelente mancha, aos 20’; e Bruno Fernandes, solicitado por Gelson, forçou Casillas a defesa incompleta, aos 24’.

Por essa altura, contudo, já o FC Porto apostara na exploração do seu corredor direito, derivando para lá Marega e pedindo a Corona que se aproximasse do centro de jogo – algo que o lateral, Ricardo, também fazia bem, com subidas frequentes no terreno. Isso acabou por condicionar profundamente o modo como os leões se predispunham a atacar, por receio de serem surpreendidos nas costas de Coentrão, e levou o jogo em definitivo para o meio-campo verde-e-branco. A partir dos 25’, foi o FC Porto a mandar em absoluto no campo. De livre, Sérgio Oliveira acertou no poste direito de Rui Patrício, aos 28’. Três minutos depois, ainda dentro deste período de forcing portista, Corona repetiu o recuo seguido de passe para as costas da defesa leonina, mas na cara de Rui Patrício Herrera tocou apenas de raspão na bola, falhando o golo. E só quando os portistas foram perdendo fôlego e intensidade é que o Sporting voltou a chegar-se à frente, mais uma vez em lance protagonizado por Gelson: aos 40’, invadiu o último reduto portista e descobriu do outro lado a chegada de Ristovski, que obrigou Casillas a boa defesa para canto.

Corrigindo alguns procedimentos, o Sporting veio melhor para a segunda parte, que começou por levar para o meio-campo portista. E teve logo a sua melhor ocasião de golo a abrir. Gelson – quem haveria de ser? – lançou Bruno Fernandes – quem haveria de ser, também? – na linha de fundo e, por uma vez, Doumbia teve uma movimentação à ponta-de-lança: aproximou-se da marca de penalti, em movimento contrário ao dos defesas, e recebeu a bola, rasteira e redondinha, mas chutou-a ao lado. O FC Porto acusou o toque, deixou o jogo entrar numa fase de maior equilíbrio, mas acabou por chegar ao golo aos 60’, numa demonstração daquilo que é o seu futebol de pressão. Por duas vezes, o pressing portista impediu o Sporting de sair do seu meio-campo: primeiro, Sérgio Oliveira desarmou Bruno Fernandes quando este tentava sair a jogar; depois, quando a bola chegou à área, recuperou um alívio de Mathieu feito para a meia-direita e cruzou de forma milimétrica para o cabeceamento de Soares, entre Piccini e Ristovski, que saiu indefensável, junto ao poste.

Soares voltou a marcar ao Sporting (já tinha sido ele, com um bis, a decidir o último clássico que não dera empate em Portugal, o 2-1 da época passada). E, cinco minutos depois, podia mesmo ter chegado a bis. O Sporting acusou o toque, o FC Porto empolgou-se e, após cruzamento de Corona, Soares voltou a fazer um cabeceamento com selo de golo – só que desta vez Rui Patrício opôs-se com uma super-defesa. A partir daqui, Sérgio Conceição começou a mexer no sentido de gerir a vantagem: trocou Corona por Otávio, abrindo Marega na direita e preenchendo mais o meio-campo. Jesus sentiu a oportunidade e mandou a equipa para a frente: primeiro, voltou ao 4x2x3x1 com a substituição de Ristovski por Rúben Ribeiro, que foi para perto de Doumbia; depois, já o FC Porto trocara Brahimi por mais uma mota (Hernâni) e Soares por Gonçalo Paciência, substituiu Coentrão por um segundo ponta-de-lança (Montero), baixando Acuña para lateral-esquerdo e mandando Rúben Ribeiro para a esquerda do ataque. Ainda entraria Bruno César, provavelmente condenado a ser lateral-esquerdo na próxima partida de campeonato, face à suspensão de Coentrão (que viu o quinto amarelo no Estoril) e de Acuña (que acabou expulso aos 90+2’).

E foi da esquerda, que Rúben Ribeiro criou a última ocasião de golo do jogo: aos 90+1 ganhou a bola em antecipação a Ricardo, já na área, mas depois definiu mal o passe, permitindo que Felipe cortasse. O jogo chegava ao fim com uma justa vantagem portista, mas a meia-final ainda vai durar mais dois meses, até 18 de Abril, quando as duas equipas se encontrarem em Alvalade para o quinto e último jogo entre ambos desta temporada.