Para lá do Marão… sim, todos sabemos como termina a frase. Para avançar na Taça de Portugal, o FC Porto terá de passar a serra do Marão e, no dia 19, impedir que mandem os que lá estão. O problema é que, apesar de lá estar uma equipa dos distritais, essa equipa é o Vila Real. O “Bila”, para os amigos. E o “bila” é o “bila”.
“A cada deslocação fora de casa, isto quando estávamos nos campeonatos nacionais, havia sempre gente à nossa espera nos campos onde iríamos jogar. Numa deslocação ao Ribeirão, havia um adepto com a sua scooter rigorosamente equipada à SC Vila Real, completamente feita de origem. Ficámos todos perplexos ao ver aquilo, mas foi muito engraçado ver que, mesmo longe, existem pessoas que mantêm o seu amor pelo Vila Real”. As palavras são de João Castanheira – Castanha, para o futebol – jogador que completou quase uma década ao serviço do “Bila”.
O Bancada quis saber mais do que era e o que é o Bila. Este clube quase centenário, dos sonhos pintados a preto e branco, na clássica vestimenta alvinegra. Para isso, para além de Castanha, falámos com Vítor Murta, histórico jogador do clube. Formou-se no Vila Real e, depois de passagens por Gil Vicente ou Oliveirense, voltou ao clube, com 39 anos.
Para Vítor Murta, o Bila é a paixão de uma região e o objetivo de todos os miúdos da zona. A camisola branca e preta é um manto sagrado. “O Vila Real é um clube grande da região. Isso leva-o a diferenciar-se de todos. Nos últimos tempos, tem andado afastado dos que têm de ser os objetivos do clube e da cidade, que merece muito mais do que andar na distrital. Quando eu vim para o Vila Real, era o clube de referência para a juventude, todos queriam jogar com o manto sagrado”.
“Ser do Bila é, essencialmente, a representação não só de um clube, mas de uma cidade cuja população se distingue pela sua atitude lutadora. É este o espírito que os adeptos exigem, a cada fim de semana, a quem representa o Vila Real. Independentemente do adversário”, completa Castanha.
O roupeiro, "Fonseca", era a alegria em pessoa e um símbolo deste Bila
A cidade tem em Diogo Cão a sua grande figura histórica. O clube também tem as suas figuras. As do passado, que perpetuam os valores do clube. As do presente, que o defendem no campo.
Primeiro, vamos ao passado (ainda que não longínquo), com as memórias de Castanha. “As imagens marcantes do "Bila" foram, sem dúvida, o capitão da altura, Zé Monteiro, que transmitiu aos mais novos a cultura de profissionalismo e dedicação necessárias para que o clube se mantivesse no topo fosse em que divisão. Havia ainda o roupeiro, "Fonseca", que jamais deixava faltar o que quer que fosse aos seus jogadores. Era a alegria em pessoa e um símbolo deste Bila”.
Agora, o presente, com Vítor Murta. Olhando não para o clube, mas para o plantel. Afinal, são eles quem terão de fazer pela vida do Bila, frente ao poderoso FC Porto, daqui a uns dias. Perguntas rápidas para respostas rápidas.
O craque: Diogo Carvalho (médio ofensivo)
O “palhaço”: Fred Coelho (defesa-central)
O mais tímido: Francisco Miranda (guarda-redes)
O vaidoso: Eduardo Teixeira (extremo)
O refilão: Zé Diogo (lateral)
A equipa ocupa, atualmente, o terceiro lugar na Divisão de Honra dos distritais de Vila Real, a apenas três pontos do primeiro - o único que dá subida ao Campeonato de Portugal -, mas tem menos um jogo. Está, portanto, mais do que dentro da luta pela subida e leva quatro vitórias em quatro jogos no campeonato.
FC Porto "vai à forca"?
Ainda não há decisão oficial sobre o local do jogo. Diz-se que só falta mesmo a inspeção à iluminação para que o Complexo Desportivo do Monte da Forca seja autorizado como palco do jogo grande. A direção do clube já disse que há 99% de probabilidade de poderem jogar em casa.
Vítor Murta assume que seria essencial jogar ali. “Jogar no Monte da Forca é uma vantagem, para toda gente perceber a grandeza e para que o clube consiga aproximar as gentes da cidade, que têm andado afastadas. Seria bom para que pensem grande e que este tipo de jogos não sejam só de vez em quando: que façam parte do dia-a-dia do clube”.
Há quem diga que o Vila Real perdeu o seu encanto ao trocar o velhinho Campo do Calvário, mais no centro da cidade, pelo mais moderno e mais afastado do centro Monte da Forca. Mas o Monte da Forca já recebeu boa bola com os dragões. Em 90/91 e 91/92, o FC Porto e o Vila Real defrontaram-se em duas edições consecutivas da Taça. Ambas no Monte da Forca, ambas com vitória portista.
Como tantos clubes do interior e das regiões alheias a Porto e Lisboa, o SC Vila Real vive com a dificuldade de as pessoas fixarem o seu apoio emocional e financeiro aos clubes grandes. Ainda assim, o Bila tem adeptos. O Bila tem uma festa preparada. O Bila tem uma cidade à espera do FC Porto. O Bila... é o Bila.