Portugal
O Boavista ficou à espera na paragem e acabou atropelado pelo autocarro
2018-01-03 20:45:00
A equipa de Jorge Simão tardou a aproveitar a superioridade numérica e foi ultrapassada pelos acontecimentos

Há jogos onde as tendências explicam os acontecimentos. E depois há outros, como este dramático Boavista-SC Braga, em que são os acontecimentos a provocar as tendências. O SC Braga ganhou por 3-1, mas até ao último quarto-de-hora parecia a caminho de uma derrota que naquela altura até seria justa, apesar de ter estado melhor na primeira parte. Só que a junção da maior qualidade dos seus executantes à relutância dos boavisteiros em aproveitar uma conjuntura claramente favorável – penalti a favor e um homem a mais – acabou por conduzir a um golpe de teatro. A expulsão de Robson, o golo de Paulinho, logo a seguir, e um terceiro, de André Horta, perto do final explicam o resultado final.

O jogo nem sempre decorreu assim, no entanto. O início até foi bastante previsível. É que depois de uns cinco minutos em que o Boavista teve mais bola mas se mostrou incapaz de chegar até perto da baliza de um SC Braga a jogar recolhido para aproveitar as saídas pelas faixas laterais, os minhotos tomaram conta das ocorrências. Recuperada a bola, solicitavam de imediato a largura que Esgaio lhes dava na direita e que Jefferson (o defesa-lateral) oferecia na esquerda, permitindo que Fábio Martins invadisse mas terrenos interiores. E depois de duas ameaças, o SC Braga marcou mesmo, por Danilo, inexplicavelmente deixado à solta à entrada da pequena área num canto de Jefferson. Não se via, naquela altura, como poderia o Boavista reagir. Os jogadores de Jorge Simão chegavam sempre tarde demais aos lances e, mesmo tendo o SC Braga mantido o posicionamento baixo no campo, não eram capazes de entrar no bloco adversário: o primeiro remate boavisteiro pertenceu a Rochinha, aos 29’.

Acontece que por essa altura o Boavista cresceu. A equipa aumentou o ritmo, não só com bola mas também sem ela, e começou a criar dificuldades ao adversário. Mais uma vez, o golo era previsível. Não o fez Vítor Bruno, num belo remate, aos 44’, fê-lo Kuca aos 50’, também numa movimentação de fora para dentro – Jorge Simão trocara os extremos de lado antes de acabar a primeira parte. E, estando por cima, o Boavista partiu em busca do segundo. Teve, nesse aspeto, tudo a ser favor. A saber: o segundo amarelo a Raúl Silva, o impetuoso central do SC Braga que entrara a meio da primeira parte para o lugar do infeliz Ricardo Ferreira (lesionado), e um penalti assinalado pelo VAR na sequência do livre a que essa falta deu origem. Só que aí passaram a ser os acontecimentos (ou a falta deles) a comandar as tendências.

Primeiro, Matheus defendeu a grande penalidade, cobrada por Fábio Espinho. Depois, mesmo com um homem a mais e o adversário encostado às cordas, apesar da reorganização feita por Abel Ferreira (que mudou para um 4x4x1 com Paulinho na frente), Jorge Simão demorou a dar-lhe o golpe de misericórdia: Raúl foi expulso aos 59’ e, durante 20 minutos em superioridade numérica, o Boavista manteve a organização ofensiva sem um verdadeiro homem de área: era o móvel Rochinha quem continuava a fazer de avançado-centro. Tanto esperou na paragem que acabou por ser atropelado pelo autocarro que lá vinha. Porque aquilo que se passou no final da partida foi tão inesperado como avassalador. Primeiro o segundo amarelo a Robson, deixando as duas equipas com dez homens. Depois, um minuto apenas depois, o segundo golo do SC Braga, marcado por Paulinho. Aí, com dez minutos para jogar, Jorge Simão meteu mais gente na frente. Acabou com uma frente de ataque de quatro homens – Carraça na direita, Rui Pedro e Leonardo Ruiz ao meio e Mateus na esquerda – mas isso só serviu para que a equipa se destapasse de tal forma atrás que acabou por sofrer um terceiro golo em contra-ataque.