Portugal
No paraíso madeirense, houve um inferno chamado "bola parada"
2018-02-24 20:50:00
O Marítimo deu um pontapé na crise derrotando o Vitória com três golos nascidos de cantos.

Quando Joel, aos 26 minutos, colocou o Marítimo a vencer por 3-1, bem que se dava no Funchal um típico caso de “não há duas sem três”. Se o Vitória SC chegou à Madeira com cinco golos sofridos na Liga Portuguesa nascidos de situações de bola parada, saiu dos Barreiros com oito golos encaixados nessa situação. No Paraíso madeirense houve um Inferno chamado bola parada para o Vitória SC e se o Marítimo deu um pontapé na crise frente ao conjunto vimaranense, em muito o conseguiu aproveitando lances criados em esquemas táticos.

Frente ao Vitória SC, o Marítimo regressou aos triunfos na Liga Portuguesa, algo que não sucedia há mais de dois meses desde que o conjunto de Daniel Ramos bateu o SC Braga, em casa, por 1-0, ainda em dezembro de 2017. Fê-lo, aproveitando um detalhe de jogo onde, esta temporada – na passada sim -, o conjunto de Daniel Ramos não tem sido particularmente mortífero: pontapés de canto. O deja vu nos Barreiros foi constante. Afinal, todos os três golos marcados pelo Marítimo, e todos ainda antes da meia hora de jogo, surgiram após a marcação de pontapés de canto. Pelo meio, Hurtado, aos 15 minutos, ainda acalentou o sonho vimaranense de uma resposta positiva à goleada sofrida na jornada passada, porém, só já na segunda parte (e em muito consentido pelo próprio Marítimo), o Vitória ameaçou o triunfo insular. Hurtado bisou, mas o golo foi insuficiente para retomar o emblema vimaranense aos triunfos. Vítor Campelos, em tarde de estreia, viu o Vitória perder pela terceira vez consecutiva.

Nos Barreiros nada antecipou quem viu o jogo para o que aconteceu nos primeiros 15 minutos. A eficácia foi total de ambas as partes. Afinal, num período marcado essencialmente pelas assistências médicas a Edgar Costa e que motivaram a substituição do capitão maritimista ainda antes dos dez minutos de jogo, festejaram-se dois golos. Hurtado, aos 15 minutos, teve aliás a honra de fazer o único golo de bola corrida do encontro quando aproveitou da melhor maneira um cruzamento de Konan do corredor esquerdo depois do lateral ter sido lançado em profundidade por Mattheus Oliveira.

Um golo e movimento ofensivo que, para o lado do Vitória, foi um oásis durante a primeira parte. É que, já depois dele, o Marítimo aproveitou dois cantos para se colocar confortável no marcador. E, mesmo quando não conseguiu chegar ao golo, fez das bolas paradas a sua arma principal e ainda obrigou Douglas a um par de defesas decisivas. A abordagem do Vitória SC às situações de bola parada do Marítimo foi desastrosa. Três golos sofridos nasceram da marcação de pontapés de canto e, pelo meio, uma situação idêntica apontada por Correa criou muito perigo, tal como num livre lateral de Rúben Ferreira, onde só Douglas evitou o golo a Ricardo Valente.

A lesão prematura de Edgar Costa prometeu ser um golpe duro para a estratégia do Marítimo, mas o aproveitamento de lances de bola parada foi a resposta encontrada pela equipa de Daniel Ramos para sair da crise. Campelos teve muito para corrigir ao intervalo e, por breves instantes, deu ideia que o Vitória tinha surgido na segunda parte com outro acerto. Sol de pouca dura, já que apenas a ambição, ou falta dela, de Joel, evitou que o camaronês naturalizado brasileiro – eles existem – dilatasse ainda mais a vantagem maritimista. À medida que os minutos avançaram o Marítimo voltou a tomar conta do encontro e ficou muito perto de aumentar a vantagem.

O Marítimo estava confortável no encontro quando o Vitória nele reentrou. Cortesia de Charles que, com uma entrada disparatada sobre Heldon quando o extremo do Vitória seguia rumo à linha lateral, provocou a grande penalidade que Hurtado aproveitou para bisar na partida e deixar Daniel Ramos com o coração nas mãos. O lance podia ter feito a balança pender para o lado do Vitória nos minutos finais, porém, o conjunto vimaranense não teve capacidade para ameaçar o triunfo do Marítimo e foi mesmo Joel que, num remate cruzado, já em cima do minuto noventa, mais perto ficou de aumentar a contagem.

No paraíso madeirense houve um inferno chamado bolas paradas. O Vitória voltou a sair derrotado e de crise reforçada. Uma crise que não é só desportiva, mas também institucional ou não tivessem passado, parte do jogo, os adeptos do Vitória, a exigir mais aos seus jogadores e, de certa maneira, ao presidente do clube, Júlio Mendes. Terceira derrota consecutiva para o Vitória, num jogo cuja abordagem a lances de bola parada foi sintomática de uma equipa em crise anímica. Pior resposta à goleada sofrida perante o SC Braga era complicado.