Portugal
Não se chateie! Esqueça o resultado, aproveite o João e aperte a defesa
2018-05-28 22:40:00
Fernando Santos estava chateado por não ter ganho, mas o jogo serviu para tirar algumas "ilações"

Todos sabemos que estes jogos de preparação duram 45 minutos. 60, no máximo. E nos 45 de hoje percebemos algumas coisas: boas e más. Se foi possível lembrar o porquê de João Mário ser um dos melhores médio portugueses - e porque atuou numa posição que lhe assenta como uma luva -, também ficou evidente aos olhos de todos que o entendimento defensivo deixa muito a desejar. Primeiro, porque grande parte das investidas tunisinas (na primeira parte) resultaram do défice físico de Raphael Guerreiro, mas sobretudo porque esta rapaziada ainda não se conhece.

Ora bem. Por mais que Fernando Santos se chateie - e saiu do jogo muito chateado - é sabido que não é o resultado que conta nestes encontros de caráter particular. Mais importante do que o score final é tirar as “ilações” de que o engenheiro falou no lançamento da partida. E em relação a isso, o selecionador pode dar-se por muito contente. É que deu para perceber algumas coisas deste particular frente à Tunísia - a melhor seleção africana no ranking da FIFA - que terminou com um empate a dois golos.

A primeira prende-se com a movimentação ofensiva e é positiva. A seleção ficou a ganhar com o posicionamento de João Mário atrás do ponta-de-lança, que neste caso foi André Silva, e percebeu-se que é ali que o médio melhor joga e que melhor explora a sua capacidade técnica. Conseguiu jogar entre as linhas tunisinas e surgiu muitas vezes em zonas de finalização, e é aí que continua a demonstrar grandes dificuldades: tem pouco golo. Conseguiu-o, no entanto, de fora da área, com um remate imparável.

Enquanto houve jogo - os tais 45/60 minutos - houve Ricardo Quaresma. Foi a par de João Mário o grande impulsionador do jogo ofensivo da seleção portuguesa. Bem no lado esquerdo, mas melhor ainda quando derivou para o lado direito. Foi dali que cruzou para a cabeça de André Silva para o primeiro golo português. Mais escondido andou Bernardo Silva, que, quanto a nós, tarda em demonstrar na seleção aquilo que todos sabemos que é capaz de fazer. Subiu um pouco de produção nos quinze minutos após o intervalo, mas continua a ser pouco.

Agora. O que aconteceu de menos bom. Para começar falemos da pouca intensidade aplicada no momento da perda da bola, e esta responsabilidade não pode ser assacada ao reduto mais recuado, muito pelo contrário. Se os jogadores lá à frente não dificultarem a tarefa aos opositores, aquando da perda do esférico, é com mais facilidade que estes conseguem avançar até zonas ofensivas. Se acrescentarmos a isto um setor defensivo que jogou junto pela primeira vez temos grande parte da explicação do porquê das fragilidades defensivas patenteadas nesta partida diante da Tunísia.

Os tunisinos perceberam que seria pelo lado direito do ataque deles que estava um ponto a explorar: a debilidade física de Raphael Guerreiro. Como é sabido, o lateral-esquerdo teve uma temporada muito complicada. Foi assolado por lesões e pouco jogo ao serviço do Borussia Dortmund e chega a este estágio em claro sub-rendimento.

As substituições ao intervalo melhoraram pouco, ou quase nada, a performance defensiva da equipa. Se no ataque, os primeiros 15 minutos do segundo tempo (os últimos antes das substituições que descaracterizaram o encontro por completo) voltaram a mostrar apontamentos positivos no ataque - mais João Mário, outra vez -, é verdade que a defesa continuava a “meter água”. Senão veja o lance do segundo golo tunisino. Falha clara de José Fonte que colocou em jogo o avançado tunisino.

Assim sendo, tudo o que se poderia desejar que acontecesse nesta partida amigável aconteceu. Percebeu-se as coisas boas que Fernando santos pode explorar - não esquecer que o grupo está incompleto, sobretudo no plano ofensivo - e ficaram evidente lacunas que podem ser trabalhadas no tempo que resta à seleção até ao primeiro jogo no Mundial: dia 15 de junho frente à Espanha.