Portugal
Não é Jeka Afonso, é só Jeka. Joga que se farta e tem… opiniões
2018-11-30 19:00:00
Soubemos que tem sido dos grandes craques do Campeonato de Portugal. Ficámos curiosos.

O trocadilho do título, com Zeca Afonso, estava ali mesmo à mão e não resistimos. Perdoem-nos. Para compensar, trazemos bola da boa e talento do bom. Já ouviu falar de Jeka? Provavelmente, não. Nós também ouvimos pouco, mas soubemos que tem sido dos grandes craques do Campeonato de Portugal – algo que o registo goleador também atesta. Ficámos curiosos.

Para saber mais sobre Yevhenii Serdiuk – Jeka, aqui entre a malta da bola –  falámos com Mário Mendonça, ex-colega (atualmente no Merelinense), que nos contou historinhas com opiniões muito fortes e pessoais de Jeka. Já lá vamos, já lá vamos.

Antes, há que justificar este texto. Jeka tem apenas 20 anos e já leva sete golos em 14 jogos, no Campeonato de Portugal, pelo CD Fátima, depois de uma temporada também com sete. Apesar de termos incluído no título uma referência a Zeca Afonso – um clássico bem português –, este craque tem pouco de tuga: é ucraniano e chegou há pouco tempo ao país. Ainda assim, a tempo de fazer calar muitos adversários.

“Tem de melhorar a concentração”

Comecemos pelo talento. Mário Mendonça, ex-colega de equipa, define Jeka como um avançado “muito forte fisicamente, muito rápido e explosivo”. “É bom tecnicamente, forte no 1 contra 1 e tem uma facilidade de remate incrível com o pé esquerdo. Desequilibra mais na frente, jogando pelo corredor central”, acrescenta, ao Bancada.

Mas será que é assim?

Pelo visto, sim, é. Belo golo, rapaz… à ponta de lança!

Mário Mendonça, apesar dos rasgados elogios a Jeka, assume que o jovem tem pontos a melhorar: “A cultura tática, o jogo aéreo e, acima de tudo, alguns aspetos mentais como a concentração, que no futebol moderno faz a diferença”.

E como se melhora isto? Olhando para os bons exemplos. Jeka está a ser orientado por outro clássico português. Lembra-se de Kata? Fez parte da União de Leiria que Jorge Jesus levou à terceira ronda da Intertoto e do Beira-Mar que António Sousa colocou à porta do top-10. Kata é o atual treinador do Fátima e, segundo Mário Mendonça, “tem potenciado imenso” o talento de Jeka “e levado para outro nível”.

“Aquela expressão não tinha nada a ver”

O grande problema de Jeka – se é que é um problema – tem sido a língua e a idade. Mário Mendonça explica que Jeka “se esforça para se integrar e aprender a língua e os costumes” e que “como é normal pela idade, ainda revela alguma imaturidade, que se reflete em alguns momentos. “É um miúdo ambicioso, divertido e com bom interior que, como muitos outros, deixou a família a muitos quilómetros de distância em busca do sonho”, acrescenta.

Para sermos mais concretos, são cerca de 4800 quilómetros que separam Jeka, em Fátima, da família, em Donetsk, no extremo leste da Ucrânia.

Para terminar, a tal historinha das opiniões fortes.

“Nós brincávamos bastante com ele. Como ele estava a aprender a língua portuguesa, era muito engraçado, porque ele, obviamente, enganava-se algumas vezes e a malta também brincava saudavelmente com isso. Há várias situações de balneário engraçadas, mas que não poderei contar pela linguagem e o teor das brincadeiras, mas houve uma situação comigo que eu achei muito engraçada. Eu sou uma pessoa bastante ponderada a falar e o Jeka ficava sempre muito atento para aprender a língua. Eu, em determinada conversa, dei a minha opinião do género ‘na minha opinião... mas atenção: na minha opinião’ e o Jeka não disse nada na hora, mas ficou com aquilo na cabeça. Uns dias mais tarde, em grupo, ele teve confiança para falar e falou exatamente da forma como eu tinha falado. ‘Na minha opinião…, mas atenção: na minha opinião’. Foi uma risota geral, porque aquela expressão não tinha nada a ver com ele, mas houve um esforço grande da parte dele para se adaptar a nós”.