Portugal
Moreirense trava o Sporting com mais nervo e organização
2017-09-23 20:45:00
Uma primeira parte displicente e uma segunda com mais garra mas menos qualidade levaram os leões a perder pontos

A mais fraca exibição do Sporting no campeonato conduziu à perda dos primeiros pontos por parte da equipa de Jorge Jesus, que assim viu fugir o FC Porto no topo da tabela, antes do clássico do próximo domingo. O empate com o Moreirense (1-1) saiu da conjugação de três fatores: a entrada displicente dos leões, que deram 45 minutos de avanço; a boa organização da equipa da casa, que mesmo quando foi dominada conseguiu sempre encontrar espaço para meter contra-ataques perigosos e ameaçar a baliza de Rui Patrício; e a fraca qualidade do jogo leonino na meia-hora final, em que se limitou a despejar bolas na frente à espera de um golo salvador. Desta vez, ao contrário do que tinha acontecido contra o Vitória de Setúbal ou o Feirense, esse golo não apareceu.

Aliás, mesmo o golo que o Sporting marcou, um auto-golo de Abarhoun, apareceu quase que caído do céu. Foi após um canto, um novo cruzamento de Bruno César, um remate colocado de William Carvalho e uma defesa do guardião Jhonathan contra o seu defesa-central, que vinha rápido em seu auxílio. Estava-se no minuto 60, havia meia-hora para jogar e nessa altura poderia acreditar-se que os leões iam cavalgar esse golo. Mas não: até final, do Sporting só se viu um remate de Gelson à barra, logo aos 67’, após amorti de Bas Dost, em bola aérea metida na área. Um minuto antes, Jorge Jesus reagira ao que de mau tinha visto durante a primeira parte – a falta de nervo, de intensidade a meio-campo – e trocara Bruno Fernandes por Battaglia. Os leões começaram a ganhar duelos e bolas divididas, mas perderam esclarecimento na construção desde trás. Como resultado disso, só voltaram a rematar aos 90+4’, num cabeceamento de William Carvalho sobre a barra. E pelo meio, fruto até da troca promovida por Jesus – Battaglia foi jogar para trás e William para médio mais avançado – vários erros posicionais permitiram contra-ataques perigosos ao Moreirense, que podia também ter desbloqueado o marcador a seu favor.

Para se perceber melhor a questão é preciso uma imagem do que foi a primeira parte. Manuel Machado organizou a equipa num 4x2x3x1 que metia o móvel Peña como avançado e pedia a Tozé que saísse com frequência da esquerda para o espaço entre as duas linhas leoninas, onde funcionava como ponto de apoio para as investidas da equipa da casa. Jorge Jesus entrou com Alan Ruiz perto de Bas Dost e pediu a Bruno Fernandes que atuasse perto de William, num meio-campo de grande qualidade com bola mas fraca intensidade defensiva. Em resultado disto, se o Sporting tinha a bola e conseguia fazê-la chegar perto da área do Moreirense criava perigo: Ruiz podia ter aberto o ativo aos 9’, num remate em arco que saiu ligeiramente ao lado do ângulo superior da baliza de Jhonathan e ao qual este nunca chegaria. Mas quem tinha mais volume de jogo, fruto de conseguir ganhar a maioria dos duelos, era o Moreirense, que também esteve à beira de marcar aos 21’, quando Tozé isolou Peña e só uma má receção deste permitiu que a mancha de Rui Patrício chegasse a tempo de evitar males maiores.

O jogo ia neste rame-rame e já se adivinhava que o Sporting precisava de Battaglia, porque se ao meio-campo com o argentino e Adrien, que Jesus chegou a experimentar em casa frente ao Steaua, por exemplo, faltavam ideias, a este, com William e Bruno Fernandes, faltou intensidade nos duelos, o que se revela decisivo, pelo menos em jogos fora de casa contra equipas aguerridas como este Moreirense. O que veio baralhar as ideias que Jesus podia ter a esse respeito foi o golo de Rafael Costa, marcado aos 43’. Livre na esquerda, após um canto, o médio brasileiro disparou uma bomba que Patrício não conseguiu deter e pôs a equipa da casa na frente. A perder, já se vê, seria complicado para Jesus meter em campo um médio de cariz defensivo, pelo que ao intervalo a opção foi trocar Alan Ruiz por Doumbia, para ganhar poder de fogo na área – o argentino move-se mais fora dela. O Sporting encostou o Moreirense atrás e, mesmo sem criar grandes situações de perigo, fruto da colocação sempre atenta da equipa de Manuel Machado, acabou por marcar.

Nessa altura, o jogo mudou de bases. Os leões tinham meia-hora para fazer um golo e Jesus terá pensado que era como começar de novo, pelo que aplicou a receita mais adequada para ganhar a este Moreirense: nervo a meio-campo. Entrou Battaglia, mas o problema nessa altura foi ter saído Bruno Fernandes. A questão é que Doumbia tinha acabado de entrar, Bas Dost fazia falta na frente e o treinador não parece acreditar na hipótese de ter o jovem bombardeiro a sair da faixa lateral, caso em que poderia sacrificar Bruno César. Como ainda por cima o treinador mandou adiantar William e colocar Battaglia mais atrás, a equipa perdeu mesmo qualidade na construção e, com exceção do tal remate de Gelson à barra, um minuto após a substituição, não voltou a rematar até ao tempo de compensação. O Moreirense, esse, continuava organizado. Alfa Semedo era a unidade crucial a meio-campo, Tozé fazia um jogo enorme a funcionar como ponto de apoio para os contra-ataques e as substituições operadas por Manuel Machado ainda ajudaram: tanto Bilal como Cadiz ajudaram a fluidificar estes momentos, frente a um Sporting a quem o passar do tempo ia roubando a clarividência no preenchimento dos espaços defensivos: Adivinhava-se o golo, de um lado ou do outro.

E no entanto o golo não apareceu. Jesus ainda chamou Iuri, mas tal como Doumbia, o extremo não trouxe nada de positivo ao jogo. Só aos 90+4’, já com Coates ao lado de Bas Dost e Doumbia como ponta-de-lança, é que veio a primeira situação de golo leonina. E foi numa bola parada: livre de Iuri, cabeça para a zona frontal de Battaglia e entrada de William a cabecear sobre a barra. O apito final veio pouco depois.