Portugal
Moreirense, Rio Ave e a arte de vencer tendo pouca bola
2018-04-22 20:35:00
O Rio Ave dominou territorialmente, mas o controlo da posse de bola de pouco serviu perante o Moreirense.

Vencer sem bola? Sim, é possível. O Moreirense que o diga. Os números finais não enganam. Com mais de 70% de posse de bola na partida, apesar do domínio territorial claro do Rio Ave em Moreira de Cónegos tal não se traduziu em três pontos para a equipa de Vila do Conde que, na jornada passada, até tem duelo direto perante o GD Chaves que hoje venceu o Portimonense. O Rio Ave carregou sobre o Moreirense, mas a vitória sorriu aos Cónegos numa altura em que, lá por baixo, vários rivais pela manutenção escorregaram. Para o Moreirense, este fim de semana, a vitória foi dupla e para isso nem precisou ter bola.

Em Moreira de Cónegos o início de jogo foi repartido e desde cedo o cliché se aplicou ao encontro: mais do que um jogo de futebol, Moreirense e Rio Ave encetaram uma batalha de estética futebolística num claro contraste de estilos sobre o relvado. O Rio Ave na habitual construção pausada e organizada; o Moreirense explorando o adiantamento da linha defensiva rio avista. Algo que, em virtude da mobilidade de Ronaldo Peña e Bilel, problemas constantes causou à defensiva da equipa de Miguel Cardoso.

Depois de vários ataques prometedores que não cumpriram os seus desígnios, só após a passagem do primeiro quarto de hora em Moreira de Cónegos chegou o primeiro lance digno de registo do encontro. Nélson Monte, após canto, cabeceou para defesa apertada de Jhonatan. O lance agitou o encontro e nem cinco minutos passaram do primeiro aviso da partida até que Bilel colocasse o Moreirense na frente. Felino, Bilel jogou no risco, calculou à medida a distância para a linha defensiva do Rio Ave e após lançamento de Rafael Costa nas costas (desculpem) da defesa do Rio Ave, isolou-se na cara de Cássio para, à saída do brasileiro, rematar de primeira para o primeiro (já agora) golo do encontro.

Pela primeira vez o Moreirense encontrou forma de isolar um jogador nas costas da defesa vila-condense e logo lhe apanhou o jeito. Menos de dez minutos depois, mais uma vez Bilel surgiu entre o lateral e o central do Rio Ave fugindo-lhes nas costas para testar Cássio já perto do brasileiro no interior da área. O Rio Ave ia mostrando dificuldade em controlar a profundidade defensiva, colocando passes na medida certa fora do alcance, ora da defesa do Rio Ave, ora do seu guarda redes. No minuto seguinte, só em falta Marcão travou Peña em jogada semelhante. Em três lances de autor, o Moreirense feriu o Rio Ave. Numa deu golo, numa assustou, na outra amarelou um dos centrais da equipa vila-condense.

Organizados em campo e letais no contra-ataque, só de bola parada o Rio Ave conseguiu ser perigoso, mesmo perante um domínio quase absoluto da posse de bola. Ora através de livres diretos de João Novais, ora quando Guedes, aos 32 minutos, após canto, cabeceou uma bola à trave da baliza de Jhonatan. O Rio Ave, porém, continuava sem encontrar forma de controlar as saídas rápidas do Moreirense para o ataque e aos 34 minutos foi Arsénio quem fugiu aos centrais do Rio Ave para obrigar Cássio a defesa complicada. O jogo atravessou o seu melhor período por esta altura, com chegadas constantes às áreas adversárias e, por fim, o Rio Ave quebrou a organização do Moreirense aos 35 minutos. Quando finalmente conseguiu ligar o seu jogo de forma organizada e rápida, com triangulações e trocas de bola ao primeiro toque, Yuri e Diego Lopes combinaram no corredor esquerdo, com o lateral a cruzar para o interior da área onde encontrou Guedes ao primeiro poste a desviar para golo.

A primeira parte terminou empatada. Teve bons momentos, mas também pouca baliza e se foi em jogadas de transição que o Moreirense pareceu encontrar o ouro na primeira metade, a segunda começou com a equipa de Petit a recolocar-se em vantagem após lance de bola parada. Após jogada de insistência nascido de um lançamento lateral com Peña, depois de assistido por Ângelo Neto, à segunda, depois de obrigar Cássio a uma primeira intervenção decisiva a fazer o golo que acabou por ser, também, o golo da vitória moreirense.

Em desvantagem, o Rio Ave não acusou o golo e cresceu no jogo em busca de uma igualdade que acabou por nunca chegar. Aos 56 minutos, após livre lateral de João Novais, obrigou Neto a desviar uma bola para a própria trave e não mais ficou tão perto de voltar a ameaçar a igualdade. Nadjack, Dala e Nuno Santos foram a jogo, mas nem as alterações promovidas por Miguel Cardoso surtiram efeito. O Moreirense, por seu lado, foi sendo cada vez mais encostado às cordas sem nunca se deixar cair. Na verdade, foi já em período de compensação que mais cheirou a golo quando Neto, do meio da rua, tentou um chapéu a Cássio mas a bola saiu demasiado larga.

O Moreirense venceu o Rio Ave e mostrou, mais uma vez, como é possível vencer-se um jogo de futebol tendo pouca bola. Uma vitória a dobrar para a equipa de Moreira de Cónegos que já antes de entrar em campo tinha visto FC Paços de Ferreira, Estoril Praia e Aves escorregar, sando que horas mais tarde o Vitória FC defrontava o FC Porto. O Rio Ave, por seu lado, viu o GD Chaves aproximar-se. Equipa com a qual joga na próxima jornada.