Portugal
Moreirense e Vitória cerraram os dentes e foram à luta. O futebol também é isto.
2018-01-15 21:30:00
Moreirense e Vitória FC esqueceram a ideia de um futebol expansivo, cerraram os dentes e foram à luta.

Em Moreira de Cónegos, houve um Vitória que não teve paciência para atacar, mas teve muito Gonçalo a desbloquear e a desequilibrar. Gonçalo Paciência e João Amaral foram fulcrais, mas foi quando o Moreirense esqueceu os princípios que jogo que estavam ali para ficar, que o conjunto de Sérgio Vieira equilibrou a partida e anulou a vantagem adversária. Nem sempre se ganha com nota artística e em jogos como o de hoje importa ser guerreiro e batalhador. O Moreirense conseguiu sê-lo à medida que o jogo avançou. O Vitória, sem capacidade para segurar a bola, lamentou-se. Dois lances de bola parada, dois golos. Vantagem anulada. Resultado final: Moreirense-Vitória, 1-1. De dentes cerrados. Na luta. O futebol também é isto.

Para o Vitória, hoje, foi mais do mesmo. Mais uma vez a equipa de José Couceiro desperdiçou uma vantagem de dois golos e acabou a perder pontos. São já nove, os jogos consecutivos na liga portuguesa sem vencer, série que ameaça seriamente o registo máximo da temporada na liga portuguesa quando o Estoril passou onze encontros consecutivos sem encontrar caminho para a vitória. Couceiro queixou-se da incapacidade da equipa ter bola, quando durante grande parte da primeira parte pareceu ser essa, também, parte da sua virtude. Sem paciência para atacar, foi na exploração da profundidade defensiva adversária, na exploração da incisão e verticalidade, que o Vitória deu uma lição de objetividade ao Moreirense e chegou ao golo por duas vezes. Em ambas, por um duo que esteve intratável: Gonçalo Paciência na criação e João Amaral na finalização.

Se de boas intenções está o Inferno cheio, Moreirense e Vitória ganharam bilhete sem viagem de retorno em poucos minutos. Duas equipas que tentaram e pouco ofereceram, mas que, mesmo assim, a espaços, lá levaram água aos seus moinhos. Sempre esquecendo os princípios que geralmente assumem. O Vitória sendo vertical, o Moreirense não se encontrando e, depois sim, vestindo o macacão e indo a jogo, na segunda parte, disposto a lutar. Foi na bola parada que fez a diferença, porém. Ora ainda na primeira parte, de canto, com Alfa Semedo a subir mais alto que qualquer outro. Ora já na segunda aproveitando uma desatenção adversária para após livre lateral chegar ao empate.

Foi nessa mudança de atitude que residiu o segredo da recuperação do Moreirense. Sem ideias e criatividade para jogar o futebol expansivo que, porventura excessivamente otimista, Sérgio Vieira procura incutir em Moreira de Cónegos, Edno foi a jogo e durante alguns minutos ameaçou não terminar a partida devido a impetuosidade excessiva. Terminou e acabou sendo decisivo. Fulcral no crescimento anímico do Moreirense ao obrigar Cristiano a um par de intervenções decisivas que ofereceram ímpeto ao conjunto da casa. Foi assim, de cabeça, aos 61 minutos num lance que pareceu copiado do encontro com o FC Porto e foi assim, pouco depois, aos 65 minutos, com uma bomba do meio da rua. Edno não teve influência direta no resultado, mas para ele muito ajudou. Dez minutos depois, Bilel, desperdiçou de forma flagrante.

Se na primeira parte o Vitória ainda conseguiu encontrar espaços e ligar o seu futebol ao setor ofensivo, na segunda inverteu papéis com o Moreirense e nunca se encontrou. E, tal como perante o Estoril, dois golos foi uma vantagem demasiado curta. A segunda parte foi dominada pelo Moreirense que ameaçou seriamente o resultado até finalmente o empatar. Alteração de mentalidade foi chave na melhoria do Moreirense que esqueceu o futebol expansivo e foi à luta. Mais objetivo, mais físico. Mais perto da área do Vitória. De estranhar, apenas o facto do golo do empate só ter surgido em cima do minuto noventa e numa altura em que o futebol era mais humano que como o conhecemos.

Por André Micael o Moreirense chegou ao empate e mereceu-o. Mudou a sua face, fez por isso. O Vitória não soube segurar o jogo e lamentou-se. Não foi bonito, nem houve magia. Mas, lá por baixo, mais do que um jogo, o futebol é uma batalha. Na segunda parte só deu Moreirense. Cerrou os dentes e foi à luta. O futebol também é isto, afinal.