Portugal
Marega, de “parede” que queria jogar todos os minutos a arma secreta no FC Porto
2017-08-10 15:30:00
Avançado maliano bisou na estreia oficial do FC Porto em 2017/18, depois de uma primeira passagem falhada pelo Dragão

Marega foi o nome de destaque no triunfo do FC Porto frente ao Estoril-Praia, por 4-0, em jogo da jornada inaugural da Liga 2017/18, depois de ter sido lançado na primeira parte para substituir o lesionado Soares e ter bisado no encontro. Uma situação invulgar, dado o passado nos dragões, onde não se conseguiu impor numa primeira passagem, na segunda metade da temporada 2015/16. Contudo, ontem, frente aos “canarinhos” o avançado maliano, a quem alguns ex-colegas de equipa apelidavam de “parede” e que sempre denotou uma “vontade em disputar todos os jogos e minutos”, dobrou o registo de golos que tinha ao serviço dos azuis e brancos.

Após uma temporada emprestado ao Vitória de Guimarães, Marega viu Sérgio Conceição conceder-lhe uma oportunidade, mesmo depois de se ter juntado ao plantel portista mais tarde. O possante avançado, de 26 anos, precisou de apenas dois minutos e um toque na bola para inaugurar o marcador e lançar o FC Porto para uma goleada no primeiro jogo oficial da temporada. Leonel Pontes, que trouxe o avançado para Portugal quando orientava o Marítimo, acredita que Moussa Marega pode ser um jogador decisivo no FC Porto, após ontem ter dado uma “sapatada” naquilo que todos esperavam dele. “Todos questionavam o que poderia fazer, mas ele pode ser muito interessante para este campeonato”, assegura ao Bancada o técnico, de 45 anos.

Foi em janeiro de 2015 que o destino de Marega se cruzou com Portugal. Depois de Maazou deixar o Marítimo era necessário contratar outro avançado e foi aí que Leonel Pontes decidiu apostar num maliano que representava os franceses do Amiens SCF, na altura no terceiro escalão gaulês, onde era orientado pelo atual selecionador feminino francês, Olivier Echouafni, e lhe tinha causado boas impressões através dos vídeos observados. “Já o tínhamos visto anteriormente e face à necessidade de contratar um avançado voltámos aos jogadores que tínhamos em carteira. Foi interessante perceber que aquilo que vimos nas imagens de observação correspondia à realidade”, recorda Pontes, antes de elogiar as qualidades físicas do avançado: “Era um jogador fisicamente muito forte e desequilibrador. As características que observámos foram as que ele apresentou nos primeiros dias de trabalho”.

A mesma caracterização é feita por Briguel, ex-companheiro de equipa de Marega no Marítimo. “Era forte fisicamente e trabalhava do primeiro ao último minuto. Nos primeiros treinos que fez mostrou logo essas características e até os próprios jogadores ficaram admirados com a qualidade dele”, conta-nos o antigo capitão dos insulares sobre um jogador a quem anteviu logo “capacidade para dar o salto” para outro patamar. Ainda assim, as qualidades físicas esbarravam em algumas dificuldades em relação ao temperamento. “Tinha um comportamento algo difícil, no sentido de querer fazer todos os jogos e minutos. Não era fácil fazer uma substituição com ele. Até porque era um jogador influente na equipa”, explica Briguel, antes de confessar que durante as reaberturas do mercado de transferências o avançado também tinha apetência para “complicar as coisas”.

Já Leonel Pontes não recorda esse temperamento, até porque, depois de lançar o jogador, acabou por deixar o Marítimo após quatro jogos. “Não tive tempo suficiente para conhecer profundamente o Marega. Quando chegou estava há cinco ou seis meses sem competir. Entrou num jogo em casa e no segundo jogo marcou e fez uma assistência frente ao Penafiel. A partir daí fez mais jogos e com maior consistência”, lembra o antigo adjunto de Paulo Bento no Sporting e Seleção Nacional. Contudo, o treinador acredita que Sérgio Conceição será a chave para a situação temperamental de Marega, que no primeiro jogo desta segunda passagem pelo FC Porto já marcou tantos golos como suplente utilizado como nas restantes temporadas feitas em Portugal – marcou dois pelo Marítimo, um deles nesse segundo jogo que fez com Pontes no comando dos insulares.

“Penso que isso não será problema porque o jogador está mais maduro e, certamente, reconhece competência nos colegas que têm jogado, para além de ter percebido que o discurso do treinador não leva a que existam grandes ‘azias’ por estar de fora. Ele está num grande clube e tem de perceber que o todo é mais importante que as partes. Se o comportamento não for adequado àquilo que é um comportamento de equipa poderá ter dificuldades em integrar-se da melhor forma e em ajudar a equipa. Penso que o treinador não dará oportunidades para que isso venha a acontecer”, antevê Leonel Pontes.

Uma “parede” que intimidava defesas e que rende mais no meio

Marega era daqueles jogadores que os defesas não queriam ver pela frente. Nem nos treinos, segundo explica Briguel ao Bancada. “Era difícil enfrentá-lo nos treinos. Até brincávamos que estávamos a bater contra uma parede. Era muito forte fisicamente, muito rápido e para os defesas era sempre um jogador chato de marcar. Em vez de serem os defesas a dar pancada no avançado, era o avançado que dava pancada nos defesas”, garante o antigo defesa madeirense, atualmente com outras funções no clube insular.

Dessa forma, Briguel compara Moussa Marega a um antigo goleador do Sporting. “Tem características idênticas ao Slimani. É incansável, não desiste de lutar e desgasta as defesas”, descreve-nos, antes de classificar o maliano como uma “mais-valia” a jogar no centro do ataque. Ideia corroborada por Leonel Pontes. “Se tiver continuidade de jogo, jogando num sistema de dois avançados e com jogadores de qualidade à volta dele, é natural que o rendimento seja significativo e possa ajudar muito o FC Porto a atingir os objetivos de ganhar os jogos que tem pela frente”, refere o técnico, que na última época orientou os húngaros do Debreceni.

Embora destaque a versatilidade do internacional maliano, Pontes relembra que já na Madeira denotava maior conforto a jogar na frente de ataque. “Quando chegou começámos a perceber que funções ele podia desempenhar. Em certa altura, precisávamos de um jogador para o lado direito do ataque e ele também desempenhou funções nessa posição, mas cedo se percebeu que não era a posição mais cómoda para ele, pois não se sentia a jogar tão bem como no centro. A verdade é que ele tinha perfil para jogar como ponta de lança, principalmente jogando com dois, porque permitia maior mobilidade e procura de espaços, quer de dentro para fora como de fora para dentro. Eram duas posições em que ele podia ser útil, mas jogando sempre mais em espaços interiores”, realça.

No entanto, na primeira passagem pelo Dragão, Marega foi mais utilizado pela direita do ataque, tendo somando apenas um golo em 13 partidas, sendo que só foi titular em quatro delas. “Na primeira passagem que teve pelo FC Porto acabou por ser mal aproveitado. Era preciso saber analisar as características do Marega e o contexto do FC Porto. Não seria uma mais-valia a extremo, mas sim na posição em que está a jogar agora, como avançado ou segundo avançado. Isto porque tem a característica de ser muito trabalhador”, defende Briguel.

Contudo, em Guimarães, sob o comando de Pedro Martins, o avançado, que no início do ano representou o Mali na Taça das Nações Africanas, redescobriu a boa forma e os golos. O segredo desse sucesso é facilmente dissecado por Leonel Pontes. “Teve muito que ver com o facto de jogar mais por fora, mas fazendo movimentos interiores e aproximando-se de zonas de finalização. É um jogador que precisa de algum espaço para finalizar, talvez por isso tenha tido sucesso em Guimarães, onde jogava mais em contra-ataque e em transições de ataque rápido. As características dele adaptam-se a esse tipo de futebol e acabou por ter um grande rendimento”, sublinha o técnico madeirense.

Para o técnico que lançou Marega na Primeira Liga, a “boa época” ao serviço do Vitória, onde fez 14 golos em 31 jogos, acabou por fazer com que o jogador regressasse “com níveis de confiança elevados” ao Dragão. “O FC Porto é o sítio onde ele, certamente, gostaria de estar. Face ao discurso de exigência e rigor do treinador tem respondido a esse chamamento. Todos os treinadores têm alguma influência nos jogadores, positiva ou até negativa. Neste caso, o Pedro Martins utilizou-o da melhor forma e o Sérgio Conceição, em função do tipo de liderança que exerce e do que pretende para a equipa, vai certamente tirar partido do Marega, se ele assim corresponder. Ontem, pelos vistos, teve a sua entrada e estas coisas mudam de um momento para o outro”, remata Leonel Pontes.