Portugal
Marcel Keizer ri que nem um doido, fala que se farta e põe-nos a correr
2018-11-05 17:05:00
Falámos com Andrew Marveggio e Sjaak Lettinga, ex-jogadores do treinador apontado ao Sporting.

Marcel Keizer, segundo os rumores – cada vez mais consistentes –, será o novo treinador do Sporting. “Marcel quê? Quem é esse tipo?”. É esta a pergunta que boa parte dos adeptos tem feito. O Bancada foi tratar disso e, mais do que o perfil cronológico da carreira deste "carequinha", de 49 anos, interessou-nos “escavar” outro tipo de coisas: histórias curiosas, que estilo de jogo Keizer gosta de ter, que personalidade tem e, claro, que visão tem da aposta em jovens. Afinal, deverá ter sido isso que mais seduziu Frederico Varandas.

Falámos com Andrew Marveggio e Sjaak Lettinga e, ao Bancada, estes ex-jogadores de Keizer contaram histórias com quedas, risos – risos a sério –, muita conversa e muita corrida. E começamos já por aqui.

“0-8? Em casa? Esperem que já vão ver, meus meninos…”

Há uns anos, o holandês Co Adriaanse trouxe para Portugal uma postura rígida, dura e disciplinadora. Os treinos, reza a lenda, tinham muito físico e pouco técnico, muita corrida e pouca bola. Keizer também sabe ser assim.

“Uma vez, perdemos 8-0 frente ao Excelsior, em casa. Um jogo muito, muito mau. Um desastre. Nos dois dias seguintes, nem vimos a bola. Ele pôs-nos apenas a correr, correr, correr”, conta-nos Sjaak Lettinga, relembrando os tempos de Keizer no Telstar, da Holanda.

Uma palavra para os jogadores do Sporting: descansem, rapazes, que isto não costuma ser assim. Pelo que percebemos, Marcel Keizer é um tipo porreiro. Mais: é adepto da conversa. Fala muito, fala bem e traz gente para a discussão. Nani, Bruno Fernandes, Bas Dost e Mathieu, isto é para vocês:

“O Marcel Keizer é honesto e é bom falar com ele. É uma pessoa muito engraçada e sabe o que quer. Não há muitos treinadores que façam isto, mas ele não tem medo de juntar os melhores jogadores da equipa e falar com eles sobre o estilo de jogo. Ele tem a habilidade de ouvir o que os melhores jogadores têm a dizer sobre o estilo de jogo. Ele fala muito”.

Andrew Marveggio, australiano que atua no Macva Sabac, da Liga Sérvia, confirma-nos que Keizer “tem uma personalidade afável e amiga”. “Sempre me deixou à vontade para lhe pedir conselhos e perguntar no que é que poderia melhorar”, acrescenta. Lettinga conta, ainda, dois episódios que ilustram a sensibilidade de Keizer. “Sabe lidar com situações difíceis como a do Nouri [jogador que terminou a carreira, com lesões cerebrais]. E houve outro exemplo, quando um diretor desportivo do Telstar faleceu de cancro. O Keizer não o via há mais de quatro anos, mas foi ao funeral dele. É este tipo de homem que ele é”.

Bola no pé, criar desde trás e apostar nos miúdos, mas com cabeça

Deixemos os elogios ao homem e vamos à bola. Quem é, afinal, o treinador Marcel Keizer?

“Geralmente, ele gosta de ter uma equipa atacante. Gosta de jogar em posse, desde trás, dominando o jogo. A ideia dele é criar oportunidades com circulação rápida e bola no pé”, explica-nos Sjaak Lettinga, que adverte: “Mas ele sabe adaptar-se. No Telstar, começámos por jogar em 4x3x3, porque tínhamos grandes jogadores nas alas. Na segunda temporada, já não tínhamos grandes alas, mas sim bons laterais. Baseado nisso, passámos a jogar em 4x4x2. Ele identifica bem as características dos jogadores e adapta as suas ideias a isso”.

Já o australiano Marveggio confirma que Keizer “ensina os jogadores a jogar com um estilo baseado na posse” e elogia: “ele desenvolve individualmente os jogadores, mas também a equipa. Os treinos dele eram muito equilibrados. Não é um treinador defensivo, mas, com ele, não é tudo a ir para o ataque”.

Um dos motivos que deverá ter levado Frederico Varandas a pensar em Marcel Keizer poderá ter sido o conhecimento que o técnico tem das camadas jovens. Ainda que este facto seja uma ligeira falácia – na verdade, Keizer, no Ajax, treinou apenas a equipa B –, fomos saber de que forma o holandês olha para a aposta nos jovens talentos. Afinal, vai treinar um clube que, tradicionalmente, dá valor a essa aposta.

Andrew Marveggio diz que “Keizer gosta de misturar as duas coisas”. “Ele aposta em jovens, mas gosta de tê-los a aprender com os mais experientes”, detalha. Pelas mãos de Keizer passou gente “nada conhecida” como Davinson Sanchez, Justin Kluivert, Kenny Tete, de Ligt, David Neres ou Onana.

“Ele estava a rir que nem um doido”

Por fim, a tal historinha do riso. Conta-nos Sjaak Lettinga que Marcel Keizer ri com facilidade. Aliás, num momento em que poderia estar prestes a sair uma “dura”, saiu riso.

“Lembro-me de um treino no qual estávamos a fazer 11 contra 11, antes de um jogo. tínhamos acabado de começar e eu estava a driblar no meio campo. O relvado não era tão bom como é hoje e perdi a bola. Mas não só perdi o controlo da bola, como dos meus pés. Apesar de não ter nenhum jogador a pressionar-me, caí no relvado. Perdi a bola e, dez segundos depois, a minha equipa sofreu golo. Não foi bonito.

Quando já estava preparado para uma “dura”, com gritos do mister, percebi que a minha queda deve ter sido muito engraçada. O Marcel Keizer estava a rir-se que nem um doido. Ria-se tanto que toda a gente, no treino, estava a rir também”.