Portugal
Mais Herrera no México que no Porto? Resposta está no modelo e esquema de jogo
2017-10-07 16:00:00
Analistas mexicanos descartam deveres patrióticos e atribuem maior fulgor de Herrera no México ao sistema de jogo azteca

Com o golo alcançado ontem em San Luís Potosí, México, Héctor Herrera deu seguimento à melhor fase da atual temporada para o médio. Se o centrocampista mexicano iniciou a temporada como alternativa no meio campo portista, a derrota do conjunto de Sérgio Conceição em casa, perante o Besiktas, em jogo a contar para a Liga dos Campeões, parece ter surgido como ponto de viragem na temporada de Héctor Herrera. Se até então o mexicano apenas havia participado em 39 minutos da liga portuguesa, espalhados por quatro jornadas (e frente ao Moreirense, tal como no encontro perante o emblema turco, não saiu do banco de suplentes), desde então o médio azteca tem sido titular quase absoluto na manobra da equipa de Sérgio Conceição. Nos quatro jogos seguintes à derrota do FC Porto no Dragão frente ao Besiktas, Héctor Herrera foi titular em qualquer um deles e apenas frente ao Sporting – jogo em que até foi capitão - não cumpriu os noventa minutos.

No FC Porto, Héctor Herrera demorou a encaixar no esquema de Sérgio Conceição mas, no México, a sua utilização por parte de Juan Carlos Osório tem sido constante. Apesar das consecutivas alterações do técnico mexicano, de partida para partida, Héctor Herrera é por esta altura o jogador mexicano com mais minutos disputados na fase de qualificação CONCACAF para o Mundial Rússia 2018. Com 1158 minutos disputados na qualificação norte/centro americana para o campeonato do Mundo, só outro Héctor, Moreno, chega perto do médio mexicano no que a minutos (1126) disputados pelo México diz respeito. Uma qualificação para a qual Herrera contribuiu ainda com dois golos e uma assistência, incluindo o tento de hoje oriundo da marcação de um livre direto – recorde-se que, esta temporada, o FC Porto ainda não fez qualquer golo a partir da marcação de um livre directo. 

Não é, por isso, surpresa, que José Luis Sánchez (antigo treinador mexicano de equipas da primeira divisão mexicana como o Puebla, o Estudiantes Tecos ou o Veracruz e ainda uma passagem pela MLS ao serviço do Chivas USA e hoje comentador da ESPN no programa de referência do futebol mexicano “Fútbol Picante”) nos confesse que “Héctor Herrera é um jogador particularmente apreciado por Juan Carlos Osório e do qual recebe grande apoio”. O antigo técnico mexicano não tem resposta para o porquê de Héctor Herrera não se conseguir impor ou mostrar todo o seu futebol ao serviço do FC Porto da mesma forma que o faz na seleção mexicana, porém as suas funções e esquema tático das seleções mexicanas poderão estar na origem desse maior brilho. Da mesma maneira que a sua recente afirmação na temporada e esquema de Sérgio Conceição estão associados a alterações efetuadas pelo técnico português na equipa do FC Porto. Ainda assim, tal como no FC Porto, também no México, para os adeptos da seleção azteca e alguma imprensa do país, Herrera não é um jogador consensual. 

Mapa de calor de Óliver Torres no FC Porto-Besiktas, 13 de setembro de 2017

O mapa de calor anterior serve de exemplo para ilustrar as diferenças posicionais e funções pedidas por Sérgio Conceição ao segundo médio do seu esquema tático, mostrando o médio espanhol a raramente ter pisado terrenos mais defensivos. A derrota perante o Besiktas na Liga dos Campeões parece, por isso, ter servido de advertência e ter obrigado Sérgio Conceição a ter uma presença mais cimentada na zona central do terreno, denunciado muito mais um duplo pivot nos tempos mais recentes face aquilo que vinha sendo hábito no início da temporada com Óliver Torres em campo. Além disso, nos recentes encontros perante o Mónaco e o Sporting, o FC Porto surgiu ainda com maior presença central através da utilização de três médios com Danilo, Sérgio Oliveira e Héctor Herrera. Com este novo paradigma, mudaram as funções do médio centro no esquema de Sérgio Conceição algo que, para Andrés Díaz, jornalista e comentador do portal mexicano Mediotiempo, colocou Héctor Herrera mais próximo daquilo que acontece na seleção mexicana. “Se Herrera se tem mostrado melhor ao serviço do México é porque talvez tenha maior liberdade a meio campo”, diz-nos Andrés Díaz sem antes nos fazer saber que, também no México, Héctor Herrera tem sido algo contestado pese embora a importância que Juan Carlos Osório lhe concede. “Apesar do golo de hoje, quando tem estado com o México, Herrera tem sido criticado pelo excesso de toques e tempo quando tem a bola e pela sua falta de definição. Por vezes criticam-se os minutos em demasia que Osório lhe concede”, confessa ao Bancada o jornalista mexicano. Ideia corroborada pelo também jornalista do Mediotiempo, Enrique Villar, que ao Bancada assegura que grande parte da crítica, quer adeptos, quer especializada, considera Herrera "um jogador muito irregular na seleção, onde joga como médio defensivo ou de contenção", que "muitos consideram não transportar para a seleção o nível que apresenta no Porto". Uma situação curiosa que contrasta com a ideia geral de existir um Herrera diferente quando veste a camisola verde da sua seleção. Ainda assim Andrés Díaz concorda que até agora o sistema de jogo da equipa do FC Porto não tem favorecido as características do médio mexicano e que talvez por isso o seu nível futebolístico tenha baixado no FC Porto e sido estendido à seleção mexicana.

José Luís Sánchez vai até mais longe. O antigo técnico primodivisionário defende ao Bancada que “se Osório o colocasse na sua posição real, médio pela direita, Herrera daria muito mais”. Como Andrés Díaz também nos diz, por vezes, como em alguns dos encontros do México na Taça das Confederações, Osório coloca Herrera numa posição de contenção que não o favorece e pode ter estado na origem da queda de forma e reputação do médio mexicano nos últimos tempos, até ao serviço da seleção, quando até então vinha mostrando outro nível face ao apresentado no FC Porto. Os mais recentes encontros do FC Porto, porém, como frente ao Mónaco e Portimonense (considerados pelo portal de avaliação estatística Who Scored como os melhores da temporada de Herrera), mostram que quando é concedida uma maior liberdade posicional e amplitude de movimentos a Herrera, transportando bola a partir de trás, o médio mexicano exponencia melhor o seu futebol. Os mapas de calor mostram ainda que a disponibilidade física de Herrera permite que em momento defensivo a equipa esteja mais equilibrada e o esforço defensivo do meio campo não se cinja ao trabalho de Danilo. Algo que Óliver, no exemplo acima, não consegue oferecer e que talvez tenha motivado as alterações táticas recentes do FC Porto após a derrota perante o Besiktas no Dragão.

Mapa de calor de Herrera no Mónaco-FC Porto, 26 de setembro de 2017

Mapa de calor de Herrera no FC Porto-Portimonense, 22 de setembro de 2017

De Podolski a Hassler, passando pelos também mexicanos Ochoa, Gio dos Santos ou Herrera, a história do futebol está moderadamente repleta de futebolistas cuja carreira nacional/internacional suplanta largamente a sua carreira de clube. No caso do médio mexicano do FC Porto, porém, nem Andrés Díaz ou José Luís Sánchez acreditam que o “problema” de Héctor Herrera esteja relacionado com questões psicológicas, sentimentais ou deveres patrióticos. Para os analistas mexicanos, a dificuldade de Herrera em mostrar todo o seu futebol por Portugal passa, sim, muito mais, pelos modelos de futebol implementados pelos técnicos que passaram pela equipa azul e branca nos últimos anos.