Portugal
Madi Queta: uma pérola do FC Porto cheia de passos de dança
2018-05-09 19:00:00
"Ele não fazia aquilo apenas uma ou duas vezes (...) toda a gente parava para ver aquela receção que ele fazia".

Se está de olho no futebol nacional, provavelmente já ouviu falar de Madi Queta, jovem atacante do FC Porto B – sim, chamamos-lhe atacante propositadamente –, que deu o título aos dragões na Premier League Internacional Cup (PLIC), poucas horas depois de ter valido o triunfo frente ao Vitória de Guimarães B, na Segunda Liga. Madi é dançarino, tem uma alcunha estranha, faz uma coisa também ela muito estranha – no bom sentido –  e talvez possa fugir. Guardemos isto para o final.

Os registos dos sites especializados dizem-nos que este rapaz só tem dois nomes. Chama-se Madi e há de ser filho de um/uma Queta. E chega. Este luso-guineense nasceu em Bissau, mas cedo veio para Portugal. Está no FC Porto desde os iniciados – jogou quase sempre no escalão acima do seu – e, ao Bancada, Bruno Pereira, Leandro Vieira e Luka Oliveira, ex-colegas de equipa, definem-no como um rapaz pacato, mas também dado ao forrobodó.

“Sempre foi um rapaz sossegado, que gosta de estar no canto dele”, começa por dizer Bruno Pereira, ex-jogador da formação do FC Porto, antes de acrescentar: “Mas também é brincalhão quando surgem oportunidades”. E é mesmo nesta base que Leandro Vieira define o ex-colega e, garante, ainda amigo Madi. “É um grande amigo que tenho, que tem muita humildade e é muito divertido, porque é uma pessoa que gosta de estar sempre alegre e alegrar os outros. É amigo do seu amigo”.

Luka Oliveira faz um mix entre a opinião de Bruno e Leandro. “Como pessoa, o Madi é um rapaz divertido e está sempre com um sorriso na cara para os amigos, mas é um bocado envergonhado para as pessoas que não conhece muito bem. É um rapaz muito humilde e que gosta de ter o seu espaço”.

“Arrisco-me a dizer que é o jogador mais técnico com quem já joguei”

Vamos à bola. O Bancada já destacou Madi Queta num lote alargado de pérolas portistas. Focamo-nos, agora, num craque que, como jogador, é difícil de definir. No início, chamámos-lhe “atacante”. Fizemo-lo porque pode ser injusto chamar-lhe “avançado”, mas também é parco dizer que se trata apenas de um extremo. Madi Queta já foi as duas coisas e tem características para ser as duas coisas. Talvez uma mistura dos dois – qual Marega a jogar solto na frente – não seja uma previsão descabida, apesar de ter “apenas” 1,80m.

“Nos cinco anos em que joguei com ele, foi praticamente sempre como extremo-esquerdo, mas, agora, tem aparecido a jogar na frente. Tendo liberdade, pode desempenhar muito bem essa função”, analisa Bruno Pereira, que detalha ainda: “Ele é muito desequilibrador e muito criativo, daí estar a adaptar-se muito bem a essa posição na segunda metade da época. É muito bom tecnicamente, muito forte no drible e na receção, também remata bem com os dois pés e é solidário a defender... é bastante completo”.

E, de facto, Bruno Pereira tem razão. Pelo menos, a avaliar pelo que Queta fez nesta terça-feira, na final da PLIC. Uma receção orientada entre linhas, antes de se virar para a baliza, dar dois nós aos rins do defensor e atirar de pé esquerdo.

Leandro Vieira, no entanto, olha para Madi Queta mais como um jogador de corredor: “É um ala puro, pois gosta de receber a bola e ir para cima no 1 contra 1. É muito rápido”.

A conversa com Luka Oliveira diz-nos que Madi Queta não é normal. Pelo menos, não é como os outros. “Tem um estilo de jogo muito irreverente, arrisca muito no um para um, é rápido e causa muitos desequilíbrios nas defesas contrárias. Arrisco-me a dizer que é o jogador mais técnico com quem já joguei, quem o conhece sabe o que digo”, dispara, explicando: “A forma como ele trata a bola não é normal. A forma como receciona a bola e como dribla não está ao alcance de qualquer um”.

É para segurar?

Já nesta temporada, na fase de grupos da Youth League, Madi Queta somou três golos em seis jogos, antes de uma travessia no deserto. Foram alguns jogos de fora, antes de voltar à equipa e, sobretudo, ao onze. Depois de ter valido o triunfo frente ao Vitória de Guimarães, na Segunda Liga, Madi Queta foi herói em Londres, na PLIC. Há poucos meses, o azar de um tornou-se a sorte do outro: José Gomes lesionou-se e Madi Queta foi chamado por Hélio Sousa para ir ao Europeu sub-19, que Portugal perdeu na final frente à Inglaterra. Madi Queta pôs o pezinho em todas as seleções: sub-15, sub-16, sub-17, sub-18, sub-19 e sub-20.

No meio de tudo isto – qualidade mostrada, percurso nas seleções e muitos minutos somados na equipa B –, fica a questão: Madi Queta é para aproveitar?

Luka Oliveira crê que sim. “Eu acredito que é uma questão de tempo até que ele apareça na primeira equipa. Vemos a forma como ele se afirmou na equipa B e o golo que marcou contra os sub-23 do Arsenal na final da PLIC. É um jogador com uma qualidade tremenda e, sabendo o quanto ele é focado e o quanto ele trabalha – tudo isto aliado à sua humildade –, penso que pode ir muito longe e pode chegar à primeira equipa rapidamente”.

Segundo os dados dos sites especializados, o jogador português tem contrato até… junho de 2018. Mais um mesito. Até já poderia assinar por outro clube, se quisesse. Resta saber o que fará o FC Porto: deixar sair um jogador com o qual nem contam muito para o futuro ou renovar com um pequeno craque que consideram poder vir a render desportiva e financeiramente?

Ditcha, o dançarino

Bruno Pereira diz-nos que, no balneário dos jovens portistas, Madi Queta passou a ser “Maditcha” e, mais tarde, passou a um mais curto “Ditcha”. Ditcha, o dançarino. “Ele gosta de ouvir música e dançar”, conta o ex-colega. A avaliar pelo que fez ao defesa do Arsenal, não há dúvidas de que Madi Queta gosta de dançar. De dançar e de fazer uma coisa bem estranha. Estranha, mas boa. Demasiado boa. Damos a palavra a Luka Oliveira.

“Algo em que o Madi me marcou foi a forma como ele receciona uma bola. Lembro-me de estarmos nos treinos e virarem a bola do lado direito para a esquerda e ele a receber um passe de 30/40 metros com o pé no ar, de calcanhar. E ele não fazia aquilo apenas uma ou duas vezes. Não era uma coisa normal e foi um gesto técnico que sempre me marcou, porque toda a gente parava para ver aquela receção que ele fazia”.