Não é só João Paredes quem se tem destacado no Campeonato de Portugal. Há mais. Abdoulaye Daffé também é goleador, também faz a diferença e tem levado o Gondomar SC à liderança da Série B. No fundo, é um rapaz que anda a dar cartas. Literalmente (já lhe explicarmos o “literalmente”, mais adiante, juntamente com outras histórias de Daffé). Para já, uma historinha rápida, que permite perceber a competitividade deste rapaz.
“Nós jogávamos futevolei no balneário e aquilo eram mesmo grandes torneios. Ele era bom jogador, mas ficava tolo quando perdia”, conta-nos Isac Gomes, ex-colega de Daffé.
Mas vamos lá saber quem é este senegalês, de 23 anos. Não o homem, mas o craque. Aquele que já leva seis golos em seis jogos no Campeonato de Portugal. Ao Bancada, Isac Gomes define-o como “um finalizador nato”, acrescentando: “Notava-se que tinha classe a jogar. Um jogador com toque de bola, não muito de choque, mas sim de requinte, golos simples e finalizava fácil. Muito bom jogador”.
Tuca Saldanha, outro ex-colega, fala-nos das receções orientadas. “Como jogador, é uma máquina de trabalho. Tinha receções orientadas que me deixavam louco com ele. Como defesa central, ter de marcar alguém com o corpo robusto como o dele é sempre difícil, depois ainda ser rápido, trabalhador e com uma qualidade de receção e passe como a dele faz com que tu tenhas de estar sempre concentrado durante o treino. Caso contrário, ele vai passar por ti e vais sofrer golo”.
O atual defesa do Mondinense recorda ainda a temporada 16/17, na qual Daffé fez 11 golos. “Ele no ano 2016/2017 fazia golos de qualquer maneira. E agora, no Gondomar, tenho visto que as coisas continuam iguais, porque quem trabalha como ele é sempre premiado por isso”. Isac Gomes, apesar de dizer que não sabe se isto será bem um defeito, aponta a falta de agressividade como um ponto a melhorar.
Resumindo: estamos a falar de um rapaz com qualidade técnica, refinado, com bom toque de bola, juntando tudo isto a um físico robusto – quase 1,90 metros.
“Lá estava ele, tranquilo e relaxado, a ver os jogos que estivessem a dar”
Já conhecemos um pouco o jogador, falta conhecermos o rapaz. Daffé nasceu no Senegal e começou a jogar no Etoile Lusitana, clube que de raízes portuguesas e que já chegou a ter um considerável contingente luso na equipa técnica – Norton de Matos, por exemplo.
Acabou por vir parar a Portugal e, tirando uns meses de empréstimo ao Aljustrelense, jogou sempre no norte do país.
“O Abdoulaye é uma pessoa muito humilde, com uma simplicidade e alegria contagiantes. Ele nunca estava preocupado contra quem jogávamos: sendo o último ou o primeiro classificado, ele trabalhava sempre da mesma forma. No Gouveia, quando estávamos por casa, lá estava ele, tranquilo e relaxado, a ver os jogos que estivessem a dar na televisão”, define Tuca.
Os golos pelo Gondomar, nesta temporada, não caíram do céu. Já no último ano, no Pedras Rubras, Daffé fez uns respeitáveis 13 golos. Ainda mais respeitáveis considerando que começou a temporada lesionado.
“Ele, basicamente, chegou ao clube "lesionado", com uma pubalgia. Foi um início difícil e uma pré-época complicada para ele. O posto médico teve um trabalho muito importante. Gostei muito dele. Foi sempre exemplar nos treinos e psicologicamente parecia ser um jogador forte”.
“Ele limpou-nos os trocos todos”
Para terminar, com ajuda de Tuca, a tal história dos trocos. A prova de que este rapaz só está bem a ganhar.
“Às sextas e sábados à noite, como tínhamos de ficar por casa por ser véspera de jogo, jogávamos ao “sobe e desce” [jogo de cartas]. Inicialmente, ele não jogava. Ficava apenas a ver e a gozar com os que iam perdendo. Um dia, começámos a meter-nos com ele e a dizer ‘tu falas muito, mas não entras’. E ele lá entrou e disse-nos ‘não tenho dinheiro, mas não preciso: eu vou ganhar’. E a verdade é que ele ganhou e limpou-nos os trocos todos. Sempre que ia a jogo ele nunca tinha prejuízo. Acho que ele é mais um daqueles casos que nasceu para vencer”.