Portugal
Isto foi como ver o Brasil jogar, Estoril Praia
2018-01-30 22:25:00
O Estoril Praia deu um pontapé na crise, travestiu-se de Brasil e resumiu o CD Tondela a uma noite para esquecer.

Algures por Barnsley, em meados dos anos 90 ou, até, finais dos anos 80 – a cronologia nestes casos é tão incerta quanto a data precisa do nascimento do universo -, adeptos do clube local estavam tão entusiasmados com o percurso da sua equipa nos escalões inferiores do campeonato inglês que inventaram um cântico que se tornou um clássico instantâneo. “Isto é como ver o Brasil jogar”, diziam. Apesar da distância geográfica que dista Portugal do país sul americano, a relação entre o Estoril e o Brasil é seguramente mais estreita que aquela que Barnsley poderá ter. Até nas cores, afinal. Nas praias e, claro, na nacionalidade de grande parte dos intervenientes presentes na equipa de Ivo Vieira. Ele, oriundo de uma ilha bem mais próxima da América do Sul. Não consta que os adeptos do Estoril Praia alguma vez tenham ouvido os adeptos do Barnsley cantá-lo, porém, podiam perfeitamente tê-lo feito hoje. Frente ao CD Tondela, ver o Estoril jogar, foi como ver o Brasil fazê-lo. Resultado final? Três a zero, tal qual o último jogo de qualificação do Brasil para o Mundial 2018 frente ao Chile.

Crise? Qual crise? Ivo Vieira queria um jogo de Homens e os seus jogadores corresponderam. Não consta que Tite estivesse presente pela Amoreira, ou que Willian tivesse envergado a camisola de Lucas Evangelista e surgido camuflado no António Coimbra da Mota, mas, a verdade, é que o Estoril jogou como se do Brasil se tratasse. Nem a meia branca faltou na indumentária. Após o jogo, Ivo Vieira disse “não querer embandeirar em arco” com a vitória e que apesar de, a espaços, o Estoril ter jogado bem, a exibição não foi perfeita. Pode até não tê-lo sido, mas dificilmente o Estoril fez uma exibição melhor ao longo dos últimos meses. Foi como ver o Brasil jogar, lá está.

A exibição de controlo e domínio do Estoril foi tal, que o próprio José Sá, no final da partida, se mostrou resignado ao resultado e apelidou a exibição tondelense de “noite para esquecer”. O que teria sido do jogo, porém, se Ricardo Costa, logo aos três minutos, tem dado o melhor seguimento a um canto? O que faltou em eficácia ao Tondela nesse lance, mostrou-a o Estoril pouco depois. Pedro Rodrigues, de fora da área, como em tantas outras ocasiões ao longo da partida, não só criou perigo como foi mais longe ao colocar o Estoril na frente. A defesa do corredor central em terrenos imediatamente frontais à área foi o grande calcanhar de Aquiles do Tondela. Ainda para mais, perante um Estoril Praia cujo modelo de jogo cria superioridade numérica em tal zona do terreno de jogo. E o Bras… perdão, o Estoril, aproveitou. Três minutos depois do golo de Pêpê, foi André Claro quem explorou o espaço concedido à entrada da área para desequilibrar, mas rematou muito por cima.

O Tondela explorava, acima de tudo, a verticalidade, mas não conseguiu ligar jogo. Pedro Nuno criou uma rara situação de perigo aos 20 minutos e quando o Estoril aumentou a contagem por Evangelista, num dos golos da temporada, já em cima do minuto 45, tanto Ewandro (rematou mesmo ao poste) como Pedro Rodrigues haviam ficado perto do golo. O Estoril continuou a encontrar espaços no bloco defensivo adversário e criou perigo de forma recorrente e, ao intervalo, a vantagem Estorilista era justa do Estoril capitalizando em golos as oportunidades criadas, potenciadas por um bloco defensivo pouco coeso do Tondela, especialmente, nos terrenos frontais à baliza de Cláudio Ramos.

Na segunda parte, foi como continuar a ver o Brasil jogar. Um Estoril personalizado, mandão, a controlar os tempos de jogo e o Tondela sem encontrar forma para o refutar. Somente de bola parada quase o fez e já bem dentro dos dez minutos finais - e numa altura em que Allano até já tinha colocado no marcador aquele que seria o resultado final. Tal como José Sá reconheceu, foi uma exibição para esquecer da equipa do Tondela. Mas, que fazer, quando o Estoril se travestiu de Brasil e Lucas Evangelista se elevou ao patamar de um dos melhores do nosso campeonato? Foi como ver Willian pela Amoreira. Hoje, foi como ver o Brasil jogar.