Portugal
Helton foi a cor de um clássico que não foi preto no branco
2018-11-03 22:55:00
O Vitória SC ficou mais perto do golo mas a identidade e personalidade do Boavista acabou por ser premiada com um ponto.

O futebol é um jogo simples. Parece cliché, mas não há volta a dar: se Boavista e Vitória SC terminou empatado a zero, tal deveu-se somente à falta de golos. Simplista? Certo, mas, isto, para dizermos que um dos clássicos do futebol português como o é um confronto entre Boavista e Vitória apenas terminou empatado a zero por manifesta infelicidade. Num jogo que teve um pouco de tudo, faltou apenas uma definição mais assertiva para que qualquer uma das fações do público presente no Bessa festejasse um golo. Ficou mais perto o Vitória, ainda assim. Valeu Helton, muitas vezes, a verdadeira cor de um duelo muito preto no branco.

Helton Leite pode não ter sido propriamente um herói, mas foi seguramente decisivo. O guarda redes do Boavista terminou o encontro com quatro defesas feitas e pelo menos uma bola de golo tirada dos pés de Alexandre Guedes como bandido que rouba um doce a uma criança. Aconteceu logo ao quinto minuto da segunda parte, depois de uma primeira que saiu empatada a zero para intervalo, mas onde ambas as equipas revelaram as ideias e as dinâmicas que as caracterizam. O Vitória foi mais associativo, enquanto o Boavista foi mais objetivo e vertical, tentando surpreender nos esquemas táticos. A primeira metade do Boavista-Vitória foi faltosa, mas nunca violenta, toada que foi trazida também para a segunda parte do encontro.

No Bessa, Boavista e Vitória foram iguais a si próprios e esse é o melhor elogio possível para um jogo que terminou a zero e se Jorge Simão e Luís Castro anteviram um encontro intenso e agressivo, não se enganaram. Tiago Martins teve uma noite ocupada, mas facilitada pela lealdade demonstrada pelos jogadores. No final, Jorge Simão aludiu a um resultado que se ajustava melhor caso tivessem existido golos, enquanto Luís Castro reclamou para si a justiça de uma vitória. Ambos, com razão. A haver um vencedor teria de ser a turma vimaranense, mas num jogo com vários lances perigosos junto da baliza adversária, um zero a zero acaba por ser demasiado monocromático para um jogo onde se viu personalidade e um claro contraste de estilos.

Se tal aconteceu, porém, em muito se deveu a Helton Leite e ao desacerto na finalização dos avançados do Vitória, em particular de Guedes, que pelo menos num par de ocasiões, em posição vantajosa, não definiu da melhor maneira. Aconteceu ao avançado vimaranense aos 17 e aos 75 minutos, lances que acabam por explicar como é que uma equipa com mais de 60% de posse de bola total e 20 tentativas de almejar a baliza adversária acabou por obrigar o guarda redes rival a “apenas” quatro intervenções. Mas não foi só na defesa a remates que Helton Leite se assumiu como presença decisiva. Aos 50 minutos, por exemplo, é a sua leitura de jogo e antecipação a um cruzamento que permitiram que Guedes não tivesse sequer oportunidade de rematar à baliza.

Tal como em vários outros encontros da presente temporada, Helton acabou por ter um papel decisivo no desfecho de um encontro do Boavista. Mas, este, não foi um jogo unilateral apesar do domínio territorial da equipa do Vitória, próprio do seu estilo e plano de jogo. Se ao longo do encontro o Boavista criou pontualmente os seus lances de perigo, foi durante o miolo da segunda parte que o Boavista teve o seu melhor momento do encontro. Aos 67minutos Carraça testou a atenção de Douglas e poucos segundos depois Rochinha obrigou o guardião do Vitória a defesa em voo. Lances que dão ligeira razão à opinião de Jorge Simão no final do encontro.

O Boavista acabou por não aproveitar e o Vitória SC quase matou o jogo na reta final do mesmo, com Guedes - principalmente Guedes aos 75 minutos - e Hélder Ferreira a desperdiçaram oportunidades de golo soberanas sem conseguir sequer acertar na baliza de Helton. E quando não foi o desacerto na finalização, ora surgiu Helton a negar Welthon, ou Talocha em cima da linha de golo a evitar um golo de André André. Mas, este, como já vimos, foi um jogo onde as equipas foram iguais a si próprias e foi já em período de compensação final que o Boavista dispôs da sua melhor oportunidade de golo em todo o jogo quando mais um lance de bola parada termina cabeceado no meio da confusão para defesa junto ao relvado de Douglas.

Boavista e Vitória acabaram por empatar a zero e em muito isso se deveu a um Helton inspirado. A haver um vencedor, esse só poderia ser o Vitória, naquele que seria ainda assim um resultado injusto para a identidade e personalidade do Boavista: se esse desacerto existiu, em muito foi potenciado pelo desconforto criado pela equipa de Jorge Simão ao bom estilo de um Burnley à portuguesa. Oferecer o domínio e conceder semi oportunidades de golo nem sempre significa perder o controlo do jogo. O Goalpoint dá-nos uma ajudinha aqui: 0.3 vs 1.5 no indicador xG ou golos esperados a favor do Vitória é sintomático do maior domínio do conjunto de Luís Castro. Mas outra coisa também é verdade: para o portal de avaliação estatística, Douglas acabou por ser a figura do Vitória. Afinal... talvez não tenha sido um clássico assim tão preto no branco, não é verdade?