Portugal
Há 20 anos que a defesa do Sporting não começava tão bem
2017-08-16 12:15:00
Octávio Machado e Marco Almeida, intervenientes na época 1997/98, falaram com o Bancada

No empate frente ao Steaua Bucareste, o Sporting completou mais um jogo sem sofrer qualquer golo. Foi o terceiro (em três) em que isso aconteceu em 2017/18, e um arranque tão bom a nível defensivo já não acontecia há exatamente 20 anos. Nesse ano, com Octávio Machado ao leme dos leões, ninguém marcou faturou contra o Sporting nos quatro primeiro jogos do clube de Alvalade, mas, apesar do bom começo, a temporada terminou com um quarto lugar no campeonato. "A equipa ficou aquém de onde podia ter chegado", admitiu Machado ao Bancada.

O dirigente, que recentemente deixou o clube em litígio com Bruno de Carvalho, foi mais longe, diagnosticando ao Sporting um problema 'crónico'. "O problema do Sporting, na minha opinião, tem sido sempre o mesmo; começa sempre bem e acaba por, nos momentos próprios, por não ter a capacidade de ultrapassar pequenos obstáculos que são transformados em grandes montanhas, às vezes intransponíveis", disse o ex-diretor para o futebol leonino.

Marco Almeida, defesa formado nos leões e membro do plantel em 1997/98, também falou com o Bancada sobre esse ano. "Éramos uma equipa muito coesa", revelou.

Um início prometedor, mas não mais que isso

Tudo começou da melhor forma. Apesar do empate frente ao Farense, na primeira jornada da Liga, o Sporting conseguiu a qualificação para a fase de grupos da Liga dos Campeões ao bater, em duas mãos, o Beitar Jerusalém, tendo ainda vencido o GD Chaves na estreia em Alvalade para a Liga. Nessas quatro partidas, duas vitórias, dois empates, cinco golos marcados e zero sofridos. 

"Alguns eram jovens, como o caso do Beto, outros mais experientes e líderes, que eram capazes de impor – e impunham! – a sua voz no balneário e dentro de campo. Eram autênticos ‘continuadores’ do treinador dentro do campo. Estou a falar do Marco Aurélio, do Oceano, do Pedro Barbosa, por exemplo. Era uma defesa que dava garantias de um bom trabalho defensivo. Era gente extraordinária, com uma grande entrega ao trabalho e que estava disponível para absorver aquilo que lhes era transmitido. Foram jogadores que marcaram uma época no Sporting. A equipa ficou aquém de onde podia ter chegado", começou por referir Octávio Machado, técnico dos leões nessa temporada.

Quem foi orientado pelo antigo jogador de Vitória de Setúbal e FC Porto no Sporting não poupou os elogios a Octávio Machado, um treinador que considera trabalhar "todos os aspetos do treino" de forma exignte. "O mister Octávio era um treinador exigente, não só a nível defensivo mas em todos os aspetos do treino. E quando começas a defender à frente as coisas tornam-se muito mais fáceis cá atrás. Treinava-se muito a vertente coletiva", disse Marco Almeida. O antigo defesa, que em 2017/18 integra a equipa técnica do SL Cartaxo, "Começávamos a defender com os homens da frente e, quando assim é, as coisas tornam-se mais fáceis. Na altura, tínhamos um Oceano e um Vidigal no meio-campo, jogadores de combate, e era muito mais fácil, entre aspas, não sofrer golos".

Mas tudo começou a cair pouco depois. Alguns resultados menos positivos fizeram com que Octávio saísse depois de um empate com o Varzim SC, tendo sido substituído por Francisco Vital, até então treinador-adjunto. Chegou depois Vicente Cantatore, mas o experiente argentino não durou mais que duas semanas. Quem terminou a época no banco foi Carlos Manuel, ex-jogador leonino, mas a equipa não conseguiu mais que o quarto lugar, atrás do Vitória de Guimarães.

Essa troca constante de treinadores foi tudo menos benéfica para a equipa, alimentando a instabilidade dentro do clube verde e branco. "O Sporting atravessou tempos muito complicados e há coisas que passam e não se dá conta. O Sporting passou por um período muito controverso, nesse ano teve quatro ou cinco treinadores, o que não é fácil. Um deles, o Cantatore, teve 15 dias em Alvalade. Não é fácil assimilar as ideias novas de um novo treinador e passado pouco tempo vir outro. Não havia estabilidade", contou Marco Almeida, hoje com 40 anos.

Octávio Machado concordou com o antigo defesa e até sentenciou o Sporting a um contratempo... cíclico. 

"Infelizmente, as coisas no Sporting acontecem ciclicamente, e esse período não fugiu à regra. Ciclicamente, quando as coisas andam bem, há algo que precipita os acontecimentos e que impede o natural desenvolvimento das coisas. Porque a ordem natural das coisas é que o que começou bem, acabe melhor. Fico às vezes com a sensação que há quem não goste disso", começou por dizer Octávio Machado, continuando. "Há quem não compreenda e não tenha a vivência do que é uma equipa, trabalhar em conjunto, do que é o futebol e um balneário e, então, alimentam situações que nada mais trazem do que fragilização", referiu, não querendo identificar ninguém.

Futuro risonho? É esperar para ver

Ainda que a saída do Sporting tenha sido conturbada e com acusações de parte a parte, Octávio Machado espera que os novos jogadores de Jorge Jesus tenham sucesso e que a equipa encontre a eficácia no ataque.

"Espero e desejo que sim. São jogadores experientes, alguns muito experientes. O coletivo, defensivamente, está a ter uma dinâmica extraordinária. Agora, é preciso que o natural desenvolvimento desta equipa a leve à eficácia ofensiva que é desejável. Espero e desejo que sim e tenho confiança que vai acontecer", ambicionou Octávio Machado.

Marco Almeida partilha do mesmo desejo e admitiu que tudo o que aconteceu ao clube nos anos mais recentes aumentou de forma exponencial a expetativa dos adeptos sportinguistas. O título de campeão nacional é, por isso, obrigatório para Jesus.

"Queremos sempre que o futuro seja bom, e as as pessoas que estão envolvidas neste projeto do Sporting quererão isso mais que ninguém. O Sporting, neste momento, não tem tempo, precisa de ganhar e ser campeão por todas as expetativas que se criaram no clube à volta nos últimos dois/três anos. Só espero que o futuro seja risonho."

Sobre os reforços leoninos, Marco Almeida não se quis comprometer, ainda que, para o ex-leão, quem chega ao clube tem, em teoria, valia para levar o Sporting à glória.

"Parto do princípio que todos os jogadores que chegam ao Sporting têm de ter qualidade, mas só o tempo o dirá. Se calhar vão ter que passar por um período de adaptação e as coisas não são fáceis. Mas o certo é que este começo, no campeonato e neste jogo de ontem - que não foi nada bom para as aspirações do Sporting. Agora temos que ir à Roménia ganhar e estou convencido que o iremos fazer -, tem sido um início que pode fazer os sócios do Sporting sonharem com o título", concluiu.