Portugal
"Golden Boy" revela tendência dos clubes portugueses para formar e vender cedo
2017-09-21 21:20:00
Nos últimos dez anos, FC Porto destacou-se pela prospeção, Sporting pela formação e Benfica por ambas as vertentes

Rúben Neves é o único jogador com ligação ao futebol português nomeado para o prémio “Golden Boy” 2017, que distingue o melhor jogador sub-21 a atuar na Europa. Ele que já deixou a nossa Liga, tal como já tinha acontecido com Renato Sanches quando venceu no ano passado. Estes casos representam a tendência recente de FC Porto e Benfica para formar e vender cedo, tal como fez o Sporting nos casos de Dier, Bruma e Ilori. Há uns anos, Benfica e FC Porto destacavam-se sobretudo pela prospeção de talentos estrangeiros, algo que o Sporting nunca foi capaz de fazer.

Sporting, mais formação; FC Porto, mais prospeção

Olhando os nomeados das últimas dez edições do prémio “Golden Boy”, salta à vista o facto de o Sporting nunca ter tido um jogador seu nomeado. Já formou três que vieram a estar na lista (Dier, Bruma e Ilori), mas vendeu-os ainda antes da nomeação chegar.

O FC Porto, pelo contrário, já viu vários dos seus jovens talentos serem nomeados para o prémio do “Tuttosport”, devido, sobretudo, à sua boa prospeção. Dos sete jogadores que já viu serem nomeados só um, Rúben Neves, foi formado no clube. Os restantes seis nomeados – James Rodríguez (2010 e 2011), Mangala, Quintero, Atsu, Iturbe e Óliver (então por empréstimo) – foram recrutados muito jovens no estrangeiro e conseguiram ser reconhecidos no FC Porto. Sinal do bom trabalho de prospeção do clube, que também é evidente no caso de Anderson, que foi nomeado para o “Golden Boy” quando já representava o Manchester United.

Assim, e olhando apenas os jogadores distinguidos pelo “Tuttosport” nos últimos dez anos, o Sporting formou jogadores prometedores de quem quase não tirou rendimento desportivo, ao contrário do FC Porto, que praticamente não formou jogadores que tenham sido reconhecidos pelo prémio, mas soube tirar rendimento desportivo de jogadores formados noutros clubes.

Benfica, prospeção e formação

O Benfica, nos últimos anos, tem visto serem reconhecidos jogadores da sua formação e também dos que recruta no estrangeiro. No total, já teve nove jogadores entre os nomeados para o prémio “Golden Boy” nos últimos dez anos: Di María, Sidnei (2008 e 2009), Salvio (então por empréstimo), Rodrigo, Nélson Oliveira, Ola John, Markovic, Gonçalo Guedes (2015 e 2016) e Danilo Barbosa (então por empréstimo do SC Braga). Houve ainda os casos de Renato Sanches e Derlis González, que só foram nomeados depois de passarem pelo clube.

Assim, o Benfica já formou três jogadores (Nélson Oliveira, Guedes e Renato) nomeados para prémio do “Tuttosport” e recrutou outros oito que também mereceram este destaque.

Tendência de mudança

Nos últimos três anos, só houve um jogador com ligação ao FC Porto a ser nomeado para o “Golden Boy”. Foi Rúben Neves, em 2015, 2016 e 2017 (já no Wolverhampton WFC, este ano). Isto contraria o que foram os anos anteriores em que as jovens promessas do plantel do FC Porto vinham do estrangeiro e não da formação. Além disso, o FC Porto acabou por não retirar grande rendimento desportivo de Rúben que ,apesar de ter feito duas épocas no plantel principal, deixou o clube aos 20 anos, sem ter feito nenhuma época como titular indiscutível.

Também no Benfica, nos últimos três anos, se verificou semelhante mudança. Os nomeados do clube passaram a vir mais da formação (Gonçalo Guedes e Renato Sanches) e menos da prospeção, onde o único a ser nomeado foi Danilo Barbosa, que só esteve seis meses no clube e por empréstimo do SC Braga. Tanto Renato como Guedes também foram vendidos ainda muito jovens. Renato não fez sequer uma época completa na equipa principal e foi vendido com 18 anos. Gonçalo Guedes foi vendido com 20 anos, a meio da primeira época em que estava a ser primeira opção para o treinador.

Curiosamente, este perfil mais formador, mas vendedor dos jogadores ainda muitos jovens é, curiosamente, um perfil mais próximo da tradição do Sporting que, nos últimos anos, parece estar a fazer um esforço para manter durante mais tempo as suas promessas.