A 'insistência' da indústria do futebol em concluir as provas da atual época com jogos à porta fechada é "um mal menor" para "tentar recuperar 85 por cento das receitas", no entender de Daniel Sá, especialista em marketing desportivo.
Em Portugal, como acontece um pouco por todo o mundo, os clubes e outras entidades do futebol estudam cenários e projeções que contemplam a realização dos jogos que faltam à porta fechada.
A própria UEFA, hoje, emitiu uma "recomendação forte" para que as ligas possam acabar a época.
Esta 'vontade comum' de terminar a temporada sem adeptos nos estádios deve-se ao brutal impacto da pandemia de covid-19, levando os clubes a 'esquecer' a bilheteira para tentar recuperar... 85 por cento da receita total.
As contas foram explicadas por Daniel Sá, diretor executivo do Instituto Português de Administração de Marketing (IPAM), em declarações à 'Rádio Observador'.
"O futebol europeu de topo tem três grandes tipos de receitas. A bilheteira gera em média 15 por cento do negócio, os direitos comerciais 25 por cento e os direitos de transmissão televisiva, que variam de país para país, dão em média 60 por cento da receita", descreveu.
Com a conclusão das ligas à porta fechada, os clubes "abdicam da fatia mais pequena do negócio" para "conseguirem ‘deitar a mão’ aos direitos comerciais e de transmissão televisiva".
"É o mal menor", resumiu o especialista em marketing desportivo, mas conseguido à custa de se "perder a alma", pois o "futebol com estádios vazios" não é bom "nem para espectadores, nem para os jogadores, nem para os telespectadores".
Estas contas justificam a aposta nos cenários de conclusão das provas com jogos à porta fechada, o que também permitirá às marcas que apostam no futebol "recuperar uma parte" do investimento.
"Dando um exemplo muito simples, um jogo do Benfica em casa tem em média 50 mil espectadores no estádio e dois a três milhões pela televisão. A grande fatia do consumo de futebol é feito pela televisão e as marcas, criativas como são, aproveitarão este cenário", frisou Daniel Sá, convicto de que assistências televisivas vão ser "maiores do que o normal".
Por estudar estão ainda a questão dos contratos de jogadores que expiram a 30 de junho e o próximo mercado de transferências.
"Os clubes já perceberam que têm que redesenhar o fio do orçamento para o próximo ano em função de uma natural perda de receitas", concluiu o diretor do IPAM.