Portugal
Futebol em vários actos sob a batuta do maestro Rashid e do agitador Fernando
2018-09-01 21:45:00
O Santa Clara voltou a mostrar fulgor ofensivo a jogar em casa vencendo o Boavista por 4-2 com Osama Rashid em destaque.

Em São Miguel houve um pouco de tudo. Houve sol. Houve chuva. Houve vento. Houve futebol. Houve luta. Houve pouco futebol e ao mesmo tempo não faltaram grandes golos. Em São Miguel houve um jogo cheio. Futebol que se mutou e transformou, como se de uma peça de teatro ou ópera de vários actos se tratasse. Como se Vivaldi lhe tivesse escrito o guião. Quatro estações futebolísticas sob a batuta dos maestros Fernando e Osama Rashid. Foi mais feliz o Santa Clara, no final, que apesar de ter tido menos bola perante o Boavista, obrigou o conjunto de Jorge Simão a trocá-la maioritariamente no seu campo defensivo.

Desde cedo se percebeu que o vento, em São Miguel, iria ter uma influência quase determinante. Curiosamente, acabou por ser contra este que o Santa Clara decidiu o jogo a seu favor depois de uma primeira parte em que foi devido a ele que criou mais perigo. Se o Santa Clara encostou o Boavista à sua baliza numa fase embrionária do encontro e obrigou Helton a várias defesas apertadas acumulando cantos pelo meio, muito isso se deveu ao vento que jogava a favor dos açorianos. O Boavista tentou assumir o controlo do jogo desde o início, mas foi o Santa Clara que foi tendo mais baliza desde cedo, com a tendência do encontro a desenhar-se também cedo com quinze minutos com muita bola no meio campo do Boavista, mesmo que os axadrezados até a tivessem tido mais tempo em seu poder.

Isto não se alterou ao longo do encontro. O Boavista terminou mesmo o jogo com mais bola e mais remates, mas foi o Santa Clara que mostrou maior objetividade e competência ofensiva. Definindo melhor os momentos, sabendo melhor quando e onde rematar. Os remates desesperados de Carraça ao longo do encontro são disso exemplo, mesmo que perigosos. Uma objetividade que permitiu a Santana colocar o Santa Clara na frente aos 19 minutos desviando ao primeiro poste um cruzamento vindo da direita de Fernando Andrade, o principal desequilibrador do encontro, mesmo que a Rashid talvez caia melhor o título de homem do jogo. Foi já depois do 1-0 açoriano que o vento voltou a fazer das suas com dois lances de bola parada batidos por Bruno Lamas (aos 23 minutos) a ganharem outra dimensão e a obrigar Helton a defesas apertadas que impossibilitaram uma resposta imediata do Boavista ao golo do Santa Clara.

A resposta tardou e chegou já em cima do intervalo. Sem conseguir construir de forma organizada, foi de bola parada que o Boavista chegou ao golo com um livre lateral de Fábio Espinho a encontrar Falcone ao primeiro poste para desvio subtil para o fundo da baliza de Marco. Uma segunda contrariedade para os açorianos que haviam visto Thiago Santana, à meia hora, ser substituído por Alfredo Stephens com o Santa Clara a perder uma referência na frente que até beneficiou a equipa de João Henriques que se tornou mais móvel e mais rápida para situações de transição que acabaram por ser cruciais. Foi assim que o Santa Clara chegou ao segundo golo, aos 50 minutos, com uma jogada rápida de transição e de envolvimento coletivo a ser definida por Fernando Andrade após abertura brilhante de Bruno Lamas no corredor esquerdo que rasgou por completo a defesa do Boavista.

A segunda parte começou como começara a primeira, mas tal como no primeiro tempo perdeu futebol e tornou-se uma batalha à medida que os minutos avançaram. Tanto que por volta da meia hora António Nobre teve de recorrer ao VAR para confirmar que Fábio Espinho não merecia mesmo o cartão vermelho devido a disputa de bola com Patrick. Tal como o tempo, houve de tudo na primeira parte. Também futebolisticamente começou soalheiro e acabou cinzento com muito confronto físico, virilidade e quebras de ritmo constantes à medida que o jogo avançou, com o Boavista a construir pontualmente situações de perigo (como Falcone aos 30 minutos ou Carraça aos 41 minutos), mas sem conseguir verdadeira continuidade ofensiva.

Ao contrário do que sucedera no primeiro golo, o Boavista até soube responder de imediato ao golo açoriano, contudo, pouco demorou até novo golpe no xadrez de Jorge Simão. Rochinha que tinha acabado de ver um cruzamento seu passar perto do poste da baliza de Marco, acabou por ver, sim, Rashid, de livre direto, fazer um golo com régua e esquadro. O Santa Clara carregou e por pouco, três minutos mais tarde, não aumentou a vantagem por Fernando com Helton a ser decisivo uma vez mais. A resposta, pelo menos desta vez, para o Boavista, não tardou. Talocha, aos 65 minutos, a aproveitar uma bola solta à entrada da área atirou de raiva e recolocou o Boavista no jogo. Um início de Segunda parte eletrizante em São Miguel, com ambas as equipas a chegar com facilidade à área adversária e, por consequência, a demonstrar alguma falta de organização defensiva.

Houve momentos de bom futebol e três golaços, mas que mais uma vez, à medida que o jogo avançou, perdeu continuidade. As equipas voltaram a encaixar, o futebol deu lugar à luta e as paragens constantes quer técnicas, quer médicas, não ajudaram. Tanto, que no final do encontro António Nobre concedeu mesmo oito minutos de compensação (e já na primeira parte tinha dado cinco, demonstrativo da virilidade que a certa altura tomou o encontro) que acabaram por ser decisivos para o xeque mate do Santa Clara.

Já depois de Carraça ter atirado ao poste e de Rafael Lopes ter ficado perto de acertar na baliza após novo lance de bola parada axadrezada, foi já ao oitavo minuto de compensação que Osama Rashid, concluindo um contra ataque de três para três, selou o resultado final e terminou com a resistência da equipa de Jorge Simão. Quinze anos depois, o Santa Clara voltou a vencer em casa para a Liga Portuguesa. Dois jogos, sete golos caseiros? Atenção a quem vier a seguir.

Veja os golos no Match Centre Bancada.