Portugal
Facundo Ferreyra: um rapaz inocente, que se achava guardado para as Taças
2018-06-05 18:25:00
Um jogador que, um dia, esteve na ribalta... por maus motivos.

Facundo Ferreyra já está em Lisboa e será, nas próximas horas, anunciado como reforço do Benfica. Um “reforço-bomba”, dizem uns, um reforço que sairá demasiado caro, dizem outros. O certo é que Ferreyra é um reforço de peso para o ataque, depois de uma temporada bem recheada no Shakhtar. Falámos com quem conhece este rapaz e… com dois jogadores que tiveram de o "aturar", em campo Ficámos a saber que, um dia, Ferreyra achou que estava a ser guardado para a Taça. A ler mais à frente.

Federico Sardella é um ex-colega de Facundo Ferreyra, no Banfield, e, ao Bancada, apresenta o amigo Facundo.

“É uma ótima pessoa. Humilde, trabalhador e inocente. Não tem e não vê maldade”.

Facundo Ferreyra. Apenas dois nomes. Não precisa de mais, mas até tem mais um: Chucky. Ganhou esta alcunha – tal como tantos outros jogadores latinos – por causa do famoso boneco animado especialista em diabruras e sustos. Este é o avançado de 27 anos que vai reforçar o Benfica. Nascido em Lomas de Zamora, muito perto de Buenos Aires, começou a jogar futebol no Banfield, clube que ficava a um quarteirão da sua casa.

Ainda assim, desengane-se quem pensa que foi por lá que mais impressionou. No Vélez, em 2012/13, o último ano na Argentina, fez 17 golos em 26 jogos e foi caçado pelo Shakhtar Donetsk. Mas calma, o Banfield foi essencial. Foi pelo que fez no seu clube de formação que chegou às seleções jovens da Argentina. Foi lá que se cruzou com gente como Lamela, Battaglia, Funes Mori, Iturbe ou Alan Ruiz, indo a um Mundial sub-20. Aliás, defrontou uma equipa de Portugal que tinha nomes como Cédric, Pelé, Sérgio Oliveira, Nélson Oliveira ou Mário Rui. Os portugueses perderiam na final, com o Brasil.

Mas deixemo-nos de dados chatos. Falámos com Artur Jorge, ex-central do SC Braga, atualmente no Steaua Bucareste, que enfrentou Facundo Ferreyra na Liga Europa e com Leônidas Damasceno, que o enfrentou na Liga Ucraniana. Começámos por perguntar ao português se se lembrava de ter levado com Ferreyra. Mas sabíamos nós no que nos estávamos a meter…

“Claro que me recordo, foi a minha estreia nas competições europeias. Fui eleito o melhor jogador em campo por parte do SC Braga e troquei de camisola com ele no fim. Portanto, está tudo interligado”, diz, ao Bancada, entre risos.

Caro Artur, se foste o melhor em campo é porque foste um homem capaz de aturar o Ferreyra. Diz-nos lá, então, o que vale este argentino: “Lembro-me de que, naquele perfil de equipa do mister Paulo Fonseca, ele encaixava-se muito bem pelas movimentações constantes que o mister Paulo tanto gosta e o Facundo fazia tão muito bem. É um avançado móvel, que segura bem a bola e que mostrou, neste ano, ser um grande finalizado, com os números que alcançou”. 

Leônidas Damasceno destaca que Ferreyra "é um avançado que disputa todas as bolas", acrescentando: "Tem um jogo aéreo muito forte". Já Federico Sardellla destaca Ferreyra como “o típico 9 marcador de golos. Sempre bem colocado, sempre bom no remate e bom a sacrificar-se pela equipa".

Pegamos na dica de Artur Jorge. Os números de Facundo Ferreyra, na última temporada, são de topo. Foram 30 golos em 42 jogos, já depois de uma temporada com 16 golos em 28 jogos (esta depois de uma passagem pouco feliz pelo Newcastle, por empréstimo). Nada de se deitar fora, bem pelo contrário. Numa nota meramente opinativa, dizemos que este jogador, com estes números, não deve sair barato ao Benfica em salários e prémios, dado que, pela transferência, será zero. O jogador terminou contrato com o Shakhtar.

O "Batistuta" que, um dia, falhou até dizer chega

Voltamos um pouco atrás na história e vamos fugir dos números. Facundo Ferreyra é um rapaz que, mais novo, gostava de imitar… Batistuta. Foi o próprio quem o confirmou, à imprensa argentina.

“Encantava-me como jogava Batistuta e tento imitá-lo. Mas nem por sombras me vejo refletido nele. Apenas vejo os vídeos dele”.

Mas nem só de rosas se faz a vida. Depois de bastantes elogios a Ferreyra, é justo que mostremos um dos piores dias da carreira do argentino, que chegaram a ser virais na Argentina. Em 2012, frente ao Boca Juniors, Ferreyra teve nos pés duas grandes oportunidades de golo. Uma delas foi mesmo daquelas “de encostar com a barriguinha de cerveja”. Ferreyra não fez nenhuma delas.

Falhanços à parte, o facto é que Ferreyra tem mostrado ser um goleador tremendo. Em Portugal, tivemos jogadores com características semelhantes, que fizeram a diferença: Jackson Martínez, Falcao, Slimani e até Lima foram este tipo de avançado: fortes fisicamente (mesmo Lima, ainda que não fosse alto), bons a segurar em apoio frontal e, sobretudo, fortes na finalização.

É um tipo de avançado que pode destacar-se? Artur Jorge, pelo que conhece de Ferreyra, crê que sim. “Acredito seriamente que pode fazer a diferença. Claro que, depois, tens sempre as questões de adaptação à realidade de Benfica, de país novo, campeonato novo, etc. Mas acredito que tem todas as condições e capacidade para singrar no Benfica”.

Por falar em reforçar o Benfica, o histórico de contratação de avançados argentinos, na Luz, não é propriamente curto. O registo de sucesso é que não é dos melhores...

Vejamos:
- Saviola: 39 golos em 122 jogos
- Jara: onze golos em 47 jogos
- Funes Mori: zero golos em cinco jogos
- Bergessio: zero golos em nove jogos
- Airez: três golos em 36 jogos
- Cannigia: 16 golos em 34 jogos

Suplente? Estão a ser poupados para a Taça…

Pedimos a Federico Sardella uma história engraçada vivida com Ferreyra. O argentino contou-nos um episódio de quando eram, ambos, jovens postos de lado no Banfield.

“Quando éramos mais novos, costumávamos ficar de fora dos jogos da primeira divisão e a verdade é que era uma situação frustrante, ainda que, com o passar do tempo, soubéssemos que a nossa oportunidade chegaria. Mas houve uma altura em que nós os dois fazíamos piadas sobre o não estarmos a jogar: dizíamos às pessoas que o treinador estava a guardar-nos para a taça”, diz, entre risos, antes de acrescentar: “Era mentira… não jogávamos porque o treinador não nos tinha em conta”.