Portugal
Fabrício, o "cabeçudo" que tem tudo para jogar num grande
2018-02-06 19:20:00
Muito forte a nível físico e técnico, o jogador do Portimonense tem estado em clara evidência nos últimos encontros

Em Portimão, há um brasileiro que foi do meio-campo para o ataque e marcou seis golos nos últimos três jogos da Liga. Diz quem sabe que "tem capacidades mais do que suficientes para jogar nos três grandes". "É natural, com a época que está a fazer, que tenha possibilidade de dar o salto para outras equipas outras ligas com mais potencial", garantiu ao Bancada Lázaro Oliveira, antigo treinador do atleta no Portimonense. 

Falamos de Fabrício dos Santos Messias, jogador de 27 anos que se tem apresentado em grande nível nos jogos mais recentes. Marcou o único golo do Portimonense na derrota com o SC Braga, fez um hat-trick contra o Rio Ave, uma das equipas revelação desta edição do campeonato, e marcou mais dois golos na visita ao terreno do sempre complicado Marítimo. Contudo, Lázaro Oliveira contou-nos que, ao início, a expetativa não era a mais elevada. "O Fabrício tinha passado antes pelo Portimonense e não se tinha afirmado como titular. Eu não o conhecia mas o que me diziam é que ele treinava muito bem mas chegava aos jogos e o rendimento não era o melhor. Depois de ter sido emprestado a um clube chinês e de ter ultrapassado os problemas físicos que teve, foi fundamental na equipa."

Fabrício foi contratado pelos algarvios em 2011. Fez meia época com altos e baixos e rumou à China, onde vestiu a camisola do Hangzhou Greentown durante todo o ano civil de 2012 por empréstimo. No regresso, tudo mudou. Jogou quase sempre os 90 minutos até ao final da temporada 2012/13 e assumiu-se como uma das mais importantes peças da equipa. "Estamos a falar de um Fabrício que jogava numa posição mais recuada que joga agora. Era um 8, um 10, um médio criativo com uma capacidade de transporte de bola tremenda, com um remate fortíssimo, uma velocidade estonteante e um exímio executante de livres. Noto, por mérito do Vítor Oliveira, que o Fabrício passou para uma posição mais adiantada no terreno e, não sendo um jogador fixo, de área, tem revelado uma capacidade finalizadora fantástica. Tem feito excelentes exibições", frisou Lázaro Oliveira.

Perguntámos a vários antigos colegas de Fabrício a mesma questão: "quando viu o jogador pela primeira vez, qual foi a primeira coisa que lhe passou pela cabeça?". As respostas foram incrivelmente semelhantes. "É um jogador acima da média", disse Márcio Ramos, enquanto André Salvador referiu que viu "um jogador com uma qualidade acima da média, que dá muita intensidade ao jogo e com grande qualidade técnica". Bruno González explicou que a impressão com que ficou foi "esta que toda a gente está a ter agora. O Fabrício tinha um nível muito acima daquele que se jogava na Segunda Liga", ao passo que Chico Gomes não teve dúvidas que "com o decorrer das semanas e dos treinos, saltou à vista a sua qualidade".

A força física que o "cabeçudo" sempre teve

"O Fabrício, em termos físicos, sempre foi um jogador muito forte. Tem uma capacidade de aceleração muito grande. É um jogador de remate fácil, que aparece bem nas zonas de finalização e, em frente à baliza, é um jogador muito frio", disse o técnico. A opinião é corroborada por todos os que falaram com o Bancada.

Márcio Ramos, antigo guarda-redes do Portimonense que agora se dedica ao restaurante do qual é proprietário em Portimão, é um deles. "Sempre foi forte fisicamente. Era muito difícil aos outros jogadores tirarem-lhe a bola, tanto nos treinos como jogos. Tem uma vertente física de fazer inveja. Fora do relvado, tem o cuidado de trabalhar a parte física. Aliado à qualidade técnica, torna-se um jogador muito difícil de roubar a bola", considerou.

Para Bruno González, hoje jogador do Esperança de Lagos, "ele chegou como médio, nunca como avançado. Mas, mesmo como médio, fazia golos. Remata muito bem, finaliza com muita facilidade e, para mim, não é surpresa os golos que ele tem feito. O que mais me impressionou quando ele chegou a Portimão foi a capacidade de arranque dele, com e sem bola. A juntar à qualidade técnica que ele tem... Nem sempre se veem tantas qualidades num jogador." González contou ainda uma história, no mínimo, curiosa... "Uma vez, no Portimonense, medimos as cabeças dos jogadores. Não me lembro quem ganhou o prémio da maior cabeça do balneário, mas sei que ou foi o Fabrício ou foi o [Luís] Zambujo. A partir daí, foi sempre a rir com o cabeçudo. Uma palhaçada", brincou.

Chico Gomes, atualmente a jogar na República Checa (Zbrojovka Brno), foi mais longe e assegurou que não consegue encontrar "uma característica onde ele seja mais débil ou fraco. É um jogador muito equilibrado a nível técnico, físico e tático".

Capacidade para outros voos

O momento que Fabrício atravessa é assinalável, mas será duradouro? Quem o conhece diz que sim, com toda a certeza. "Acredito, também devido ao excelente momento que a equipa atravessa, que esta forma irá perdurar. O Fabrício, pela época que está a fazer, é um jogador que, se calhar, precisa de outros palcos. As pessoas precisam de estar mais atentas a este jogador. Em Portugal, há poucos jogadores como o Fabrício. É estranho que os três grandes não estejam atentos ao Fabrício", admitiu Lázaro Oliveira.

Para além do treinador, todos os antigos colegas contactados pelo Bancada consideram que Fabrício vai continuar a marcar golos e, mais tarde ou mais cedo, vai acabar por ser transferido para um emblema de maior dimensão. Márcio Ramos referiu ainda

"Pelo que conheço do Fabrício, a forma tem tudo para continuar. Quando tem capacidade, qualidade e está moralizado, tem tudo para correr bem. Está bastante confiante e isso nota-se. Não tenho dúvidas que é uma questão de tempo e de oportunidade até que ele integre o plantel de Benfica, FC Porto ou Sporting. Tem qualidade suficiente para isso"

Já André Salvador, jogador do Vilaverdense, disse que, "com a ajuda da equipa da Portimonense, que é de grande qualidade, ele vai ter possibilidades de continuar assim". "Tem qualidade para outros voos, mas só o tempo o dirá. No futebol, a qualidade, por vezes, não chega. Também é preciso sorte", acrescentou. Chico Gomes estranha "que os grandes a nível nacional e europeu ainda não tenham visto a qualidade que está ali".

Por fim, Bruno González assegurou que Fabrício vai continuar a faturar e a colocar bolas nas balizas dos adversários desde que a restante formação de Vítor Oliveira também se mantenha num bom nível. Se assim for, o avançado vai demonstrar mais vezes que tem qualidade para utilizar o símbolo de um grande ao peito.

"Se a equipa continuar bem, o Fabrício vai dar sempre uma boa resposta. Não estou a dizer que vai fazer sempre três golos por jogo, mas se ele continuar a ser bem servido vai continuar com um bom registo de golos. (...) Não digo que ele chegue a um grande e se assuma como titularíssimo, mas acho que tem qualidade para ser uma opção válida para qualquer treinador de equipa grande." Apenas o futuro vai permitir perceber se tem razão. Cá estaremos para ver.