Portugal
Expulsão de Guedes desperta 'fantasma' de 20 anos do futebol português (Vídeo)
2017-11-20 19:00:00
Avançado do Rio Ave foi expulso na altura da substituição, tal como Rui Costa por Marc Batta em 1997, em Berlim

O duplo amarelo mostrado por Tiago Martins a Guedes, avançado do Rio Ave, na partida do último sábado frente ao SC Braga, para a Taça de Portugal, trouxe pela semelhança do sucedido de novo à memória a expulsão de Rui Costa pelo árbitro francês Marc Batta, numa partida entre Portugal e Alemanha, em Berlim, a 6 de setembro de 1997, uma das expulsões mais controversas da história do futebol (português). O então internacional português, hoje diretor do Benfica, foi expulso, tal como Guedes, quando ia ser substituído e Portugal acabou por não conseguir o apuramento para o Mundial 1998. Estava a vencer por 1-0, aos 75’, e acabou por sofrer um golo aos 80’. Em Vila do Conde, o Rio Ave segurou o triunfo e seguiu em frente na Taça de Portugal.

Dois episódios separados por vinte anos, mas com pontos de contacto. Primeiro pela situação invulgar, depois pelo tempo que Guedes e Rui Costa demoraram a sair de campo, que é quase o mesmo. Se Rui Costa saiu em passo lento mas sem interrupções, não demorando mais de 25 segundos, Guedes ainda virou as costas para agradecer o aplauso dos adeptos mas a demora não ultrapassou os 30 segundos, conforme Bancada registou. Os dois ficaram incrédulos com a decisão de Batta e Tiago Martins, respetivamente, assim como os jogadores prontos para entrar, Karamanos e Sérgio Conceição, respetivamente, que protestaram.

Mas esta não foi a primeira vez que uma expulsão como a que sucedeu com Guedes e Rui Costa aconteceu com equipas portuguesas. Outro caso, por exemplo, recentemente, ocorreu com o... SC Braga. A 18 de fevereiro de 2016, o jogo entre o Sion e o SC Braga ficou marcado pela expulsão de Vukcevic, aos 89 minutos, em partida da primeira mão dos 16 avos-de-final da Liga Europa. O médio montenegrino preparava-se para ser substituido por Ricardo Ferreira quando viu o amarelo por parte do ucraniano Ievgenii Aranovskyi quando se encaminhava em passo lento mas sem interupções para fora das quatro linhas. Os bracarenses perderam esse jogo por 2-1.

Não há qualquer lei nas regras do jogo que determine quanto tempo deve passar para um jogador que vá ser substituído sair de campo. Fica ao critério do árbitro entender quando um atleta está a queimar tempo. Rui Costa demorou cerca de 25 segundos a chegar à linha lateral, Guedes um pouco mais. Sobre a expulsão de Guedes, Abel Ferreira, treinador do SC Braga, fez, aliás, questão de considerar ter sido uma ”decisão injusta” defendendo o avançado do Rio Ave. “Um jogador não tem de sair a correr”, referiu o treinador do SC Braga.

A 6 de setembro de 1997, no dia em que o mundo se despediu da princesa Diana, jogava-se em Berlim um Alemanha-Portugal, decisivo para o apuramento para o Mundial 1998. Aliás, o início do jogo foi adiado 15 minutos, a pedido da televisão alemã, para a transmissão não chocar com o funeral de Lady Di. A Seleção Nacional precisava de um triunfo e estava a vencer por 1-0, golo de Pedro Barbosa, aos 71 minutos, quando Rui Costa foi expulso, por acumulação de amarelo, por Batta ter entendido que o médio português demorou tempo excessivo a abandonar as quatro linhas para ser substituido por Sérgio Conceição, atual treinador do FC Porto que acabou por entrar mas para sair João Vieira Pinto. Como resultado, Portugal passou a jogar com dez e consentiu o empate, por Kirsten, aos 80', que o afastou da fase final do Mundial de 1998, a última fase final de uma grande competição de seleções em que a equipa das quinas não participou. Rui Costa ficou num choro de revolta, cujas imagens correram mundo (ver vídeo embaixo).

A FPF ainda pensou em protestar o jogo, mas ficou-se pelas intenções. Batta, esse, nunca mais seria perdoado: por duas vez tentou falar com Rui Costa sem sucesso, a última não há muito tempo, quando o francês foi o observador no Benfica-PAOK. “Desculpo-o quando ele pedir desculpa aos portugueses”, disse na altura Rui Costa recordando o momento. “Foi a minha única expulsão em toda a carreira profissional de futebol”. Já Guedes foi a primeira vez que esta época foi expulso, antes tinha visto um amarelo na receção ao Vitória de Setúbal, para o campeonato, partida que os vilacondenses venceram por 2-1. A época passada, foi expulso, por acumulação de amarelo na visita ao Bonfim, jogo que o Rio Ave triunfou por 1-0, mas não na situação particular que ocorreu no último sábado.

Marc Batta desde então passou a ser uma espécie de ódio de estimação do futebol português, explicou em 2012 a decisão de expulsar Rui Costa referindo que fê-lo pela convicção que estava a tomar a decisão certa. “Se toda a gente se lembra desse jogo, claro que eu também me lembro muito bem. Sei que os portugueses ficaram muito desapontados, mas nós árbitros já sabemos que, por vezes, temos de tomar decisões importantes”, recordou. Sobre esse lance, Batta discordou que tenha sido uma das suas decisões mais complicadas: “Não sei se foi difícil, porque ainda hoje acho que tomei a decisão certa. Os árbitros têm de respeitar a lei e nós, quando tomamos decisões, estamos convencidos que são corretas. Foi uma das decisões mais importantes da minha carreira, mas não das mais difíceis", disse na altura o agora observador da UEFA com 62 anos.

Bancada entrou em contacto com o departamentro de comunicação do Rio Ave para tentar obter declarações de Guedes sobre o sucedido no jogo com o SC Braga mas à hora da publicação deste artigo não obteve qualquer resposta.