Portugal
É puto, é grande e marcou o melhor golo que já se viu por ali
2018-12-02 19:00:00
“Um miúdo bastante educado, que entrava sempre na brincadeira com os colegas”.

Norberto Bercique Gomes Betuncal. O nome não é de ficar no ouvido, por isso optou-se por um bem melhor: Beto. Só Beto. Curto e direto. Beto é, neste momento, um dos melhores marcadores do Campeonato de Portugal, ao serviço do Olímpico do Montijo. Na Série D, só um impressionante Gonçalo Gregório – já lhe apresentámos este craque – consegue fazer melhor.

Beto chegou a levar oito golos em sete jogos, um registo um pouco mais diluído nas últimas semanas. Ainda assim, são quase uma dezena de golos no competitivo terceiro escalão, algo que até espantou Filipe Silva, ex-colega de equipa, no URD Tires: “Foi uma surpresa para mim ele ter tido impacto imediato no Campeonato de Portugal, não por duvidar de que ele fosse capaz, mas por achar que seria complicado para um miúdo tão novo e acabado de lá chegar. Talvez um ano depois fosse acontecer, mas logo, assim tão rapidamente, foi uma verdadeira surpresa”, explica, ao Bancada.

Beto despertou a curiosidade e lá fomos nós tentar saber mais sobre ele. Temos histórias com danças e com o melhor golo já visto por aquelas bandas. Já lá vamos. Afinal, quem é o Beto?

A definição de uma autêntica “besta”

Filipe Silva fala-nos de um avançado com características raras. “É muito difícil conseguir encontrar um ponta-de-lança com as qualidades dele. Tem condições para ter impacto em certas equipas”, argumenta, explicando: “É muito rápido. Uma pequena distração e ele está lá. Qualquer central que adormeça fica comprometido. É muito forte na pressão defensiva e muito veloz em contra-ataque, lançado em profundidade”.

Tiago Basílio foi treinador de Beto, nos escolas e nos juvenis (bem como colega nos seniores) e explica, ao Bancada, que o jogador vale, sobretudo “pela velocidade, facilidade em criar situações de golo e na finalização com ambos os pés e com a cabeça. Tem evoluído no processo defensivo, sendo um jogador importante na primeira fase da pressão”.

Esta parece a descrição de um daqueles avançados pequenos, rápidos, “chatos” e talhados para equipas modestas que gostam de jogar em transição. Certo? Pois, mas Beto, pelo que nos dizem, tem mais.

“A altura dele também faz com que seja um perigo no jogo aéreo e uma ajuda importante a defender lances de bola parada. Evoluiu muito nesse capítulo, tanto de compromisso com a equipa como no jogo de cabeça”, explica Filipe Silva.

Beto tem nada mais nada menos do que 1,94m (!!!) e, segundo dados do Zerozero, cerca de 90 quilos. Uma autêntica “besta”, mas que junta a esse arcaboiço uma tremenda mobilidade e agilidade.

Filipe Silva e Tiago Basílio explicam-nos que a tomada de decisão e eficácia à frente da baliza podem ser melhoradas, mas o primeiro deixa um alerta: “Ele pode falhar vários lances, mas, se meterem lá outro tipo de ponta-de-lança, ele não consegue criar metade das situações de golo que o Beto é capaz de criar”.

"O golo mais bonito que eu vi, até agora, ao vivo"

Esta ascensão do rapaz de 20 anos – “um miúdo bastante educado, que entrava sempre na brincadeira com os colegas” – pode ter sido surpreendente para muita gente, menos para o próprio Beto.

“Uma das coisas que achava interessante nele era a determinação. Desde cedo dizia que iria ser profissional, que iria chegar lá. Não dizia isso no sentido de vedeta ou de convencido, mas de foco no objetivo. Obviamente que, jogando nas divisões distritais, o topo era uma miragem e brincávamos um pouco com ele, porque era algo muito difícil. Apesar disso, ele nunca desistiu e acredito que uma das forças dele seja essa tal determinação”, recorda Filipe Silva.

Beto foi formado no Tires, logo desde os infantis, e, depois de uma breve passagem pelos iniciados do Benfica, regressou ao clube do concelho de Cascais e por lá ficou até ser “caçado” pelo Olímpico do Montijo.

A temporada começou de forma incrível, com os tais oito golos em sete jogos, mas, nas últimas semanas, Beto “desceu à terra”, vivendo a inconsistência goleadora típica de um jovem avançado. Tem estado a seco – até já andou pelo banco de suplentes –, mas continua a ser uma “besta” de 1,94m, rápido, goleador, pressionante e muito jovem. É esperar para ver se o futebol vai ter o Beto de agosto e setembro ou o de outubro e novembro.

Por fim, a tal história do golo. Pedimos a Tiago Basílio uma memória de Beto. Veio isto:

“Além das danças que ele faz quando marca golos e das brincadeiras no balneário, o Beto marcou o golo mais bonito que eu vi até agora ao vivo e já passaram quase dez anos. Em Escolas A, num jogo que empatámos 6-6 com o Benfica, o Beto marca o golo do empate com um pontapé de bicicleta que entrou direto no ângulo. Tanto nós, equipa técnica, como ele próprio não soubemos festejar aquele golaço, ficando sem reação”.